REVISTA APPAI EDUCAR - EDIÇÃO 167

Ano27–167-2024-CIRCULAÇÃO DIRIGIDA – DISTRIBUIÇÃOGRATUITA Aformaçãodocentenãopodemaisserpensadasemuma abordagemintegralquecontempleelementos,quevão desdeavalorização,pasandopelatecnologia,pesquisa, práticareflexivaeumolharatentoàscompetências socioemocionais

Revista Appai Educar Conselho Editorial Julio Cesar da Costa Ednaldo Carvalho Silva Andréa Schoch Jornalista Editora Antônia Lúcia Figueiredo (M.T. RJ 22685JP) Assistente de Editorial Jéssica Almeida Designer Yasmin Gundim Revisão Sandro Gomes Professores, enviemseus projetos para a redação da Revista Appai Educar: End.: Rua Senador Dantas, 117/229 2º andar – Centro – Rio de Janeiro/RJ. CEP: 20031-911 E-mail: jornaleducar@appai.org.br redacao@appai.org.br www.appai.org.br EXPE DIEN TE

Revista Appai Educar LÍNGUA PORTUGUESA POR SANDRO GOMES* DESINTOXICANDO A LINGUAGEM Olá, pessoal! Na matéria dessa edição nós vamos falar dos vícios de linguagem, que são desvios gramaticais que ocorrempor descuido, emalguns casos, ou por desconhecimento de algumas das regras da norma culta da língua. Esses usos podem acontecer emvários níveis, como o fonético, o semântico ou o sintático. Vamos conhecer alguns deles?

Revista Appai Educar Solecismo Ocorre quando se comete algum equívoco na estrutura sintática das orações. Isso pode acontecer no que se refere a regência, concordância ou má estruturação de uma frase. Veja alguns exemplos. Fazem dois anos que me aposentei. (“Faz” seria o correto) Me devolve o telefone! (“Devolve-me” seria o correto) Pleonasmo vicioso Esse é umdos mais comuns vícios de linguagem, que consiste na repetição inadequada de uma ideia já presente na oração. Veja. Saiu fora da casa assimque pôde. A ideia de “sair” já contéma noção de “estar fora”, logo “sair fora” é uma dessas repetições desnecessárias. Ambiguidade Nesse caso ocorre uma construção frasal ambígua que prejudica o entendimento do que foi formulado. Observe. É necessário que você garanta se ela pode ir como pai. É pra “ir como pai” ou garantir com o pai se ela pode ir? Como se vê, as duas compreensões são possíveis, de forma que o enunciado foi redigido de maneira ambígua. Cacófato Outro bemconhecido, que acontece quando, ao se formular umenunciado, se produz uma sonoridade desagradável ou que prejudica a compreensão. Veja os exemplos. Deus sabe como eu amo ela. Esse time nunca ganha. Barbarismo Nesse caso, os equívocos podem ser de ordem fonética, sintática oumorfológica. Acompanhe. Cacografia: “geito” em vez de jeito. Silabada: “gratuíto” em vez de gratuito. Cacoépia: “pobrema” em vez de problema. Plebeísmo Consiste no uso de termos coloquiais ou de palavras ou expressões informais. Exemplo. Bora tomar uma? O cabra não teve medo.

Revista Appai Educar *Sandro Gomes é graduado em Língua Portuguesa, Literaturas brasileira, portuguesa e africana de língua portuguesa, redator e revisor da Revista Appai Educar, escritor e Mestre emLiteratura Brasileira pela Uerj. Hiato Esse nome é tambémusado pra identificar umvício de linguagemque consiste no uso de uma sequência de vogais que acaba soando demaneira desagradável. Observe. Ou eu ou o outro. Aí eu a amei. Gerundismo Esse certamente é umdos mais comuns, por se tratar de uma questão bematual. Ocorre quando o gerúndio é empregado em lugar de uma forma verbal que seriamais adequada. Observe o exemplo. Vou estar te ligando assim que tiver notícia. (inadequado) Ligarei pra você assim que tiver notícia. (recomendado) Amigos, sobre vícios de linguagemé isso. Vimos alguns casos que são empregados no dia a dia, apesar de nem todos constituíremum “erro”. Vale a pena conhecer a fundo essa questão pra poder demonstrar bemo quanto você é craque no nosso idioma. Até a próxima, pessoal!

Revista Appai Educar NO ATO DE BRINCAR, ENCONTRA-SE UM DOS MOMENTOS MAIS FAVORÁVEIS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS OPINIÃO POR ALINE NEGRI* O brincar tem um papel fundamental no desenvolvimento afetivo, cognitivo, motor e social da criança, portanto é necessário refletir sobre sua relação com a aprendizagem. Logo, o professor poderá utilizar o brincar, a ludicidade, como recurso didático para a construção do conhecimento dos conteúdos escolares da Educação Infantil, possibilitando às crianças vivenciarem tais conteúdos, construindo-os de forma prazerosa e significativa. Nesta proposta, os pequenos são constantemente desafiados, instigados a aprender e a construir a sua própria aprendizagem. Serão apresentadas brincadeiras que irão contribuir para o desenvolvimento dos conteúdos escolares, onde a criança é protagonista de sua aprendizagem.

Revista Appai Educar Brincadeiras Artes Visuais Estourando balões Objetivo: - Localizar e identificar as cores. Conteúdo: - Cores. Desenvolvimento: O professor irá colocar uma música para as crianças dançarem e brincarem com os balões coloridos. Quando a música parar, o docente irá falar uma cor e as crianças irão estourar os balões desta cor. Assim seguem várias rodadas e, em cada uma delas, será falada uma cor, até que todos os balões sejam estourados. Linguagem Oral e Escrita Letra inicial do nome próprio Objetivos: - Identificar a letra inicial do nome próprio. - Identificar as letras do alfabeto.

