REVISTA APPAI EDUCAR - EDIÇÃO 129
Revista Appai Educar 43 42 Revista Appai Educar O mapa de um novo olhar A ideia central era que os estudantes conhe- cessem o território Maré, onde vivem, por um outro ângulo. Para tanto, Luiz criou uma metodologia pautada na pesquisa utilizando mapas e a carto- grafia social. “A ideia era mostrar que o território deles é diverso. Tem violência, mas tem felicidade. Tem tristeza, mas tem situações de liberdade”, pontua Lourenço. O ponto de partida do projeto baseou-se na for- mulação de um pequeno questionário com quatro perguntas que iriam nortear o desencadear do tra- balho. As perguntas deveriam ser respondidas de forma individual, sem a interferência de terceiros, a fim de que as respostas se aproximassem ao máxi - mo da visão sistêmica dos alunos em relação a sua comunidade. As perguntas eram: Qual é o lugar de violência/ medo? Qual é o lugar de lazer/liberdade? Qual é o lugar de tristeza? Qual é o lugar de felicidade? 1 2 3 4 Mapa sensorial – um caminho de histórias Com as respostas em mãos, o professor Luiz iniciou a confecção de um “mapa sensorial”, retra - tado a partir da percepção, sentimentos e emoções dos educandos envolvidos. Após a finalização, alu - nos e educador iniciaram um bate-papo – que ficou exposto em sala de aula – acerca daquele resulta- do mostrado no mapa. Segundo o professor, algo que muito chamou a sua atenção foi a disponibilidade dos alunos em tocar em temas em que, por vezes e por diversas questões, eles preferem não falar. “O que um aluno diz que é local de violência ou de medo, outro diz que é de liberdade e de lazer. Na sala se constrói um con- flito que é positivo, porque gera um debate de ideias e ideais so- bre o local,” explica o professor. Ao falar sobre o resultado do projeto, Luiz Lourenço revela que, através desse trabalho, vá- rios pontos ligados a questões sociais puderam ser debatidos, como, por exemplo, a mobilida- de urbana, a política social, bem como os impactos psicológicos causados pela realidade viven- ciada pelas famílias do lugar. “Quando um aluno diz que o lugar de tristeza é a casa dele, essa é uma informação que pode ser trabalhada por uma equipe de psicólogos. Para ten- tar entender que tipo de situação Um bate-papo de emoções ocorre no ambiente familiar que leva o aluno a expor isso no mapa”, afirma. O que começou como um projeto nas turmas do funda- mental acabou se tornando tema da monografia da conclusão de curso de Luiz Lourenço. A experiência também foi relatada no artigo " Cartografias da deco - lonialidade: o ensino de geogra- fia no bairro Maré ", publicado na Revista Giramundo . O projeto continua, porém, pela impossibilidade da aula 100% presencial, por conta da pandemia, o professor Luiz ex - plica que teve que ser pausado. “Mas acredito que muito em bre - ve retomaremos na construção de outros mapas afetivos com histórias de superação e novas conquistas, finaliza. Rolê na Penha: um mapa de histórias Dentro desse mapa de criatividade, o professor de História Wandre Pinto, que leciona na Escola Mu- nicipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha, desen- volveu o projeto Rolé na Penha: mapas afetivos e tu- rismo comunitário , que é uma atividade de guiamento local protagonizado pelos alunos da escola. Morador do bairro vizinho, Olaria, o professor Wandre acabou fortalecendo ainda mais a aproxi- mação entre os moradores da Zona da Leopoldina, formada pelos bairros de Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha, em especial da Vila Cruzeiro onde se localiza a escola. “Até então, eu mesmo não co - nhecia tão bem a Penha, apesar de morar em uma localidade vizinha. Ao começar a lecionar na Ber- nardo, e a partir desse projeto, a minha relação de conhecimento e aproximação com o lugar mudou”, relembra.
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