Uma ferramenta de debate no ensino remoto

Descubra como exercitar o pensamento crítico dos seus alunos através de séries e telenovelas


Uma nova editoria pra chamar de sua! Resgatamos uma matéria da Revista Appai Educar direto do túnel do tempo para mostrar que os projetos desenvolvidos pelos professores nunca saem de moda. São sempre uma ideia para inspirar os demais colegas de profissão, mesmo em período de ensino remoto. E para começar com o pé direito vamos relembrar uma matéria da edição 105, publicada em 2017, que mostra como o professor pode exercitar o pensamento crítico dos seus alunos através das séries e telenovelas.

Como sabemos, a narrativa televisiva usa ação, imagens e sons especialmente selecionados para prender a atenção de crianças e adolescentes, pois ela contribui na formação de memórias de longa duração. É capaz de desenvolver a imaginação dos jovens, e as histórias que ela conta são tema de conversas e debates entre eles. Esse meio de comunicação tão importante quanto controverso já despertou o amor e o ódio de muitos educadores, psicólogos e sociólogos. Alguns dizem que a TV aliena e emburrece. Outros a acusam de promover a violência e o consumismo. A programação que é veiculada em diversos canais abertos e por assinatura segue, sim, a lógica do entretenimento e do mercado. Ficam mais tempo no ar as novelas, seriados, telejornais e outros gêneros que dão audiência e, portanto, são patrocinados.

Com a fartura de canais, a televisão oferece programas para todas as faixas etárias. Noticiários, novelas, minisséries, seriados, talk shows, documentários, programas de auditório, desenhos animados, filmes, clipes. E eles podem ser usados para inserir conteúdo ou para debates sobre comportamento e ética. Além do mais,

pode ser um grande projeto para desenvolver e aprimorar o pensamento crítico dos estudantes.

Selecione os que se encaixam em seus objetivos e fique atento para constatar o interesse do seu aluno. E, antes de tudo, deixe de lado o pensamento que rotula a telinha como a pioneira de todos os males e procure assisti-la sem preconceito. Esse passo é fundamental.

As novelas, minisséries, seriados ou episódios contam histórias do cotidiano. Ao abordar conflitos pessoais ou sociais comuns, eles prendem a atenção pela previsibilidade ou pelo humor. Essa relação entre o real e o imaginário atrai os telespectadores, que se identificam com situações ou personagens. A aproximação com a vida real fornece rico material para discutir valores e comportamentos.

 

Como funciona na prática?

Em um projeto sobre discriminação, uma das atividades sugeridas pela professora Maria da Glória Pereira de Miranda à sua turma da 8ª série do Colégio Estadual Aurelino Leal, em Niterói, foi fazer o levantamento dos programas que mais apresentam situações de preconceitos racial, social ou de gênero. Os alunos pesquisaram em casa e concluíram que Chaves, seriado mexicano exibido pelo SBT, era o campeão.

O personagem do título é maltratado pelos colegas por ser órfão, pobre e andar malvestido. Os estudantes começaram então a reparar como eles mesmos julgavam as pessoas pela aparência e, depois de um debate, concluíram que eles próprios são preconceituosos e que precisavam mudar de atitude. Tratando-se de ficção, é possível estimular a imaginação da turma solicitando aos alunos que escrevam desfechos diferentes para as telenovelas ou seriados ou proponham outros começos para a trama. Pode-se ainda propor que a produção do texto seja em uma versão em língua estrangeira.

 

Utilizando o conteúdo televisivo com seus alunos

Para que o uso desse recurso produza resultados positivos na aprendizagem, lembre-se:

1) Selecione as cenas que serão exibidas aos alunos, fazendo o recorte dentro dos seus objetivos. No caso das novelas e séries é possível utilizar os episódios que estão on-line nos canais oficiais das emissoras. Com o ensino remoto atual, você pode enviar esses trechos em grupos do WhatsApp, por exemplo.

2) Planeje as aulas propondo exercícios e atividades relacionadas ao vídeo: eles não podem ser exibidos como se fossem autoexplicativos.

3) Peça para os alunos anotarem as cenas mais importantes, as falas e os detalhes que forem marcantes.

 

Desenvolvendo e aprimorando o pensamento crítico

O primeiro tópico para incentivar o pensamento crítico de seus estudantes é tornar-se alguém questionador. Esse processo não acontece de uma hora para outra, então comece devagar, com perguntas encorajadoras. Nas primeiras fases você deve apenas mostrar os tipos de questão que podem surgir, mas com o tempo será preciso elevar o nível. Isso vai fazer com que seus alunos reflitam sobre os temas discutidos.

Desenvolver o pensamento crítico é incentivar as controvérsias. O objetivo dos temas polêmicos é fazer com que os estudantes reflitam e formem suas próprias opiniões, de maneira que as divergências devem ser bem acolhidas na tarefa. Se seus alunos têm opiniões diferentes, encoraje-os a demonstrá-las. Ouvir as suas opiniões é um passo, mas por que não ir além e deixá-los debater em favor de suas próprias ideias? A argumentação é peça fundamental no que se refere ao pensamento crítico, de maneira que um estudante precisa saber reconhecer quando está se apoiando nas justificativas erradas.

Promova debates on-line! Em vez de você dizer como um aluno está se saindo, deixe que os outros façam isso. Peça que os estudantes avaliem o desempenho do seu grupo e dos demais. Isso vai fazer com que eles sejam criteriosos com eles próprios e com seus colegas. O exercício será muito positivo para o conhecimento pessoal. Uma vez que você já ofereceu todos os recursos possíveis para que os estudantes pensem de maneira crítica, afaste-se e deixe que eles tomem conta da situação. Seu papel será apenas

mediar os debates e discussões. Interfira apenas quando a situação fugir do controle. Isso vai dar senso de responsabilidade à turma.

 

Planeje seu projeto com a novela das 9

Uma sugestão daquela edição foi a novela “A Força do Querer”, que por coincidência foi reprisada recentemente. E se existe algo comum a todo ser humano é que todos temos um sonho, um desejo, um querer, que diz respeito a amor, dinheiro, sucesso, identidade, poder, realização profissional. Os quereres são múltiplos e se interligam, interagem entre si nesse grande painel da convivência humana, harmonizando-se ou chocando-se uns com os outros. Movidos pelo querer, somos o tempo todo desafiados a fazer escolhas. E elas podem tanto nos fazer bem quanto se voltar contra nós.

Na novela “A Força do Querer”, escrita por Glória Perez, essas questões se traduzem através da história de diferentes personagens, seus quereres e suas opções. Mais uma vez, como é comum a todos os seus trabalhos, a autora vai falar de diversidade, de tolerância, das dificuldades de compreender e aceitar o que é diferente de nós. E do embate entre o querer (vontade) e os limites éticos e morais que permeiam nossas escolhas. Nesta atividade, o professor pode trabalhar com estudantes a partir de 12 anos, aplicando debates, dissertações, seminários, estimulando a busca de um processo de engajamento ao pensamento crítico.

E você, professor, o que achou dessa sugestão? Dá para trabalhar de forma remota e incentivar o diálogo entre os alunos nos encontros on-line ou grupos de WhatsApp. E se você realizar essa atividade, envie um relato contando mais detalhes para o nosso e-mail redacao@appai.org.br ou use a hashtag #souappai nas suas redes sociais. Vamos adorar ler e divulgar em nossas próximas edições!


Por Jéssica Almeida


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