Revista Appai Educar Conteúdos: - Alfabeto. - Letra inicial do nome próprio. Desenvolvimento: As crianças estarão sentadas em roda. O educador irá falar ou mostrar uma letra em EVA, plástico ou papel para os alunos. A criança cujo nome iniciar com a letra falada ou mostrada pelo professor deverá produzir um som, por exemplo: bater palmas, bater os pés no chão, apitar etc. Variações: Utilizar outros recursos, como balançar balão ou pompom (feito com papel crepom), soprar língua de sogra, instrumentos musicais. Movimento Pega-pega com balão Objetivo: - Desenvolver a agilidade, coordenação motora ampla. Conteúdos: - Agilidade. - Coordenação motora ampla. Desenvolvimento: O professor irá colocar uma música para as crianças dançarem. Apenas uma delas, que será o pegador, ficará com um balão. Quando a música parar, o pegador deverá encostar o balão em uma criança e esta será a próxima a ser o pegador. Assim segue a brincadeira, em cada rodada trocando o pegador. As crianças deverão fugir do balão. Variação: Fazer o pega-pega com fantoche.

Revista Appai Educar Música Batata quente musical Objetivos: - Aumentar o repertório musical. - Continuar a cantar a música. - Desenvolver a memória musical e discriminação auditiva. Conteúdos: - Discriminação auditiva. - Memória musical. - Repertório musical. Desenvolvimento: A brincadeira é semelhante à batata quente tradicional. As crianças deverão sentar em roda. O professor irá colocar uma canção e passar uma bola por todas elas, que deverão cantar a música. Quando esta parar, quem estiver com a bola deverá continuar cantando. E assim a brincadeira segue. *Aline Negri é formada em Pedagogia, especialista em Educação Infantil, foi coordenadora pedagógica nas redes pública e privada. Autora dos livros “Vamos brincar? 150 propostas para desenvolver na Educação Infantil” e “200 brincadeiras para pais e filhos – Brincando e aprendendo juntos”. Natureza e Sociedade Dança da cadeira com as partes do corpo Objetivo: - Identificar as partes do corpo. Conteúdo: - Partes do corpo. Desenvolvimento: A brincadeira é semelhante à dança da cadeira. O professor colocará as cadeiras em linha reta ou em roda, sendo uma para cada criança. Uma música será colocada para elas dançarem em volta das cadeiras. Quando a música parar, o professor falará uma parte do corpo que deverá ser colocada em cima da cadeira, por exemplo: pé, mão, cabeça, bumbum, cotovelo, joelho etc. Em cada rodada, uma cadeira será retirada, mas as crianças continuam, incentivando assim a cooperação na brincadeira.

Revista Appai Educar SESSÃO DAS QUINZE Sucesso desde 2014, projeto homenageia uma grande artista e desperta nos alunos uma paixão por múltiplas artes INTERDISCIPLINARIDADE POR JÉSSICA ALMEIDA

Revista Appai Educar Conhecido na Revista Appai Educar e sucesso no Colégio Estadual Padre Anchieta desde 2014, o projeto Sessão das Quinze homenageia um grande nome por edição e tem como objetivo despertar nos alunos uma paixão pela arte. Além disso, reconhecer o valor e a importância do artista escolhido, a sua história de vida e superação de limites, assim como estimular a reflexão e o entendimento da sua obra.

Revista Appai Educar Desde 2014, quando assumiu a direção da escola, o diretor Renan de Oliveira Costa entendeu que a estratégia didática que mais atrai os jovens é a metodologia de projetos de pesquisa. O eixo temático vida e obra de nossos artistas, especialmente da música, mostrou-se dos mais empolgantes entre os professores e discentes. A partir daí, o colégio lançou-se ao propósito de investir em atividades sobre compositores consagrados da música popular brasileira e ousar a apresentação aberta a todos os alunos e convidados da comunidade. O primeiro passo foi dado com a realização do projeto O Cepa canta Gonzaguinha, com a presença do filho do cantor, Daniel Gonzaga, e de familiares de Luiz Gonzaga. Em 2018, já como Sessão das Quinze, a vida e a obra de Belchior foram contadas e cantadas pela voz de Daíra, artista que tem um disco em homenagem ao cantor. No ano seguinte, a carreira artística homenageada foi a de Joanna, que esteve presente para prestigiar. Em 2021, de forma remota, a obra do sanfoneiro Dominguinhos foi trabalhada, e a culminância contou com a participação de Liv Moraes, filha do cantor. Em 2022, receberam Marcelo Jeneci para prestigiar a homenagem dos estudantes mediados pelos professores.

Revista Appai Educar Em 2023, o colégio recebeu a cantora, compositora, musicista, ex-participante do The Voice +, Ceiça Moreno, que conversou com os diferentes ritmos brasileiros como baião, coco, ciranda, toadas, quadrilhas e xotes. A realização do projeto se deu desde o convite à equipe docente e às turmas, seguindo com pesquisa biográfica da artista, seleção das canções, interpretação das letras e apresentação das melodias, entrevistas e depoimentos, até a exibição das músicas, danças, declamação de poesias, desenhos ilustrativos, literatura de cordel, tudo inspirado na obra da compositora, ensaio das apresentações e, por fim, a culminância.

Revista Appai Educar A abertura da Sessão das Quinze ocorreu com a homenagem da pintura da capa do disco “Meu Luar”, feita por Klebert no corredor da escola. Os estudantes da turma 901 e dos 3 anos do terceiro turno receberam Ceiça com o forró “Uma Maria”, coco de roda lavadeira, e, num coral, cantaram a toada “Meu luar e colibri”, música do 1º disco. As apresentações tiveram a mediação da professora de Língua Portuguesa Neia Albino. A culminância também contou com interpretações de poemas, quadros com desenhos ilustrativos inspirados nas músicas de Ceiça Moreno e apresentação do grupo de dança do professor Wallan, o “Dançarte”. Além de outras atividades e homenagens, houve uma declamação de cordel inspirado na carreira da artista e a apresentação de dança “Ciranda do asfalto”, outro tema autoral. No final, Ceiça, com a sua sanfona, cantou seis músicas com um coro emocionante da plateia.

