“O principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram; homens que sejam criativos, inventores e descobridores” (Jean Piaget). Baseada nas teorias de Piaget e do psicólogo Howard Gardner, autor da proposição das inteligências múltiplas, a psicopedagoga e professora de Educação Artística Iguacyra Almeida da Silva Rios, docente do Centro Educacional Barão de Lucena, localizado em Mesquita, desenvolveu, entre os alunos de 5.ª e 6.ª séries, o projeto Colcha de Ludilhos, cujo nome veio da junção das palavras lúdico + retalhos.
Uma das propostas do projeto era desenvolver uma atividade que estabelecesse um melhor relacionamento entre os grupos das classes. “Analisando as múltiplas inteligências – lógico-matemática, corporal-cinestésica, musical, interpessoal, intrapessoal, naturalista, existencialista e pictórica –, pude abrir meus olhos para as aptidões dos alunos. Passei a não me preocupar com o que eles não sabiam, mas, sim, com aquilo que eles saibam e sabiam muito bem: brincar”, diz a professora, acrescentando que, se todos aprendem a brincar e brincam bem, por que não aprender os conteúdos estabelecidos pelo programa escolar, brincando?
Partindo dessa premissa, Iguacyra realizou várias dinâmicas de entrosamento e relacionamento com as turmas. Em outro momento, a docente pediu que eles trouxessem de casa seus jogos prediletos e dissessem os motivos pelos quais esses jogos eram tão importantes. Familiarizados com o projeto e as atividades desenvolvidas em sala, os aprendizes foram estimulados a mostrar seu lado artístico desenhando jogos em uma folha de cartolina. Apesar do excelente resultado, alunos e professores perceberam que ainda havia necessidade de criar algo que, além da função lúdica, servisse também como instrumento pedagógico.
Com o objetivo de criar meios que unissem o lúdico ao didático, a professora teve a idéia de substituir o papel convencional por pedaços de tecidos, a fim de incentivar os estudantes a delinear os jogos ou os brinquedos que mais influência tiveram no processo de construção de sua aprendizagem. “Cada aluno recebeu um pedaço de pano e desenhou o seu jogo predileto naquele retalho. Ao final da atividade, recolhemos todos os trabalhos e emendamos um no outro, formando uma grande colcha de retalhos de jogos, em que cada parte expressava, na verdade, a construção criativa de cada participante”, afirma Iguacyra.
Na opinião da professora, com essa atividade, foi possível reunir a turma em torno da colcha e fazer com que cada um jogasse o seu próprio jogo ou o do colega de classe, justifica a psicopedagoga, reafirmando a teoria de Piaget de que “o jogo é uma forma de atividade particularmente poderosa para estimular a vida social e a atividade da criança”.
Embora o conteúdo estudado fizesse parte do projeto, segundo os alunos, a descoberta da importância do jogo como agente facilitador do aprendizado foi um diferencial a mais na elaboração dos trabalhos, explica Iguacyra. “Ao descobrirem que os jogos não eram mais encarados como algo pejorativo, de pouco valor, e que, através dessas atividades, eles poderiam demonstrar seu interior e melhorar a maneira de entender o mundo dos adultos, através dessas brincadeiras, os alunos perceberam como é difícil tomar decisões, obedecer às regras e mesmo criá-las”.
Durante a culminância, envoltos pela magia proporcionada pelas atividades realizadas no projeto, as turmas expuseram seus trabalhos e transformaram a quadra da escola em uma grande área de lazer, com direito a várias brincadeiras, entre elas: queimado, corrupio, cabra-cega; pique; batata-quente; jogos de tabuleiro; quebra-cabeça; jogo da memória; xadrez; bingo; jogo da velha e outras, praticamente esquecidas pelos mais jovens.
Ainda no pátio, Iguacyra e seus alunos reservaram um espaço para estender as colchas de retalhos nas quais as crianças de outras turmas puderam dividir suas experiências e participar dos jogos. “Neste momento, nós passamos de alunos a multiplicadores e orientadores de outros colegas”, relembra um dos alunos envolvidos no projeto.
De acordo com a psicopedagoga, esse trabalho representou uma grande transformação no cotidiano dos seus alunos, sobretudo em relação à aprendizagem e à integração dos grupos. Para ela, a partir dessa e de outras atividades, percebeu-se o maior envolvimento desses alunos em relação aos conteúdos mais formais, exigidos pelos currículos, e notou-se uma melhora significativa nos relacionamentos.
“Entendemos que o bom humor agora é parte integrante do dia-a-dia de nossos alunos”, comemora a docente, afirmando que as nossas crianças precisam expressar suas inteligências através do corpo, da criação, das relações inter e intrapessoal, de sua relação com a natureza e com o próprio planeta, embasando, dessa forma, a visão do professor e pesquisador Vygotsky, contemporâneo de Piaget, de que “as atividades lúdicas, além de auxiliarem a criança a compor a sua própria personalidade, desafiam e motivam professores a buscar a exploração, a reflexão, a descoberta, a cooperação e a aceitação de modelos de crianças ativas, interativas, criativas e exploradoras”.
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