Longevidade na prática


Atualmente o maior desafio da “ciência da longevidade” não está pautado na estimativa em números de anos que o indivíduo pode viver. E sim de que forma estamos buscando e vivenciando esse prolongamento da vida no nosso dia a dia, a fim de colhermos os benefícios não somente na maioridade, mas em todos os ciclos e fases da nossa existência – infância, adolescência, vida adulta e velhice.

Para nos mostrar de uma maneira bem objetiva como essa prática longeva começa muito mais cedo que imaginamos e o que podemos fazer para alcançar êxito nesse quesito, a Revista Appai Educar convidou a Doutora em Ciências Cardiovasculares Erika Alvarenga Corrêa Gomes, médica especializada em Cardiologia e Medicina do Esporte, que vai conversar com a gente e explicar o que é praticar longevidade.

RAE Dra. Erika, como a ciência pode nos auxiliar desde a infância, passando pela adolescência, a fim de que possamos desfrutar dessa “construção da longevidade” em todas as fases de nossa vida, e não apenas na maioridade?

Dra. Erika – Hoje sabemos que os nossos hábitos influenciam a nossa evolução, o nosso desenvolvimento. Costumes alimentares, por exemplo, são criados na infância. A utilização de sal nas refeições, açúcar nas bebidas é iniciada pelos responsáveis pelas crianças que desenvolvem seu paladar a partir desses hábitos. Assim como a alimentação, a prática de exercícios, os cuidados com higiene, o acompanhamento médico e de outros profissionais de saúde começam na infância. É importante manter essas práticas na adolescência. Uma vez que sejam mantidas, esse cuidado com a saúde faz parte da rotina do adulto contribuindo para uma vida saudável.

RAE – Em que medida o treinamento físico contribui para um coração com “mais longevidade”?

Dra. Erika – O treinamento físico gera adaptações no sistema cardiovascular. O coração contrai melhor, o músculo cardíaco fica mais forte não havendo necessidade de aumentar tanto a frequência cardíaca para uma certa demanda. As artérias se adaptam melhor ao volume de sangue, diminuindo a resistência e até colaborando para a redução da pressão arterial. Se a prática de exercício é mantida, esses efeitos são conservados e o impacto do envelhecimento, como a maior rigidez das artérias, é menor.

RAE– Existe idade ideal para começar e finalizar a prática da longevidade?

Dra. Erika – Os cuidados com a saúde devem ser realizados durante todas as fases da vida – criança, jovem, adulto e idoso. Isso não diz respeito apenas à realização de exames e avaliação médica, mas também à alimentação balanceada, mas sobretudo à prática de exercício, bem como cuidados com o corpo e a mente.

RAE – De acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) é aconselhável que adultos façam atividade física moderada de 150 a 300 minutos ou de 75 a 150 minutos de prática intensa, quando não houver contraindicação. Qual a diferença entre atividade física e exercício físico?

Dra. Erika – Atividade física é qualquer movimento de contração muscular que promova gasto energético, como andar para o trabalho, subir escadas, carregar sacola de compras. Já exercício é uma atividade física organizada com o objetivo de gerar força, condicionamento ou manutenção da saúde, como caminhada, musculação, corrida, sempre objetivando maior bem-estar, consequentemente longevidade.

RAE – A busca por uma vida longa começa bem cedo, com hábitos e rotinas que contribuem para um afastamento ou prevenção das doenças. O treinamento físico realizado na parte da manhã e à noite em homens e mulheres faz alguma diferença ou interferência nessa busca pela longevidade saudável?

Dra. Erika – Existem trabalhos mostrando que os efeitos do exercício na perda de gordura e na pressão arterial podem ser diferentes de acordo com o horário da realização. No entanto, a longo prazo esse impacto ainda parece ser pequeno. O mais importante é a constância. Ajustar os horários e praticar exercício regularmente.

RAE– O infarto do miocárdio é a mais temida doença cardíaca. No entanto, outros males podem causar risco à saúde e até morte súbita. Uma vida de histórico saudável, através de boas práticas de atividades físicas, aliada a uma alimentação saudável, pode desacelerar esse quadro e consequentemente aumentar essa longevidade?

Dra. Erika– Com certeza. Nossa genética, nossa história familiar não podemos mudar. Já nosso estilo de vida é a parte que podemos controlar, tais como sono, alimentação, exercício. Evitar tabagismo e o consumo de álcool são atitudes fundamentais para que tenhamos longevidade em todas as fases da nossa trajetória de vida.

RAE – O quanto uma alimentação equilibrada contribui para uma vida saudável e longeva?

Dra. Erika – A alimentação é fundamental para a saúde. É através dos alimentos que obtemos os nutrientes necessários para gerar a energia para realizar as atividades do dia a dia. Além disso, a hidratação é muito importante, uma vez que cerca de 70% do corpo humano é composto por água.

RAE– O que é ter uma alimentação saudável?

Dra. Erika – Uma alimentação saudável é baseada na nossa demanda, de acordo com as nossas atividades, o gasto energético e a presença de doenças. Alimentação não deve ser um castigo. As pessoas relacionam dieta à proibição. O que comemos deve ser baseado em equilíbrio.

RAE– Qual o peso da saúde física e mental para se alcançar uma longevidade saudável?

Dra. Erika– Saúde física é fundamental para que se tenha autonomia. Caminhar sem auxílio, poder carregar uma bolsa, subir escadas, se movimentar e realizar atividades sem depender de ajuda é importante para uma longevidade saudável. Assim como o corpo, a saúde mental deve ser estimulada. As funções cognitivas de percepção, memória, linguagem, aprendizado e atenção são de grande importância em todas as fases da vida. Além disso, o cuidado com as emoções é tão relevante quanto com a saúde física. Tristeza, alegria, euforia, depressão, ansiedade devem ser acompanhadas e tratadas independentemente da idade.

RAE– O que fazer para que essa cultura da longevidade seja uma sequência ininterrupta, a fim de colhermos os benefícios de uma vida saudável, antes, durante e depois da maioridade?

Dra. Erika– Com a evolução tecnológica, crianças e adolescentes passam muitas horas do dia em celulares, tablets, computadores, televisão e outros dispositivos. Hoje esse tempo é chamado de “lazer sedentário”. É importante que pais e responsáveis estimulem uma vida ativa, incluindo exercícios, esportes e brincadeiras que contribuem para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. No entanto, essa atividade precisa ser prazerosa para o adolescente, para o adulto e para o idoso, a fim de que ela se torne parte da rotina, assim como todas as outras tarefas.  O mesmo vale para os adultos, é importante escolher práticas que lhe proporcionem bem-estar acima de tudo.

RAE – Em alguns casos, o exercício pode ser considerado remédio?

Dra. Erika– Sem dúvidas. O exercício e a alimentação são intervenções não farmacológicas. São a base de qualquer tratamento. Em muitos casos, associado ao uso de remédios, em outros é capaz de tratar as doenças sem sua utilização.

Para saber mais sobre longevidade e suas práticas clique nos links das matérias abaixo na Revista Appai Educar. Lembrando que a cada edição convidaremos um especialista para que nos esclareça e ajude a tirar todas as dúvidas sobre o que é longevidade na prática. Até a próxima, e boa leitura!


Por Antônia Lúcia


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