E-BOOK REVISTA APPAI EDUCAR - EDIÇÃO 166

2 E-book Revista Appai Educar Há algumas décadas, aprender sobre a importância do dinheiro desde a infância era considerado inapropriado ou desnecessário. No entanto, uma nova perspectiva sobre o assunto destaca que, quanto mais cedo se aprende a cuidar das finanças, melhor será a qualidade de vida a médio e longo prazo, não apenas para quem gerencia o dinheiro, mas também para aqueles ao seu redor. Na edição de agosto, a Revista Appai Educar convidou Vagner Antiqueira, Coordenador Pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, para esclarecer o quanto o tema está muito longe de planilhas e fórmulas matemáticas. Ele revela que a educação financeira tem se consolidado como uma metodologia indicada para ser iniciada em casa, no ambiente familiar, a fim de contribuir na criação de hábitos saudáveis, que vão desde evitar desperdícios alimentares até manter um relacionamento equilibrado com o consumo em geral.

Diante desse cenário, a educação financeira na escola tem vivenciado crescente relevância e reconhecimento, refletido na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) brasileira. A inclusão deste tema no currículo escolar é fundamental por várias razões que abrangem o desenvolvimento individual dos alunos e a formação de uma sociedade economicamente consciente, que compreenda a importância do planejamento financeiro, da poupança e de toda a rota de aquisição. Segundo especialistas, esse conhecimento é essencial para que os jovens desenvolvam habilidades que vão cooperar nas tomadas de decisões financeiras responsáveis, reduzindo a probabilidade de endividamento e promovendo uma gestão numerária equilibrada ao longo da vida. Vagner afirma a importância de se aprender sobre educação financeira na escola, como parte do currículo escolar, enfatizando que a educação é uma parceria entre família e escola. “Sendo assim, tudo que é dever da família é também papel da escola. Cada entidade com seus respectivos pesos nessa missão. A educação financeira na instituição escolar desmistifica o fato de que a criança não deve se “intrometer” na questão financeira de casa. É no colégio que eles vivenciam situações que envolvem os familiares na parte financeira e começam a ser protagonistas do processo”, pontua. 3 E-book Revista Appai Educar Formação de cidadãos conscientes e responsáveis

BNCC - Base Nacional Comum Curricular Inserida na competência geral número 7 da BNCC − que busca desenvolver a argumentação com base em fatos, dados e informações confiáveis para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável −, a educação financeira tem demonstrado suas implicações direta e indiretamente na compreensão do valor do dinheiro no meio familiar. Em meio a essa afirmativa, uma indagação presente, sobretudo no meio educacional, é sobre de que forma os pais e responsáveis podem ser envolvidos na educação financeira dos alunos. Na opinião do coordenador pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, o trabalho com educação financeira na escola sem a presença ativa da família não gera resposta positiva. “Atividades fictícias ou lúdicas só terão resultados se a família se propuser a participar. Conversar sobre finanças deve ser uma rotina em casa. Trabalhar o ensinamento sobre o que são moeda e cédula, implementar a noção de planejamento de compras e, com as ideias já construídas, apresentar a mesada para os mais velhos como forma de administração do dinheiro são algumas atividades que podem ser feitas neste processo”, enumera Antiqueira. 4 E-book Revista Appai Educar

5 E-book Revista Appai Educar Consumo x consumismo A primeira coisa a que devemos atentar dentro deste assunto é para a diferença entre consumo x consumismo. Enquanto o primeiro está relacionado à satisfação de necessidades básicas e essenciais, o segundo está ligado ao consumo exagerado e muitas vezes desnecessário. Dentro dessa esfera, temos outras nuances, como, por exemplo, a sustentabilidade ou o consumo consciente, que busca a utilização responsável dos recursos, ao passo que o consumismo tende a promover o desperdício e a exploração excessiva dos recursos naturais. O uso adequado ou não desses meios gera impactos sociais e ambientais, que podem ser tanto positivos, como negativos, apontando diretamente para a degradação ambiental e as desigualdades sociais. Sendo assim, educar jovens e crianças sobre essas diferenças e efeitos é crucial para prepará-los para uma vida financeira saudável e sustentável. Essa falta de percepção a respeito de como lidar com dinheiro tem se caracterizado como um grande desafio enfrentado pelos cidadãos. Soma-se a isso a falta de educação financeira adequada, que dificulta a compreensão de conceitos básicos como orçamento e poupança. A pressão social, o consumismo exacerbado, a instabilidade no mercado de trabalho e salários iniciais baixos também complicam o planejamento financeiro de longo prazo, o que leva muitas pessoas a encontrarem dificuldades em estabelecer metas financeiras realistas e em resistir às tentações de gastos desnecessários. Para o coordenador pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, um dos pontos cruciais dessa temática hoje em dia é a inexperiência com as finanças em geral, “por isso a importância de desde a educação infantil nossas crianças já terem contato com situações que envolvem o dia a dia da parte financeira da família”, alerta Vagner, lembrando que em cada nível de ensino existe uma proposta, uma atividade prática que trará mais resultados para a quebra dessa barreira.