Revista Appai Educar A artista contou que nunca chorou tanto em sua vida. “Fiquei me perguntando se eu era merecedora, mas devo ser. Ver aqueles alunos jovens, criativos e felizes cantando todas as minhas músicas foi emocionante demais para mim! Quero agradecer, de todo o meu coração, ao professor e diretor da escola, Renan Oliveira, pelo convite e por tanto carinho. Muito obrigada também a cada um que esteve envolvido de alguma forma nessa homenagem. É isso que a gente leva da vida: o amor!”, elogia a homenageada. O diretor Renan Oliveira ressaltou que estava muito orgulhoso da comunidade escolar. “Pela força, coragem, por abraçar os projetos da escola e realizar com tanto amor e dedicação. Isso nos mostra que é possível uma educação pública de qualidade. O Sessão das Quinze deixou claro que os sonhos não envelhecem, como diz a nossa homenageada. Atingimos o nosso objetivo numa tarde memorável aos corações dos presentes. Parabéns a todos os envolvidos!”, finaliza. ColégioEstadualPadreAnchieta(Cepa) Avenida 31 de março, praça 1 – Parque Paulista – Duque de Caxias/RJ CEP: 25261-000 Tel.: (21) 3666-1278 Fotos cedidas pela escola LEIA TAMBÉM: • SessãodasQuinze: Joanna – amúsica como instrumento de pesquisa. • Sessão das Quinze: Belchior – despertando criatividade e senso crítico dos alunos. • Sessão das Quinze: Marcelo Jeneci – poesias, músicas e belas interpretações.

Revista Appai Educar EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO SÃO PILARES NO COMBATE À DENGUE EDUCAÇÃO E SAÚDE POR ANTÔNIA FIGUEIREDO

Revista Appai Educar Projeto escolar mobiliza alunos e comunidade contra o mosquito Nas Américas, o Aedes aegypti, mosquito vetor da dengue, está amplamente distribuído por todo o território. E no Brasil, há anos, vem se travando uma luta acirrada contra a proliferação do transmissor da doença. Essa batalha passa por todos, família, escola e poder público, uma vez que, por ser um inseto doméstico (que vive dentro e perto das casas), a sua reprodução torna-se possível em qualquer recipiente artificial ou natural que contenha água parada. Ciente da importância de formar multiplicadores na adesão à prevenção e combate dos focos do Aedes aegypti, e envolver a comunidade do entorno da escola, a equipe pedagógica da Estadual Municipalizada Mentor Couto, localizada em São Gonçalo, desenvolveu o projeto Nossa escola contra a dengue. De acordo com Vanessa Vianna Santos, diretora da unidade, o objetivo principal foi levar alunos, famílias e escola a refletirem sobre as necessidades das medidas preventivas contra a proliferação do mosquito da dengue para o bem-estar social, valorizando a saúde e os meios de conservá-la.

Revista Appai Educar “Este projeto surgiu da necessidade de mobilizar a comunidade para a prevenção e combate à dengue. É preciso sensibilizar os alunos e os demais atores envolvidos para que se mantenham alerta sobre os cuidados que devem ter para evitar o crescimento de focos do mosquito. Auxiliando para a melhoria da comunidade escolar”, esclarece Vanessa, que foi a idealizadora do projeto. Ações educativas Materializado de forma interdisciplinar entre as turmas do 4º e 5º ano, tendo como base de conteúdo as disciplinas de Ciências, Língua Portuguesa e Artes, o projeto foi desenvolvido emvárias etapas. Inicialmente, os alunos realizarampesquisas, a fimde expandir seus conhecimentos e embasar suas futuras produções, que foram desde cartazes, passando pela confecção demosquitos de garrafas pet até criadouros. Tudo isso, de acordo com as docentes envolvidas no projeto, a fimde ilustrar e dar suporte visual às palestras que alguns estudantes apresentariam para os demais colegas da unidade escolar.

Revista Appai Educar Na etapa seguinte, os alunos saíram às ruas distribuindo os panfletos, criados por eles, nas casas e comércios da região, explicando as formas de combate ao mosquito, os sintomas mais comuns, seu hábitat, ciclos de vida, hábitos e as maneiras de ser eliminado. Toda a visitação nas redondezas foi acompanhada de professores e da direção da escola. Durante a panfletagem, os estudantes também realizaram o recolhimento de garrafas pet de locais que poderiam ser possíveis criadouros. “Esses objetos serão futuramente utilizados para fazer uma horta”, ressalta a diretora. Após a fase de conscientização dentro e fora dos muros escolares, chegou o grande momento de repassar todo o conhecimento adquirido no decorrer da realização do projeto para as turmas do 1º e 3º anos, que fazem parte de uma faixa etária abaixo daquela dos envolvidos diretamente na atividade. Os alunos do 4º e 5º anos palestraram para as turmas menores, explicando toda a evolução do mosquito, usando o próprio material que eles pesquisaram e produziram. “No dia da culminância, tivemos a honra de receber a subsecretária de educação do município, bem como uma equipe de reportagem para fazer a cobertura”, destaca a diretora Vanessa Santos.

Revista Appai Educar Juntos somos mais fortes Ao longo desta iniciativa, foram promovidas ações educativas, campanhas de conscientização e intervenções práticas que despertaram o desejo de disseminar cada vez mais a informação e reunir mais voluntários para estarem juntos nessa luta preventiva. “Além de fiscalizar se está tudo correto em casa em relação à prevenção à doença, irei panfletar para os vizinhos acompanhada da minha mãe”, enfatiza a aluna Suzan, da turma 502, reafirmando sua experiência. Já as professoras Patrícia Paula e Elisângela Agostinho acreditam que esse trabalho não pode parar apenas nessa ação. Segundo elas, o projeto Nossa escola contra a dengue proporcionou conhecimento que contribuiu para a sensibilização dos estudantes e da comunidade na qual estão inseridos sobre como deve ser feito o combate contra a proliferação do mosquito evitando assim as doenças transmitidas por ele. “Dessa forma os alunos estão se tornando os disseminadores de conhecimento, e isso deveria acontecer em outros espaços públicos”, sugerem as docentes.

