Professores transformam cotidiano escolar construindo mapas


Será que nos tempos atuais, com tanta facilidade de geolocalizadores via internet, ainda somos capazes de identificar os países, estados, regiões e todas as demarcações existentes nos mapas, bem como diferenciar seus tipos temáticos?

Mesmo em tempos digitais, usar mapa em sala de aula pode ser uma maneira bastante interessante de mostrar aos alunos os aspectos ligados ao local em que vivem ou mesmo explorar e evidenciar algumas curiosidades existentes em suas regiões.

Na região da Maré, localizada no subúrbio do Rio, o professor de Geografia Luiz Lourenço, desenvolveu o projeto Reencantamento, entre os alunos do Fundamental II do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm).

 

O mapa de um novo olhar

A ideia central era que os estudantes conhecessem o território Maré, onde vivem, por um outro ângulo. Para tanto, Luiz criou uma metodologia pautada na pesquisa utilizando mapas e a cartografia social. “A ideia era mostrar que o território deles é diverso. Tem violência, mas tem felicidade. Tem tristeza, mas tem situações de liberdade”, pontua Lourenço.

O ponto de partida do projeto baseou-se na formulação de um pequeno questionário com quatro perguntas que iriam nortear o desencadear do trabalho. As perguntas deveriam ser respondidas de forma individual, sem a interferência de terceiros, a fim de que as respostas se aproximassem ao máximo da visão sistêmica dos alunos em relação a sua comunidade. As perguntas eram:

  1. Qual é o lugar de violência/medo?
  2. Qual é o lugar de lazer/liberdade?
  3. Qual é o lugar de tristeza?
  4. Qual é o lugar de felicidade?

Mapa sensorial – um caminho histórias

Com as respostas em mãos, o professor Luiz iniciou a confecção de um “mapa sensorial”, retratado a partir da percepção, sentimentos e emoções dos educandos envolvidos. Após a finalização, alunos e educador iniciaram um bate-papo – que ficou exposto em sala de aula – acerca daquele resultado mostrado no mapa.

Segundo o professor, algo que muito chamou a sua atenção foi a disponibilidade dos alunos em tocar em temas que, por vezes e por diversas questões, eles preferem não falar.

 

Um bate-papo de emoções

“O que um aluno diz que é local de violência ou de medo, outro diz que é de liberdade e de lazer. Na sala se constrói um conflito que é positivo, porque gera um debate de ideias e ideais sobre o local,” explica o professor.

Ao falar sobre o resultado do projeto, Luiz Lourenço revela que, através desse trabalho, vários pontos ligados a questões sociais puderam ser debatidos, como, por exemplo, a mobilidade urbana, a política social, bem como os impactos psicológicos causados pela realidade vivenciada pelas famílias do lugar.

“Quando um aluno diz que o lugar de tristeza é a casa dele, essa é uma informação que pode ser trabalhada por uma equipe de psicólogos. Para tentar entender que tipo de situação ocorre no ambiente familiar que leva o aluno a expor isso no mapa”, afirma.

O que começou como um projeto nas turmas do fundamental acabou se tornando tema da monografia da conclusão de curso de Luiz Lourenço. A experiência também foi relatada no artigo Cartografias da decolonialidade: o ensino de geografia no bairro Maré, publicado na Revista Giramundo.

O projeto continua, porém, pela impossibilidade da aula 100% presencial, por conta da pandemia, o professor Luiz explica que teve que ser pausado. “Mas acredito que muito em breve retomaremos na construção de outros mapas afetivos com histórias de superação e novas conquistas, finaliza.

 

Rolê na Penha: um mapa de histórias

Dentro desse mapa de criatividade, o professor de História Wandre Pinto, que leciona na Escola Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Penha, desenvolveu o projeto Rolé na Penha: mapas afetivos e turismo comunitário, que é uma atividade de guiamento local protagonizado pelos alunos da escola.