6 E-book Revista Appai Educar Atividades práticas É notório que educar financeiramente, sobretudo os jovens, contribui para a inclusão social, oferecendo a todos, independentemente de sua origem socioeconômica, a oportunidade de adquirir conhecimentos e habilidades que podem melhorar sua qualidade de vida. A longo prazo, isso pode ajudar a reduzir desigualdades sociais e promover uma distribuição mais justa de renda. Mas que tipos de atividades práticas podem ser realizadas na escola para ensinar essa educação monetária? Segundo Vagner Antiqueira, as atividades são muito variadas, uma vez que em cada estágio de ensino existe uma proposta que trará mais resultados. Não importa o nível de escolaridade, o momento de conversa em família sobre as finanças de casa e exemplos de sucesso são sempre bem-vindos. “Na educação infantil, trabalhar com a ideia de comprar e vender seus próprios brinquedos é algo que fará a criança entender que as coisas possuem um valor. Já no ensino fundamental − anos iniciais, é possível introduzir o conceito de poupar, com o uso do cofrinho. Deixar a criança comprar suas guloseimas ou brinquedos com dinheiro é importante para que saiba lidar com troco ou com a falta da quantia para adquirir determinada coisa. A frustração em não conseguir comprar algo pois seu dinheiro não foi suficiente é também uma experiência necessária para essa e outras faixas etárias. No ensino fundamental − anos finais a estratégia é lançar a ideia da mesada a partir de tarefas realizadas. Poupar é algo importante sempre, mas nessa faixa etária já é possível que eles compreendam a diferença entre essa atividade e investir, acrescenta o coordenador enfatizando que no Ensino Médio, como jovem aprendiz, o adolescente já pode ter seu próprio rendimento e já consegue entender o funcionamento de outros tipos de investimento.

7 E-book Revista Appai Educar Professor, um papel valioso Ao contextualizar os conceitos financeiros em cenários reais, os professores ajudam os alunos a compreender a importância e a aplicabilidade da educação financeira em suas vidas diárias, conforme aponta Antiqueira. “O professor é um mediador. Ele é a pessoa que possui experiências e pode orientar os alunos de forma eficiente. Uma aula de educação financeira com resultado eficaz é aquela onde o docente traz situações do cotidiano e os alunos fazem a aula a partir de suas experiências”. Outro ponto a considerar é que os professores podem incorporar atividades práticas, como simulações de orçamentos familiares, estudos de casos sobre endividamento e discussões sobre as consequências do consumismo. Isso não só torna o aprendizado mais dinâmico e envolvente, mas também ajuda os alunos a desenvolverem habilidades críticas e reflexivas sobre suas escolhas financeiras. Ao promover um ambiente de aprendizado colaborativo e participativo, os professores capacitam os alunos a serem consumidores mais conscientes e responsáveis, preparados para tomar decisões financeiras bem-sucedidas ao longo da vida.

A ausência de educação financeira pode resultar em uma falta de compreensão sobre a importância da poupança, dos investimentos e da vida. Jovens que não aprendem a gerenciar dinheiro desde cedo podem se tornar adultos que vivem sem construir uma reserva de emergência ou pensar em seu futuro financeiro. A não reflexão das finanças como um processo natural do dia a dia pode acarretar limitações nas oportunidades de crescimento e estabilidade, afetando a qualidade de vida a longo prazo. Na opinião de Vagner, esse ciclo de desconhecimento pode levar ao endividamento, falta de planejamento financeiro e dificuldades em lidar com imprevistos econômicos. “Entre as consequências de não se ensinar educação financeira na escola estão situações como crianças sem noção dos gastos da família, podendo comprometer a saúde financeira, e adolescentes entrando no mercado de trabalho sem as noções básicas de finanças, criando assim futuros adultos propensos a desequilíbrios no que se refere ao uso de recursos”, explica o coordenador pedagógico. 8 E-book Revista Appai Educar Por que não ensinar educação financeira?