Revista Appai Educar Culminância Como todo evento, é um dos momentos mais esperados, o ápice de todo um trabalho. Cercado de pais, alunos, familiares e amigos da escola, o coroamento do projeto contou com a presença de pessoas ilustres ligadas à saúde e à educação do município de São Gonçalo, conforme destaca a diretora. “No dia da culminância, recebemos os agentes de saúde do IEC – Instituição de Educação e Comunicação de São Gonçalo, que complementaram o nosso trabalho trazendo informações importantes através das palestras e dos vídeos reproduzidos”, pontuou Vanessa. Ao falar sobre os resultados alcançados, a comunidade escolar foi unânime em reconhecer que o projeto de prevenção da dengue destacou-se pela sua relevância em um momento crucial para a saúde pública. A participação ativa da comunidade, aliada ao empenho de alunos e professores, foi fundamental para o sucesso das estratégias implementadas. “Pois, mais que gerar conhecimento, tudo o que foi realizado também contribuiu para aumentar a compreensão da população sobre a importância de práticas preventivas contínuas, como identificar o mosquito transmissor do Aedes Aegypti, sensibilizar amigos e vizinhos sobre a contribuição de cada um na prevenção da dengue, fortalecer e expandir a coleta seletiva do lixo, eliminar possíveis criadouros e ampliar as informações sobre a dengue, febre chikungunya e zika vírus”, conclui a diretora Vanessa. De acordo com todos os envolvidos no projeto, com o encerramento deste ciclo de atividades, fica o compromisso de manter o combate à dengue como uma prioridade constante. A conscientização gerada e as práticas preventivas adotadas devem ser mantidas e ampliadas, garantindo a proteção da saúde pública a curto, médio e longo prazo. Escola Estadual Municipalizada Mentor Couto Rua Damas Ortiz, s/nº – Jardim Califórnia – São Gonçalo/RJ Tels.: (21) 97348-3013 / 98029-8276 Diretora-geral: Vanessa Vianna Santos E-mail: vanessanestado@gmail.com

Revista Appai Educar INOVAÇÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO SÉCULO XXI MATÉRIA DE CAPA POR ANTÔNIA FIGUEIREDO

Revista Appai Educar A formação docente não pode mais ser pensada sem uma abordagem integral que contemple elementos, que vão desde a valorização, passando pela tecnologia, pesquisa, prática reflexiva e um olhar atento às competências socioemocionais Inovação é uma das palavras mais faladas e/ou ouvidas em todos os contextos e cenários, sobretudo no século XXI. Soma-se ao seu valor semântico a sua grande representatividade atualmente, em que a cultura de fazer algo acontecer em prol de ummelhor resultado é parte do ritual da evolução humana. E na educação não seria diferente! Mas, como na vida real, essa tecnologia educacional está transformando a formação de professores e quais são os benefícios mais notáveis até agora? Para responder essa e outras questões convidamos um time de especialistas que irão colaborar com seus conhecimentos, a fim de adentrarmos nesse tema cada vez mais discutido por todos, e em todos os lugares, devido ao amplo acesso à informação proporcionado pela internet.

Revista Appai Educar Tecnologia, formação e benefícios Quem abre esse painel é o Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense Wendel Freire, que também é consultor emGestão do Conhecimento, em Comunicação Empresarial e em Educação e Tecnologia. “Não avançamos tanto quanto deveríamos”, afirma. Segundo ele, há emmuitas licenciaturas disciplinas que se dedicam a apresentar diversas tecnologias, sobretudo as digitais, em situações de ensino-aprendizagem. Mas o ementário de muitas outras ignora esse aspecto da formação, ficando dependente de um docente que tenha sensibilidade e insira a questão em sua disciplina. “Em instituições que pensam as tecnologias educacionais juntamente com as metodologias de ensino, podem ser encontradas experiências e práticas que investem de modo efetivo na produção acadêmica em sala de aula, na autonomia do aluno, na capacidade de resolução de problemas e na interpretação ativa do mundo. Estes são elementos característicos de uma compreensão das tecnologias como parte indissociável do cotidiano escolar”, pontua o Doutor em Educação.

Revista Appai Educar Na opinião do professor André Codea, a formação docente contemporânea é inseparável das tecnologias educacionais, cuja influência revolucionou tanto os conteúdos quanto as metodologias de ensino. “A internet e os recursos digitais, impulsionados pela pandemia da Covid-19, romperam barreiras geográficas e temporais, permitindo que professores acessem cursos, workshops e webinars de qualquer lugar e a qualquer momento. A personalização do conteúdo, facilitada por ferramentas de aprendizagem adaptativa, também se destaca, garantindo que os professores desenvolvam competências no seu próprio ritmo e de acordo com seus interesses”, frisa Codea. Além disso, diz o professor, tecnologias emergentes como simuladores e ambientes de realidade virtual e aumentada estão começando a impactar a educação brasileira, oferecendo aos docentes a oportunidade de experimentar cenários controlados de sala de aula antes de enfrentarem situações reais. “Isso pode reduzir a ansiedade e melhorar a tomada de decisões. Sem falar que as tecnologias também fomentam a criação de redes globais de apoio entre professores, permitindo a troca de experiências e boas práticas em um ambiente sem fronteiras, ampliando o repertório pedagógico e o senso de pertencimento a uma comunidade global de educadores”, exalta.

Revista Appai Educar Ferramentas digitais e o professor do século XXI Entre os muitos pontos sensíveis quando o assunto é inovação, um deles diz respeito ao uso das ferramentas digitais, essenciais para os professores do século XXI, e como elas podem ser integradas efetivamente no currículo de formação. Sobre isso, Codea revela ser importante ressaltar que a prática docente cada vez mais depende das ferramentas digitais. “Neste sentido, não há como pensar em aulas on-line sem plataformas de gestão de aprendizagem como o Moodle, o Google Classroom, o Zoom e outras tantas. Cada uma delas tem seus prós e contras, e é mais adequada a determinado contexto. Omesmo acontece com as ferramentas colaborativas, como o Google Drive e o Microsoft Teams, que podem fomentar a troca de materiais e a aprendizagem colaborativa entre professores e alunos”, conclui.

Revista Appai Educar Porém, segundo André Codea, uma das mais importantes ferramentas digitais são as de avaliação, que são capazes de criar abordagens dinâmicas e interativas, ajudando a manter os alunos engajados enquanto coletam dados sobre o desempenho dos estudantes em tempo real. “Neste sentido, o muito popular Kahoot e o não tão conhecido Socrative são os mais utilizados pelos professores”, sugere, enfatizando que uma abordagem teórico-prática é sempre mais adequada em termos de formação de docentes e pode incluir atividades que envolvam a criação e o gerenciamento de alunos nessas plataformas, além da simulação de avaliações on-line e da participação em projetos colaborativos entre os próprios formandos por meio das ferramentas digitais. Ao avaliar a temática, Wendel relata que, em publicação recente, o professor Ethan Mollick, da Universidade de Wharton, anunciou que vivemos o “apocalipse do dever de casa” com a chegada de inteligências artificiais generativas. “Nesse aspecto, vejo mais uma oportunidade de termos uma educação que valoriza o aprender fazendo, que não seja tão transmissiva, que não tenha no dever de casa o momento mais frequente de produção acadêmica. John Dewey, Paulo Freire, Anísio Teixeira e outros grandes pensadores já apontaram o caminho”. Diante de algo tão disruptivo como as inteligências artificiais generativas, temos o clima propício para pensar em usos pedagógicos que ampliem a capacidade de docentes e discentes elaborarem conhecimento. “Entendo que as inteligências artificiais disponíveis são, hoje, as principais interfaces para repensar práticas pedagógicas”, opina.

