Atividades de pesquisa e informática promovem maior integração em sala de aula

Por Antônia Lúcia

Oriunda do latim census, a palavra censo, que significa “conjunto dos dados característicos dos habitantes de uma localidade ou país, para fins estatísticos”, pode ter até passado despercebida entre os 39 alunos da 3.ª série do CIEP Presidente Agostinho Neto, localizado no bairro do Humaitá, zona sul da cidade. Entretanto, foi a partir de um levantamento realizado sobre o histórico de cada aluno – local de moradia e origem de suas famílias – que nasceu o Projeto Nosso Folclore. Você deve estar se perguntando o que tem a ver censo com folclore. É isso que você irá descobrir a partir de agora.

De acordo com a professora Amália Maria Mattos, em 2006, ela ficou responsável pelos alunos da 302, que, na ocasião, era formada pela junção de duas turmas do final do primeiro ciclo (antiga 2.ª série), quatro alunos novos e três repetentes. “Uma classe com diversas lideranças e muita dificuldade de convivência coletiva”, lembra a professora, enfatizando que, no ano anterior, a turma havia passado pela mudança de duas professoras – o que dificultou, ainda mais, a integração do grupo.

Após inúmeras tentativas de unificá-los, a professora procurou encontrar um ponto em comum para aproximá-los. Foi então que, segundo ela, surgiu a idéia de instigá-los a falar mais sobre as comunidades em que vivem e sobre a descendência de suas famílias. Trabalho delineado, Amália partiu para uma das fases mais longas do projeto: a pesquisa. “A proposta era que, a partir daquelas respostas, eu pudesse perceber um ponto de equilíbrio entre eles, explica”.

Em julho, os trabalhos começaram a apontar os primeiros resultados, ainda tímidos, segundo Amália, mas não menos importantes. “Os alunos perceberam, por exemplo, que são de 1.ª ou de 2.ª geração de famílias provenientes do nordeste brasileiro”, conta a professora, lembrando que quase todos os estudantes da turma residem nas comunidades da Rocinha, Vidigal, Ladeira dos Tabajaras, Botafogo, Copacabana, Jacarepaguá e Campo Grande.

Dando continuidade à elaboração do projeto, em agosto, mês em que se comemora o folclore, a professora ampliou o trabalho de pesquisa, pedindo aos aprendizes que montassem um questionário para que fosse respondido por seus pais, avós e vizinhos. Nessa enquete, os alunos buscaram informações sobre o local em que os entrevistados passaram a infância; do que brincavam, quais eram as brincadeiras de roda; as comidas, lendas, danças típicas e festas populares dos seus locais de origem.

A partir dos resultados trazidos pelas crianças, a professora selecionou os temas – lendas, cantigas de roda e comidas típicas – que têm relação com o folclore brasileiro e pediu à classe que buscasse mais informações na Internet, em jornais, revistas, livros didáticos da sala de leitura e sites educativos para que eles próprios falassem sobre essa parte do nosso folclore.

A fim de incrementar as pesquisas sobre comidas típicas, os docentes aproveitaram a vinda da gourmet Tereza Corção, que já ministra a oficina da mandioca há alguns anos na escola, para aprofundar, ainda mais, o trabalho da turma sobre o folclore. Durante as atividades, as crianças conheceram a história da produção de farinha no Brasil, encenaram uma peça sobre a lenda da mandioca e, ainda, prepararam deliciosas tapiocas. “Essa atividade culinária estimulou a produção de outros pratos típicos como o cuscuz, a paçoca e o bolo de fubá, cujas receitas fazem parte da coletânea de 20 comidas típicas da cozinha brasileira, elaborada pelos alunos com a ajuda de seus familiares”, orgulha-se Amália.

Com a orientação da professora de Artes Plásticas Jaqueline, os alunos adaptaram os personagens encenados na lenda da mandioca e os transformaram numa animação em stop-motion – modalidade de animação que utiliza modelos reais em diversos materiais, dentre eles a massa de modelar ou a massinha. Movidos pelo bom desempenho alcançado nas áreas de Artes e Informática, os alunos resolveram confeccionar, também, uma maquete mostrando a lenda da Iara, deusa das águas, um dos seres mitológicos mais populares da Amazônia.

Material na mão! E, agora, o que fazer com tantas informações? Essa foi uma das indagações feita por Amália à turma. “Convoquei a classe para discutirmos o que fazer com aqueles dados, que eram bons demais para ficar somente entre eles. Os alunos levantaram três hipóteses: criar um jornal, um livro ou uma apresentação no computador. Sugeri que fizéssemos então um Software Educativo e um VCD com a animação feita por eles (alunos) sobre as lendas da mandioca e da Iara, uma vez que ficou claro que o uso da mídia era um ponto de interesse em comum entre os grupos”.

Produzir um VCD e um Software Educativo não resolveu por completo o problema da turma, é o que diz Amália, mas foi um meio de uni-los, permitindo que os alunos que tinham dificuldade de convívio conseguissem ultrapassar essa barreira. “Eu, como professora, cada vez mais acredito que um trabalho integrado por uma área de interesse só pode motivar e gerar um bom processo pedagógico. Juntar dois pontos convergentes – o histórico e a mídia – gerou este projeto em que o tema central é mais que o folclore. É, na verdade, a valorização da produção de cada aluno dentro de um trabalho colaborativo”, justifica a professora, admitindo que esse é apenas o primeiro passo, pois ainda tem muita coisa para ser desenvolvida, inclusive, o jornalzinho.

CIEP Presidente Agostinho Neto
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Fotos cedidas pela escola.
Iustração: Patricia Rocha