Revista Appai Educar - Edição 123
Opinião 2 Usando filmes para ensinar história Opinião Carlos Magalhães* Quando o assunto é aprendizagem, não é nada incomum encontrar professores que apre- ciam exibir em sala de aula filmes que examinem eventos ocorridos no passado. Aliás, vários estudos já foram propostos a respeito da utiliza- ção de produções históricas como ferramenta de ensino, e inclusive conheço pessoas que já me perguntaram se encaro o cinema como uma forma aceitável ou eficiente de se aprender história, ainda que de maneira geral. A resposta mais direta que costumo dar é a de que filmes de conteúdo histórico simplemente não ensinam nem buscam ensinar. É certo que há um poten- cial pedagógico em filmes, mas não é algo fácil de se mensurar. Primeiro, deixemos claro que o Cinema (com C maiúsculo) é uma arte, não importando se nos referimos a uma reconstituição livre ou fidedigna de algum evento que tenha de fato acontecido. Em termos gerais, filmes são discur- sos , e é exatamente isso que os separa (inclu- sive os documentários) de reportagens jornalís- ticas de caráter puramente informativo. Assim, quando algum(a) realizador(a) decide dramatizar um caso verídico em uma obra cinematográfica, pressupõe-se que haja uma espécie de tese em mente. Ou seja, recontar uma história do passa- do se torna geralmente o ponto de partida para se discutir alguma perspectiva específica ou questão filosófica central. Um exemplo é Titanic (1997), que usa a tragédia real como pano de fundo para um romance clássico. Os personagens de Jack e Rose não são e nem representam pessoas reais, e o filme em si não tem pretensão alguma de ser uma reconstituição fiel do naufrágio do navio provocado pela colisão com um iceberg no meio do Atlântico em 1912. O mais importante em Titanic não é retratar o incidente da forma mais verídica possível, mas sim contar a história de uma moça inglesa de família nobre que conse- gue se desvencilhar da verdadeira prisão que é a sua vida, imposta por sua mãe e pelo compro- misso de se casar com um homem que ela não ama. Em outras palavras, o filme é mais sobre o poder transformador do amor do que sobre o naufrágio em si. O mesmo vale para os épicos Spartacus (1960) e Gladiador (2000), por exemplo, que não se abstiveram de reinventar fatos históricos a torto e a direito com a justificativa perene de “liberdade artística”. No caso de documentários, professores tendem a se sentir mais confortáveis em utilizá- -los em sala de aula por conta de sua estrutura
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