Revista Appai Educar Ainda de acordo comWendel, inteligências artificiais generativas podem ser inseridas no cotidiano escolar para que se compreenda como fazer perguntas e, portanto, se alimente a curiosidade como chave para a construção do conhecimento. “Podem ser trabalhadas como assistentes nas tarefas que exijam cruzamento de dados, em diálogos nos quais a interface adquira diferentes papéis solicitados, em comparações entre diferentes textos ou em traduções e revisões. As possibilidades são inúmeras”, destaca Wendel. Por outro lado, Freire constata que práticas emancipatórias devem levar em conta não apenas dispositivos recentes e digitais. “Ao processo de ensino-aprendizagem é fundamental o diálogo com tecnologias analógicas combinadas com as digitais. E todas elas devem passar por um olhar crítico que não apenas permita a utilização para ensinar conteúdos factuais, mas que também favoreça a expressão e a produção intelectual. Sem esquecer ainda de abordar essas mesmas tecnologias como objetos de estudo”, complementa.

Revista Appai Educar Formação baseada em competências Quando se fala em ensino baseado em competências, essa metodologia prioriza a aplicação prática do conhecimento e a capacidade dos alunos de demonstrar habilidades específicas de forma eficaz. Essa abordagem permite que os alunos avancem em seu próprio ritmo, à medida que demonstram a compreensão e a capacidade em áreas-chave, tornando o aprendizado mais personalizado e relevante para suas necessidades e objetivos. O foco está em resultados claros e mensuráveis, assegurando que todos os alunos adquiram as competências essenciais necessárias para sua educação ou carreira futura. Para André Codea, a formação baseada em competências é talvez a melhor abordagem atual, por ser mais prática e direcionada para a preparação o mais real possível do docente. “Mas, principalmente, sua relevância se revela ao focar no desenvolvimento de habilidades reais de que os professores precisam para enfrentar os crescentes desafios da sala de aula. Ao focar nas competências e habilidades como principal abordagem do aprendizado, proporciona-se o conhecimento acadêmico aliado à capacidade de aplicá-lo efetivamente na sala de aula”, contextualiza.

Revista Appai Educar Continua afirmando que tal abordagem permite o enfrentamento de desafios, como a diversidade cultural e social, a inclusão de alunos com necessidades especiais e altas habilidades, e o uso efetivo de tecnologia em sala de aula, de acordo com as condições contextuais, o que possibilita que os professores lidemmelhor com situações inesperadas e dinâmicas. “Por isso, são vitais na formação docente abordagens como as metodologias ativas, a gestão de sala de aula e a adaptação de conteúdo para diferentes contextos de aprendizagem, além do foco na resolução de problemas e na tomada de decisão prática”, completa Codea. Comoos programasde formaçãoestãoabordando essasnecessidades “Em ummundo cada vez mais conectado, que exige cada vez mais competências em ferramentas tecnológicas e metodologias digitais, destacam-se a alfabetização digital, as competências socioemocionais e a capacidade de flexibilização pedagógica. Como costumo dizer em minhas palestras e cursos, é extremamente necessário que o professor construa uma caixa de ferramentas que contenha uma diversidade de metodologias e abordagens, que possam efetivamente facilitar o seu trabalho nos contextos de diversidade e inclusão cada vez mais presentes na sala de aula”, afirma Codea.

Revista Appai Educar Outra tônica abordada por André Codea recai sobre competências socioemocionais que também constituem um aspecto crucial na formação docente, pois, na sua visão, a falta delas pode tornar extremamente difícil a gestão da sala de aula. “Programas de formação docente que não incluemmódulos de inteligência emocional, desenvolvimento de resiliência, técnicas de autocuidado e práticas reflexivas estão fora de sintonia com as necessidades atuais das salas de aula. Além disso, ummódulo que contemple as variadas metodologias ativas de aprendizagem, na forma de workshops, pode viabilizar mais estratégias de ensino-aprendizagem à caixa de ferramentas do professor”.

Revista Appai Educar Aprendizagem colaborativa Aprender colaborativamente é uma prática poderosa que permite não apenas o compartilhamento de experiências, estratégias e recursos, mas também a compensação de fraquezas e dificuldades individuais. Quando os alunos trabalham em pares ou grupos, as fraquezas são compensadas e surgem oportunidades para inovação, graças às diferentes perspectivas trazidas para a solução de problemas. Isso resulta no desenvolvimento de práticas mais eficazes e adaptáveis às necessidades de todos. “Para mim, essa abordagem é revolucionária, especialmente com o apoio das tecnologias digitais. Ferramentas como Microsoft Teams e Slack, apesar de ainda terem espaço para melhorias (como a necessidade de seremmais intuitivas), criam redes de apoio que permitem a troca de recursos e a discussão de desafios em tempo real. Vejo isso como um grande benefício para a educação, pois professores mais experientes podem orientar os novos, e seminários, congressos e encontros institucionais ajudam a manter um fluxo contínuo de conhecimento e inovação”, afiança Codea.

Revista Appai Educar Educação socioemocional na formação de professores Na opinião da consultora educacional, filósofa, escritora e palestrante Paty Fonte, aprimorar o relacionamento interpessoal e desenvolver habilidades como autoconhecimento, empatia, resolução de problemas, resiliência, faz com que os professores estabeleçam relações mais profundas com os alunos; planejem e gerenciem suas aulas de forma mais eficaz; sejam exemplos positivos aos estudantes; elevem a sua autoestima e melhorem o próprio bem-estar. Ainda segundo Paty, apesar de muito se falar a respeito, ainda não há uma real integração do tema nos programas de desenvolvimento profissional. “Não há como ensinar o socioemocional, mas sim vivenciar experiências e provocar reflexões para saber como desenvolver, como potencializar as diversas habilidades socioemocionais. E para realizar isso nos alunos, primeiro é essencial que os professores façam com eles mesmos, que haja espaço e tempo disponíveis às suas experiências e vivências. Sabemos que efetivamente não há. Em grande parte das escolas falta tempo até para planejamento de aulas, sequências de atividades e projetos”, pontua.

