Por Antônia Lúcia

“O principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram; homens que sejam criativos, inventores e descobridores” (Jean Piaget). Baseada nas teorias de Piaget e do psicólogo Howard Gardner, autor da proposição das inteligências múltiplas, a psicopedagoga e professora de Educação Artística Iguacyra Almeida da Silva Rios, docente do Centro Educacional Barão de Lucena, localizado em Mesquita, desenvolveu, entre os alunos de 5.ª e 6.ª séries, o projeto Colcha de Ludilhos, cujo nome veio da junção das palavras lúdico + retalhos.

Uma das propostas do projeto era desenvolver uma atividade que estabelecesse um melhor relacionamento entre os grupos das classes. “Analisando as múltiplas inteligências – lógico-matemática, corporal-cinestésica, musical, interpessoal, intrapessoal, naturalista, existencialista e pictórica –, pude abrir meus olhos para as aptidões dos alunos. Passei a não me preocupar com o que eles não sabiam, mas, sim, com aquilo que eles saibam e sabiam muito bem: brincar”, diz a professora, acrescentando que, se todos aprendem a brincar e brincam bem, por que não aprender os conteúdos estabelecidos pelo programa escolar, brincando?

Partindo dessa premissa, Iguacyra realizou várias dinâmicas de entrosamento e relacionamento com as turmas. Em outro momento, a docente pediu que eles trouxessem de casa seus jogos prediletos e dissessem os motivos pelos quais esses jogos eram tão importantes. Familiarizados com o projeto e as atividades desenvolvidas em sala, os aprendizes foram estimulados a mostrar seu lado artís­tico desenhando jogos em uma folha de cartolina. Apesar do excelente resultado, alunos e professores perceberam que ainda havia necessidade de criar algo que, além da função lúdica, servisse também como instrumento pedagógico.

Com o objetivo de criar meios que unissem o lúdico ao didático, a professora teve a idéia de substituir o papel convencional por pedaços de tecidos, a fim de incentivar os estudantes a delinear os jogos ou os brinquedos que mais influência tiveram no processo de construção de sua aprendizagem. “Cada aluno recebeu um pedaço de pano e desenhou o seu jogo predileto naquele retalho. Ao final da atividade, recolhemos todos os trabalhos e emendamos um no outro, formando uma grande colcha de retalhos de jogos, em que cada parte expressava, na verdade, a construção criativa de cada participante”, afirma Iguacyra.

Na opinião da professora, com essa atividade, foi possível reunir a turma em torno da colcha e fazer com que cada um jogasse o seu próprio jogo ou o do colega de classe, justifica a psicopedagoga, reafirmando a teo­ria de Piaget de que “o jogo é uma forma de atividade particularmente poderosa para estimular a vida social e a atividade da criança”.

Embora o conteúdo estudado fizesse parte do projeto, segundo os alunos, a descoberta da importância do jogo como agente facilitador do aprendizado foi um diferencial a mais na elaboração dos trabalhos, explica Iguacyra. “Ao descobrirem que os jogos não eram mais encarados como algo pejorativo, de pouco valor, e que, através dessas atividades, eles poderiam demonstrar seu interior e melhorar a maneira de entender o mundo dos adultos, através dessas brincadeiras, os alunos perceberam como é difícil tomar decisões, obedecer às regras e mesmo criá-las”.

Durante a culminância, envoltos pela magia propor­cionada pelas atividades realizadas no projeto, as turmas expuseram seus trabalhos e transformaram a quadra da escola em uma grande área de lazer, com direito a várias brincadeiras, entre elas: queimado, corrupio, cabra-cega; pique; batata-quente; jogos de tabuleiro; quebra-cabeça; jogo da memória; xadrez; bingo; jogo da velha e outras, praticamente esquecidas pelos mais jovens.

Ainda no pátio, Iguacyra e seus alunos reservaram um espaço para estender as colchas de reta­lhos nas quais as crianças de outras turmas puderam dividir suas experiências e participar dos jogos. “Neste momento, nós passamos de alunos a multiplicadores e orientadores de outros colegas”, relembra um dos alunos envolvidos no projeto.

De acordo com a psicopedagoga, esse trabalho representou uma grande transformação no cotidiano dos seus alunos, sobretudo em relação à aprendizagem e à integração dos grupos. Para ela, a partir dessa e de outras atividades, percebeu-se o maior envolvimento desses alunos em relação aos conteúdos mais formais, exigidos pelos currículos, e notou-se uma melhora significativa nos relacionamentos.

“Entendemos que o bom humor agora é parte integrante do dia-a-dia de nossos alunos”, comemora a docente, afirmando que as nossas crianças precisam expressar suas inteligências através do corpo, da criação, das relações inter e intrapessoal, de sua relação com a natureza e com o próprio planeta, embasando, dessa forma, a visão do professor e pesquisador Vygotsky, contemporâneo de Piaget, de que “as atividades lúdicas, além de auxiliarem a criança a compor a sua própria personalidade, desafiam e motivam professores a buscar a exploração, a reflexão, a descoberta, a cooperação e a aceitação de modelos de crianças ativas, interativas, criativas e exploradoras”.

Dentro dessa ótica, o jogo da amarelinha passa a ser o jogo da Amarelinha do Coração, no qual os jogadores têm de pular de braços dados. A professora vai fazendo as ligações e sugerindo mudanças nas regras para atender às dificuldades matemáticas desses alunos que brincam. Dessa forma, a turma e o aluno com dificuldade de aprendizagem compreenderão, com facilidade, o cálculo mental e as quatro operações – por meio das regras criadas por eles –, estimulando a comparação constante entre os jogadores e desen­volvendo as conotações gráficas para comparações posteriores. Além de contribuir para a memorização da seqüência numérica e desenvolver o raciocínio espacial, o jogo também beneficia o tônus muscular através da ação de pular.

Conceitos que você pode ensinar com os jogos

O aluno, enquanto joga, desenvolve vários conceitos das disciplinas de Língua Portuguesa, Ciências, História etc. Através dos jogos, os conhecimentos e saberes ligados às disciplinas serão melhores construídos. Tanto os brinquedos quanto as brincadeiras constituem um sistema de signos, uma linguagem que precisamos aprender a ouvir, a decifrar e a compreender.

Atuação do Psicopedagogo com os jogos

Para avaliar e intervir no processo de dificuldade de aprendizagem do aluno, o psicopedagogo pode utilizar os jogos como ferramenta de trabalho, uma vez que as atividades ativam os esquemas de conhecimento colaborando na aquisição de um novo aprendizado, além de integrar fatores cognitivos e afetivos que atuam no consciente e inconsciente da conduta do aluno, já que o jogo, segundo Piaget, é um tipo de recurso particularmente poderoso para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança. O psicopedagogo deve compreender as manifestações simbólicas e procurar adequar as atividades lúdicas às necessidades do aluno.

Avaliação

Na aprendizagem, os jogos têm um papel importante, pois estimulam os alunos a:

  • Observar
  • Identificar
  • Comparar
  • Classificar
  • Conceituar
  • Relacionar
  • Interferir


Centro Educacional Barão de Lucena
End.: Rua Emílio Guadany, n.º 1507 – Mesquita – RJ. CEP.: 26240-160.
Tel: (21) 2696-7486
Diretora: Ângela Sandra Loyola
Professora de Educação Artística, Psicopedagoga e Psicomotricista: Iguacyra Rios