Conceitos de educação financeira na vida cotidiana e na comunidade Envolver as crianças em decisões financeiras familiares, como definir um orçamento para uma viagem ou um evento especial, pode também ser uma excelente maneira de aplicar os conceitos aprendidos em sala de aula. Segundo Vagner, uma das formas para que os estudantes coloquem em prática os ensinamentos é dar responsabilidades para eles. “Fazer lista de compras, ir com os pais no mercado, ficar responsável pela escolha dos produtos e pagamentos.” Isso não apenas os ensina a comparar preços e avaliar a qualidade dos produtos, mas também a compreender o valor do dinheiro e a importância do planejamento e do orçamento. “Os adolescentes podem participar de eventos da comunidade, como festas, e ficar responsáveis pela venda de convites, rifas, bingos, entre outras atividades”, sugere o coordenador pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, lembrando que essas experiências práticas permitem que eles desenvolvamhabilidades de gestão financeira, como controlar receitas e despesas, calcular lucros e avaliar a viabilidade econômica de um evento. Além do mais, ao lidar com dinheiro em um contexto comunitário, os jovens aprendem sobre a importância da transparência, responsabilidade e ética financeira, valores essenciais para sua vida adulta. Ao aplicar esses conceitos no cotidiano e na comunidade, os estudantes ganham confiança e competência em suas habilidades financeiras, preparando-se melhor para os desafios econômicos do futuro. 9 E-book Revista Appai Educar

Impactar positivamente a comunidade escolar Famílias financeiramente estáveis e educadas tendem a valorizar mais a educação, o que resulta emmaior apoio ao desenvolvimento acadêmico dos filhos e à participação ativa nas atividades escolares. Segundo especialistas, estudantes que entendem os princípios de finanças pessoais estão mais bem equipados para gerenciar projetos escolares que envolvam orçamento, arrecadação de fundos e outras atividades econômicas. “A comunidade escolar é um conjunto entre família e escola. Se a primeira está com a saúde financeira organizada, significa família entrosada, logo a escola recebe alunos com estrutura solidificada, onde se entende a importância da educação. A escola ganha de todos os lados”, assegura Antiqueira. Ainda segundo especialistas, eles (alunos) também podem aplicar esses conhecimentos em iniciativas de empreendedorismo escolar, promovendo a inovação e a criatividade. Com uma base sólida em educação financeira, a comunidade escolar pode se transformar em um modelo de sustentabilidade econômica e cidadania ativa, preparando os alunos para contribuir positivamente para a sociedade como um todo. 10 E-book Revista Appai Educar

Protegendo contra falsas promessas de investimentos Ao ensinar os alunos a identificarem investimentos legítimos e a compreender os riscos envolvidos, a educação financeira proporciona uma base sólida de conhecimento que pode protegê-los de fraudes e esquemas de enriquecimento rápido. “Mais uma vez a parceria entre escola e família é primordial. Na educação financeira, um dos principais ensinamentos, na faixa etária correta, é conhecer os diferentes tipos de investimentos e seus riscos. E por que a família é primordial nesse quesito? É de suma importância acompanhar o que os filhos acessam em diferentes meios de comunicação. Muita coisa é oferecida, e o papel da educação financeira é destrinchar o que é seguro ou não”, complementa Vagner Antiqueira. Um outro papel essencial da educação financeira tem relação com o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos em relação às promessas de ganhos fáceis que circulam nas redes sociais. É impor11 E-book Revista Appai Educar

12 E-book Revista Appai Educar tante ensiná-los a questionar e a investigar a credibilidade das fontes de informação, a fim de não se deixar levar por promessas fantasiosas. Nesse aspecto, a tecnologia pode ser uma forte aliada no discernimento do que é ou não estável, sendo adicionalmente uma forma lúdica, em que crianças e jovens gostam em sua maioria de estar envolvidos. Que a educação financeira desempenha um papel supremo no desenvolvimento de indivíduos conscientes e responsáveis em relação ao dinheiro e que o papel dos professores como mediadores e a colaboração entre escola e família são fundamentais para promover esses ensinamentos de forma eficaz, não resta a menor dúvida. Todavia, esse ensinamento perpassa por outras questões que incluem a união contínua de atores e elementos que juntos preparam, não só as futuras gerações, como a atual para gerar não apenas uma gestão financeira saudável, mas, sobretudo, criar um ambiente de maior apoio e valorização da educação.

Fonte: Vagner Antiqueira, Coordenador Pedagógico do Colégio Anglo Leonardo da Vinci Conheça projetos escolares de Educação Financeira • Educação financeira nas escolas (appai.org.br) • Alunos do 6° e 7° anos aprendem habilidades financeiras em projeto educativo (ohoje.com) • Com dinheiro não se brinca, se estuda! Educação financeira (appai.org.br) • Professores no PI passam por capacitação para levar educação financeira através de jogos - Floriano News • BNCC e a educação financeira nas escolas - Confira (appai.org.br) 13 E-book Revista Appai Educar Por Antônia Figueiredo

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