Revista Appai Educar E a autora Paty Fonte continua evidenciando sua visão, afirmando que a consequência mais grave é que, mesmo sem formação, planejamento ou vivências, as habilidades socioemocionais se manifestam em todos os contextos da vida, especialmente na escola, um ambiente tão diverso. “Querendo ou não, essas habilidades são desenvolvidas e potencializadas, pois estão intrinsecamente ligadas ao relacionamento. A questão é: estamos permitindo que aconteça de forma positiva? Infelizmente, na maioria das vezes, ocorre o oposto. Sem a devida formação, no ritmo mecânico do cotidiano escolar, muitas habilidades acabam sendo moldadas por medo, vergonha, egoísmo e culpa, e surgem dificuldades em buscar novas soluções para os problemas. Vejo muita repetição e pouca autoria. Muito foco no erro e pouco estímulo para aprender com ele. Muita cópia e escassa criatividade. Muita competição e pouca cooperação”, sentencia Paty Fonte, concluindo: “Sem a formação, na mecânica do cotidiano escolar, quantas habilidades são desenvolvidas gerando medo, vergonha, egoísmo, culpa, dificuldade em buscar novas resoluções para os problemas?!

Revista Appai Educar Prática reflexiva e pesquisa educacional como incentivos na formação de professores Segundo André Codea, a prática reflexiva e a pesquisa educacional são fundamentais na formação de professores, pois permitem que eles identifiquem áreas de melhoria e ajustem suas abordagens pedagógicas para enfrentar problemas recorrentes em sala de aula. Refletir sobre a prática é essencial para evitar a estagnação em métodos que não funcionam, e deve ser incentivado por meio de ferramentas como diários de bordo, autoavaliações e discussões em grupo. “Esse processo metacognitivo ajuda os educadores a desenvolver soluções inovadoras e eficazes”, atesta.

Revista Appai Educar Na sua visão, se queremos que nossos alunos sejam curiosos e desenvolvam habilidades de pesquisa, é igualmente importante incentivar essa prática na formação docente. “Estratégias como a pesquisa-ação, que já são comuns na pesquisa científica, podem ser aplicadas em sala de aula para coletar dados e tomar decisões informadas. Para mim, isso representa a prática baseada em evidências, onde o processo de pesquisa-ação revela informações que, de outra forma, poderiam passar despercebidas, contribuindo assim para a melhoria contínua da prática pedagógica”, revela Codea.

Revista Appai Educar As metodologias de formação continuada estão capacitando satisfatoriamente os professores frente aos desafios do ensino no século XXI? Ao responder essa questão o professor André Codea é frontal ao afirmar que ainda há muito a se fazer em termos de formação de professores, notadamente no Brasil. “Embora existam plataformas de formação continuada de sucesso, como a ofertada pela Appai, na qual eu contribuo com vários cursos, em termos nacionais ainda há muito a se fazer, notadamente nos sistemas de ensino que pretendemmelhorar as práticas docentes e a aprendizagem em si”, assegura.

Revista Appai Educar Isso porque, segundo Codea, não há como conceber mais este tipo de ensino continuado sem a integração com a tecnologia, sem a flexibilidade adaptativa para os vários contextos de salas de aula e sem a promoção da prática reflexiva, sob pena de não ajudarem os professores a enfrentarem os desafios contemporâneos. “Ainda há muitos docentes que relatam uma desconexão entre a teoria aprendida emmuitos cursos de formação, tanto a básica quanto a continuada, e a situação real em sala de aula”. “Pessoalmente entendo que, para superar tais desafios, os programas de formação continuada precisam ser mais contextuais e personalizados, de modo a adaptar o aprendizado às realidades específicas dos professores em sala de aula. Isso precisa ocorrer de forma contínua e colaborativa, com troca de experiências, reflexão sobre os resultados e o necessário ajuste das práticas docentes. Assim ocorrendo, estaremos mais próximos de garantir que os professores estejam verdadeiramente preparados para educar de acordo com as necessidades impostas pelo nosso tempo”, sugestiona o professor.

Revista Appai Educar Fica claro que, enquanto avançamos no século XXI, a educação deve continuar a evoluir, integrando inovações tecnológicas e abordagens pedagógicas baseadas em competências e reflexões contínuas. Embora muitos desafios ainda persistam, a adaptação das práticas educacionais às necessidades contemporâneas é vital para formar professores que estejam não apenas preparados para o presente, mas também capacitados para moldar o futuro. A formação docente não pode mais ser pensada sem uma abordagem integral que contemple todos esses elementos, que vão desde o material humano valorizado em sua essência, passando pela tecnologia, pesquisa, prática reflexiva e um olhar atento às competências socioemocionais, a fim de garantir que a educação se mantenha relevante, constante, eficaz e imprescindível em ummundo em constante transformação. Wendel Freire é Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Consultor em Gestão do Conhecimento, em Comunicação Empresarial e em Educação e Tecnologia. Autor dos livros “Educação Midiática – Para uma democracia digital” e “Tecnologia e Educação – As mídias na prática docente”. Ambos pela WAK Editora. André Codea é líder carioca, docente da rede pública municipal do Rio de Janeiro e professor universitário. Autor dos livros “Neurodidática: fundamentos e princípios”, “Neurociência pedagógica: ciência do cérebro aplicada à aprendizagem escolar” e “Metodologias ativas de aprendizagem: neurodidática e o chão da escola” (no prelo). Paty Fonte é consultora educacional, filósofa, escritora e palestrante. Autora de diversos livros, dentre eles: “Competências socioemocionais na escola” e “Práticas socioemocionais para dinamizar o ambiente escolar”, ambos publicados pela WAK Editora.

