Consideradas as disciplinas mais temidas pelos alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, as matérias ligadas às áreas de ciências exatas têm, ao longo do tempo, deixado muita gente de “cabelo em pé”. Para mudar esse panorama, pelo menos na escola em que leciona, a professora de Física Adriana Oliveira Bernardes idealizou o projeto interdisciplinar intitulado Astronomia para Crianças: um Universo de Descobertas, desenvolvido entre os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, do Colégio Estadual Teotônio Brandão Vilela, localizado em Itaocara, noroeste fluminense.
 Inconformada com o grau de dificuldade demonstrado pelos aprendizes acerca dos ensinamentos de Física, Matemática e Química, Adriana decidiu desenvolver um projeto que despertasse o interesse dos estudantes e, conseqüentemente, melhorasse os processos de ensino e aprendizagem das turmas.“Existem alunos que não conseguem responder a uma pergunta de Física porque não sabem resolver uma equação do primeiro grau ou, ainda, porque não conseguem interpretar a questão”, lamenta a professora, que, por vivenciar essa triste realidade na educação brasileira, sentiu-se motivada a implementar o projeto Astronomia na Escola.
“Como a Astronomia engloba quase todas as disciplinas dessas áreas, concluí que, através da exploração desse tema, poderíamos estimular os alunos desde as séries iniciais do 1.º segmento”, diz Adriana, acrescentando que a proposta é de que, com essa iniciativa, ao chegar às séries mais adiantadas, os estudantes já tragam consigo o gosto não só pela Astronomia, mas por todas as áreas de exatas que estão inseridas nesse contexto, visto que as dificuldades encontradas por eles para resolver um problema de Física, por exemplo, estão ligadas, indiretamente, à falta de conhecimentos de Matemática, Português e outras disciplinas.
 Mas como fazer para estimular o interesse dos alunos pela Astronomia? O primeiro passo, conta Adriana, foi procurar, principalmente nas turmas de 7.ª e 8.ª séries, alunos que estivessem dispostos a pesquisar, estudar, apresentar e repassar para os demais colegas os conhecimentos adquiridos. Após conseguir um certo número de voluntários, a física Adriana fundou o Clube de Astronomia Marcos Pontes, cujo nome foi escolhido em homenagem ao astronauta brasileiro. Segundo ela, a intenção do clube é divulgar a ciência na escola através de atividades lúdicas, palestras, debates, encenações, exposições e todo tipo de trabalho que seja pertinente ao tema.
Com o objetivo de despertar o interesse dos principiantes pela ciência, alunos e professores resolveram realizar, na escola, As Tardes de Astronomia. Nesses encontros, aprendizes da 7.ª e 8.ª séries organizaram várias atividades para as crianças de 1.ª a 4.ª série e para os alunos da Classe Especial. Na III edição do evento, os estudantes Anderson Madeira, Manolo Frankito, Maycon Linhares e Elivelton Corrêa falaram sobre a vida de renomados cientistas como Edwin Hubble, a fim de ajudar as crianças das séries iniciais a entender melhor os conceitos básicos dessa área da ciência.
“As crianças do colégio – na verdade, o nosso público-alvo – ficaram maravilhadas com as Tardes de Astronomia, demonstrando total interesse por tudo que estava acontecendo”, garante a professora, lembrando que se dedicar à área de ensino é um compromisso sério. “Nesses 11 anos de trabalho com educação, pude observar como os alunos sentem dificuldade e como, muitas vezes, o interesse deles é escasso. Daí a necessidade de desenvolver o interesse pela ciência ainda na infância”, explica.
Semana de Astronomia
 Em função dos bons resultados obtidos em sala, a equipe docente da escola decidiu realizar a I Semana de Astronomia do Colégio Estadual Teotônio Brandão Vilela, fechando as atividades do Projeto Astronomia para Crianças, do ano de 2006. Além dos painéis explicativos e workshops, a comunidade escolar participou de palestras com o professor Marcelo de Oliveira Souza, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), e com os membros do Clube de Astronomia Louis Cruls, do Cefet de Campos.
Como parte das comemorações da Semana de Astronomia, os discentes realizaram, paralelamente ao evento, a I Olimpíada Interna de Astronomia. De acordo com a diretora do colégio, Jussara Azevedo, o objetivo foi mostrar aos alunos que eles têm condições e conhecimentos para apresentar trabalhos atraentes e produtivos. “Foi um evento que  envolveu toda a escola, professores, alunos e os pais, que, motivados pelo interesse dos filhos, ajudaram na preparação das provas”, destaca Jussara Azevedo.
Entusiasmados com a possibilidade de ter seus trabalhos divulgados em outros locais, os alunos da 8.ª série inscreveram-se na II FECTI – Feira Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação –, concorrendo na categoria Trabalhos da 8.ª série. Para a alegria da equipe, um dos projetos orientados pela professora Adriana, intitulado Radioatividade: você sabe o que é?, conquistou a primeira colocação na categoria Interdisciplinar. “É muito importante que estas feiras ocorram, principalmente porque valoriza o trabalho do professor e aumenta a auto-estima dos grupos, pois eles (os alunos) sentem-se estimulados a galgar degraus maiores”, justifica.
 De acordo com a direção do colégio, esse ano, o projeto entrou em uma nova fase, com aulas regulares ministradas pelos alunos-monitores do Clube de Astronomia. É o caso do estudante Manolo, que, desde que começou a freqüentar o Clube de Astronomia Marcos Pontes, teve o seu interesse despertado pelo assunto. “Por participar do projeto, tive o prazer de conhecer o astronauta Marcos Pontes e isso me estimulou muito a estudar Astronomia. Também aprendi várias coisas sobre Informática preparando o material para as Tardes de Astronomia”, relata. Já Anderson conta que, desde que se tornou aluno-monitor, tem trabalhado diretamente com as crianças ensinando Astronomia. “Essa troca ajudou-me a abrir novos horizontes nos conhecimentos das demais disciplinas como Geografia, Informática e outras”.
Outra novidade, no Teotônio Brandão Vilela, é a confirmação, por parte da equipe pedagógica, da realização da II Olimpíada Interna de Astronomia, cujo objetivo é servir de preparatório para a Olimpíada Brasileira de Astronomia, que acontece em nível nacional.
Ao falar sobre os efeitos práticos do projeto, a co-orientadora Arleidimar Ramos dos Santos garante que, para os alunos envolvidos, desenvolver o interesse pelas ciências passou a ser muito mais um prazer do que um objetivo. “Percebemos isso através de comentários dos pais, das buscas dos professores das turmas por novas informações e, principalmente, pelo entusiasmo com que esses alunos estão participando e comentando as atividades realizadas. A integração entre os envolvidos no projeto faz com que, na prática, o trabalho desenvolvido transforme família e escola em parceiros, levando a Astronomia a fazer parte da convivência diária desses jovens e transformando-os em experimentadores e pesquisadores”, finaliza.
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