Morador do bairro vizinho, Olaria, o professor Wandre acabou fortalecendo ainda mais a aproximação entre os moradores da Zona da Leopoldina, formada pelos bairros de Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha, em especial da Vila Cruzeiro onde se localiza a Municipal Bernardo de Vasconcelos. “Até então, eu mesmo não conhecia tão bem a Penha, apesar de morar em um bairro vizinho. Ao começar a lecionar na Bernardo, e a partir desse projeto, a minha relação de conhecimento e aproximação com o lugar mudou”, relembra.

Ao trazer para a sala de aula a ideia de que todos deveriam conhecer um pouco mais do bairro em que vivem, o professor passou a perceber o quanto essa experiência mudou completamente a relação que eles, alunos, têm com a localidade hoje.

“Agora eles chegam e dizem: professor, agora eu vou no Parque Xangai ou na igreja da Penha, mas eu levo meus pais e conto a história do lugar”, afirma. De acordo com Wandre, esse projeto criou uma história de atravessamento e de troca de memórias, pois muitos alunos trazem para as aulas fotos antigas de seus familiares reforçando esse aprofundamento da história local.

Ao explicar o nascimento e os objetivos do projeto, o professor de História conta que ele consistia na criação de mapas afetivos que evidenciassem o trajeto dos alunos entre suas casas e a escola. Entretanto, com o resultado planilhado, os estudantes e o professor foram além e iniciaram a elaboração de roteiros turísticos do conhecido bairro da Penha, um dos mais antigos e tradicionais da Zona da Leopoldina.

O projeto foi tão bem aceito pela comunidade escolar e pela direção, que se transformou em um roteiro aberto também aos visitantes. Em um determinado período do mês, o professor, junto com os alunos monitores, abre a agenda de passeios na página do Facebook e coloca nas redes sociais. E ali mesmo as pessoas podem fazer sua inscrição e participar do rolê. Lembrando que, por conta da pandemia, os passeios deram uma pausa.

No plano pedagógico, o projeto tornou-se interdisciplinar, com a adesão de várias outras disciplinas, como a Língua Portuguesa, a Geografia e outros que têm trabalhado em cima da temática, colaborando e pontuando com suas turmas.

O professor explica que os alunos-monitores têm a responsabilidade de levar, juntamente com o professor, não somente estudantes, mas todos que se inscreverem na caminhada do Rolê da Penha, contando um pouco das curiosidades da região. “É muito legal quando a gente passa pela rua principal do bairro e pessoas que nós nem conhecemos falam: “E o pessoal do Rolê tá aí”, declara Wandre com muita satisfação e alegria de quem transformou olhares.

CURIOSIDADES: vamos saber um pouco mais sobre as diferenças entre os tipos de mapas temáticos existentes, tais como político, temático ou físico.

Mapa Físico: reúne diversas informações relacionadas com os aspectos físicos de algum local (relevo, altitude, hidrografia etc.). As cores do mapa indicam alguns tópicos importantes. Por exemplo, o marrom é usado para apontar planaltos e montanhas, as cores mais escuras para se referir à altitude e o verde para marcar planícies.

Mapa Político: reúne diversas informações sobre as regiões administrativas de um território, ou seja, a divisão político-territorial. Assim, ele apresenta os estados, capitais e cidades mais importantes. A presença das cores também é essencial nesse tipo de mapa, marcando a fronteira entre os territórios.

Mapa Turístico: apresenta locais onde o turismo é assinalado como uma importante atividade econômica. Ele pode reunir os principais lugares onde essa atividade é muito explorada, bem como instruir alguns turistas sobre os pontos turísticos de alguma região. Por exemplo, os principais monumentos, museus, bibliotecas, ruas históricas de uma cidade, estado, país.

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Por Antônia Lúcia
Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm)
Praça dos Caetés, 7 – Morro do Timbau – Maré – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 21042-050
Tels.: 3105 1070 / 98485 7577 (whatsapp)
E-mail: contato@ceasm.org.br
Professor: Luiz Lourenço

Escola Municipal Bernardo de Vasconcellos
Professor: Wandre Pinto
Praça Santa Rosália, 100 – Penha – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 21070-44
Tel.: (21) 3886-0788


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