Revista Appai Educar REVIVENDO FREINET NA FORMAÇÃO DOCENTE Educadora revitaliza método para aprimorar a capacitação de futuros professores PRÁTICAS PEDAGÓGICAS POR CLAÚDIA SANCHES

Revista Appai Educar Todos os anos a professora Verônica Carreiro, que leciona disciplinas pedagógicas no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, realiza o projeto Livro da vida, com as turmas do segundo ano do Curso Normal. Com quatro décadas de docência, Verônica explica que o “livro da vida” – técnica de ensino criada pelo pedagogo Célestin Freinet no século XIX – é contextualizado e atual. Segundo a idealizadora do projeto, o educador francês acreditava em um sistema democrático de educação, cujo objetivo era desenvolver uma escola popular. Para ele, as instituições tradicionais eram contrárias à descoberta e ao prazer da criança enquanto ser único e curioso.

Revista Appai Educar O trabalho é proposto às turmas do Curso Normal todos os anos desde 2005. A iniciativa surgiu com o objetivo de mostrar como os futuros docentes podem executar a proposta pedagógica juntamente aos alunos. O projeto visa desenvolver competências e habilidades necessárias para aplicar a teoria quando estiverem atuando como docentes. O resultado principal esperado é que o estudante “aprenda fazendo” registros de vivências. De acordo com a docente, a proposta é lançada no início dos anos letivos e cada integrante das turmas envolvidas fica encarregado de escrever o que acontece durante as aulas, numa espécie de relatório, registro de suas impressões, em formato de um portfólio. A organização da escolha dos alunos escribas se dá por ordem alfabética. A ideia é que o produto final possa ser bonito. Durante o processo, os estudantes são incentivados a ilustrar o “livro da vida” com desenhos, recortes, pinturas, letras de músicas, poesias de suas autorias, caricatura, entre outras formas de expressão. “Faço uma correção dos textos, pego um caderno de meia pauta e peço para passarem a limpo. Eles escolhem o material que vão ilustrar e inclusive confeccionam a capa”, explica.

Revista Appai Educar A equipe pedagógica também favorece o projeto. Ana Paula Barbalho, que também leciona disciplinas pedagógicas no instituto, teve oportunidade de conhecer o projeto como pedagoga e mãe, e acredita que o trabalho tem tido bons rendimentos. “A atividade pedagógica proposta pela Verônica há anos nas suas turmas do Curso Normal é de um valor inestimável! Neste livro os alunos constroem, de forma prazerosa, a identidade individual e de grupo, fundamental para o desenvolvimento infantil. Os registros gradativos das tarefas diversificadas permitem aos pais e alunos perceberem sua evolução nos aspectos cognitivos, psicomotores, afetivos e sociais, além de ser inclusivo. Tive a oportunidade de receber o ‘livro da vida’ da minha filha para acompanhar. Vi toda a evolução dela e dos amigos da turma”, relata Ana Paula, emocionada. A professora Verônica considera que as atividades em conjunto preparammelhor as novas gerações para os desafios de sala de aula: “Seria fácil se eu simplesmente explicasse o que era o ‘livro da vida’, mas eu quero mostrar como eles poderiam aplicar nas salas de aula. Nossos alunos vão trabalhar com a Educação Infantil e séries iniciais, e acho fundamental apresentar como essa teoria é aplicada e para quê. Os relatos diários estimulam a liberdade de escrever e de se expressar. Os estudantes se sentem protagonistas do processo de construção de nosso livro”.

Revista Appai Educar Experiência única Foi uma experiência que marcou a vida de muitos estudantes como da ex-aluna do instituto, Clara Gomes. Ela participou da confecção da primeira edição no ano de 2005. “Pra mim foi muito gratificante, porque a turma toda abraçou essa causa e, como eu tenho um exemplar dele, ficou até como uma recordação maravilhosa. Quando eu sinto saudade, vou lá e leio o que cada um escreveu. É muito bom quando um professor aplica algo tão significativo. Agradeço à Verônica por sempre buscar meios de nos unir e de nos fazer descobrir a visão do outro”. No final do ano as turmas fazem o lançamento do livro e todos os alunos querem participar. Não há avaliação, mas uma confraternização com convite formal aos familiares e comunidade escolar. O livro, que era sorteado pelas redes sociais, agora é entregue, também por sorteio, a um aluno no dia da apresentação. Ao longo dos anos a direção sempre apoia o trabalho, cedendo direitos de imagem dos estudantes e fornecendo material. O projeto é um exemplo tão inspirador que foi utilizado por um professor de história da rede estadual, Luiz Nolasco, em seu curso de pós-graduação. A aluna Vitória Tavares, que fez parte do último projeto Livro da vida em 2023, chama atenção para a possibilidade de sair do cotidiano e trabalhar a realidade. “Adorei participar da atividade, foi uma experiência bem diferente. O interessante é que ele fazia todos saírem um pouco da rotina de teorias. Acho que isso podia se repetir mais vezes e em mais escolas, por ser um trabalho que proporcionou momentos e memórias para todos da turma”. “É gratificante poder registrar o dia a dia da sala de aula, é uma forma de eternizar as memórias do segundo ano de formação de docentes. A participação dos alunos, as conversas com a professora e as atividades com as turmas vão muito além do que está no livro, mas poder contar um pouco da nossa rotina já é maravilhoso”, afirma outra aluna da mesma turma, Helena Ramos, que adorou fazer parte de um projeto que retrata histórias sobre as suas rotinas.

Revista Appai Educar Já Nayara Góes adorou trabalhar com arte e fez resgate de memórias da infância. “Foi uma experiência muito interessante, porque pude fazer as atividades de colagem em conjunto comminha turma, o que me fez lembrar de quando era criança e fazia esses trabalhinhos na educação infantil”. De acordo com o diretor Rodrigo de Almeida Silva, a prática documental é de grande relevância para o exercício da profissão e favorece a excelência na formação dos futuros professores. “O Livro da vida colabora para um olhar atento no processo avaliativo na prática da docência. Entre outros benefícios está a perspectiva colaborativa, já que se aprende a valorizar as múltiplas vozes na comunidade escolar. As atividades contribuem também para o desenvolvimento de produções escritas, melhorando a linguagem e a autonomia dos estudantes em formação, porque eles são responsáveis por contribuir e manter os registros. Assim formamos o que nos propomos, novos professores com consciência crítica de seu papel na sociedade”, finaliza. Instituto de Educação Rangel Pestana Av. Dr. Luiz Guimarães, 218 – Centro – Nova Iguaçu/RJ CEP: 26210-022 Diretor-geral: Rodrigo de Almeida Silva E-mail: veronicacarreiro@ymail.com Tel. (WhatsApp): (21) 98993-3272

Revista Appai Educar POESIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR CLAUDIA SANCHES

Revista Appai Educar Alunos aprendem a “ler” o meio ambiente através da literatura Sensibilizar os alunos para a questão da preservação do meio ambiente através da literatura. Assim surgiu o Projeto literário ambiental, que atua em 14 escolas de Itaboraí, município localizado no fundo da Baía de Guanabara. Elaborado pelas professoras Heloisa de Souza e Rosane Paiva, da Coordenação de Sala de Leitura da cidade, o trabalho conta com a parceria do Instituto Coral Vivo e do Projeto Guapiaçu.

Revista Appai Educar Heloisa, uma das assessoras dos espaços de leitura e pesquisa do município, conta que tudo começou quando as escritoras Roseana Murray e Bia Hetzel deram um exemplar do livro “A teia das águas”. As salas de leitura lidam diretamente com as escolas onde há o professor articulador. O trabalho, realizado com turmas do 1º ao 3º e do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, surgiu em 2023 e já está na sua 2ª edição em 2024. A ideia, segundo as idealizadoras, é educar para que o estudante perceba a importância da preservação do meio ambiente não só local, como do planeta, mantendo um consumo consciente e a preocupação com os resíduos produzidos por suas escolhas de vida. “Literatura também é compreensão de mundo. Esse é o livro de poesia que traz mais informações científicas que já conheci. Às vezes a gente associa meio ambiente somente ao verde não ao mar. Nosso município, que é o final da Baía de Guanabara, temmanguezais, entre outros ecossistemas fundamentais para a vida no planeta, e é muito importante que os alunos conheçam! Em princípio pensamos em realizar em uma escola só, mas ampliamos porque recebemos a doação de 460 exemplares do Instituto Coral”, explicam as professoras, que fizeram a primeira edição em 2023, em seis meses de trabalho, segundo conta Heloisa.

Revista Appai Educar As coordenadoras de sala de leitura sensibilizaram as turmas para o trabalho em sala de aula. Os professores articuladores, em contato com Heloisa e Rosane, partem do princípio de que o texto só faz sentido se o aluno conhece minimamente a temática abordada. Os conteúdos textuais são explorados a partir de estratégias de leitura, técnicas e métodos utilizados para melhorar a compreensão e retenção de informações. Segundo Rosane, algumas práticas comuns incluem a antecipação da leitura, exploração dos elementos paradidáticos, criação de hipóteses, informações sobre o autor, o gênero e a temática do texto, a leitura e identificação de palavras-chave, perguntas sobre o conteúdo e pós-leitura. Heloisa também lembra a transdisciplinaridade do trabalho. Os professores regentes envolvem os de Ciências e Geografia, que vão trabalhar conceitos e tópicos como água, ar e solo que as turmas do sétimo ano estudam no calendário escolar. Também nos conteúdos de História porque debatem como foi o uso dos territórios socialmente. Os professores de Língua Portuguesa também participam de todo o processo.

Revista Appai Educar Na Escola Municipal Antônio Santos da Silva os estudantes precisaram recrutar muitas áreas do conhecimento. Os alunos realizaram um fórum, organizado pela psicopedagoga Bruna Pireda e a professora regente Thaís Figueiró, onde discutiram as temáticas sociais e criaram poemas, apresentados em salas. Os jovens assistiram ao documentário “Ilha das flores”, que fala sobre o descaso com o meio ambiente. O I Fórum Ambiental da Antônio Santos teve a participação do professor de Geografia Peter Rosa, falando sobre racismo ambiental com o tema “A sociedade contemporânea movida pelo consumo e seus impactos socioambientais”, e da docente de Língua Portuguesa Heloisa de Souza com a palestra “Racismo Ambiental: o que conta a literatura”. Os alunos entenderam esse conceito a partir da sua própria realidade, como comenta Bruna: “A parte ambiental que se permitia que o povo negro ocupasse foi abandonada, como as periferias por exemplo, o que inclui a falta de saneamento básico, educação, transporte público e saúde. Foi uma proposta dos alunos, e a escola fez livros trazendo para essa realidade de Itaboraí, ummunicípio commuitas fragilidades em todas as áreas”.

Revista Appai Educar Outra experiência que se destaca é a da Escola Municipal Antônio Alves Vianna. A professora de Língua Portuguesa Elizângela Furtado conta que, para vivenciar o tema na prática, visitaram o Projeto Guapiaçu, de reflorestamento e cuidado com os rios e áreas de preservação ambiental em Cachoeiras de Macacu. Lá aprenderammuito sobre o tema com os instrutores da Área de Proteção Ambiental (APA). “Os alunos ficarammuito impactados com a aprendizagem sobre a devastação e a recuperação das espécies de vegetação tão necessárias à sobrevivência do planeta, como os manguezais e a diversidade da flora. Partimos da literatura e vamos para a prática. São experiências necessárias para os nossos alunos e queremos ver uma real transformação pela educação. Eles deram seus depoimentos no dia da apresentação e criaram um telejornal sobre meio ambiente. “Durante a culminância apresentaram os conteúdos que estudaram, levando os conhecimentos aos colegas”, reforça Elizângela.

Revista Appai Educar “Nessa crença entende que a educação deve ultrapassar os muros da escola. A criança precisa se libertar, e acreditamos que a literatura seja um dos instrumentos para alcançar esse fim, como ferramenta de compreensão do mundo”, reforça Heloisa. Na Escola Municipal Alfredo Torres, a professora Tamiris Costa, em parceria com os docentes de História Marcelo Barbosa e Marrieli Landim, realizaram estratégias de leitura com os poemas, seguidos por rodas de conversas e debates. Na sala de aula, os educadores davam continuidade propondo produções aos alunos. “Percebi como foi rica a troca de vivências com os professores em cada passo dado. A comunidade escolar se empenhou e assim desenvolvemos uma consciência ambiental mais profunda sobre a importância da natureza e da preservação para as próximas gerações. Os alunos também visitaram o Projeto Guapiaçu e ficaram encantados com o trabalho de preservação ambiental no Parque Estadual dos Três Picos e na APA de Cachoeiras de Macacu”, afirma Tamiris.

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