Ao professor

A Geografia é uma ciência complexa. Seu ensino envolve conteúdos que perpassam outras ciências, suscitando enfoques diferenciados. Despertar o olhar consciente ao meio em que vivemos é uma das tarefas principais da Geografia.

A atividade que estamos propondo pode ser realizada como um instrumento detonador para o questionamento e análise do meio. Nosso principal objetivo é o despertar crítico para os problemas que envolvem o uso do solo, tanto urbano como rural. Experimentos em sala de aula permitem aos alunos e professores observarem e analisarem objetos e fenômenos que fazem parte do cotidiano, mas que passam despercebidos ou cujas explicações de senso comum destoam das análises e conclusões produzidas pela ciência.

Apresentação

A temática ambiental envolve vários conteúdos trabalhados em Geografia. Entre esses conteúdos, estão os processos erosivos e seus impactos na sociedade. Como mostrar para nossos alunos a importância de conservar o solo? Como construir a noção da necessidade de preservar a cobertura vegetal como forma de conter os processos erosivos? Responder e explicar as questões acima são os eixos norteadores desta oficina.

É importante mostrar aos alunos que os processos erosivos não resultam apenas de causas naturais; podem ser produzidos também pelo homem ou ter sua ação intensificada por ele. Quando tratamos de erosão em sala de aula, fica claro para o aluno que os processos erosivos também atuam no interior do solo?

Tanto em sala de aula como em campo, o espaço educativo deve ser questionador, construindo novos conhecimentos. A realização de experiências de aferição de fenômenos naturais é uma importante aliada do professor nas atividades educativas, estimulando o espírito investigativo.

A experiência desta oficina pode facilitar a compreensão de alguns processos desencadeados pela relação entre o solo e a água, mais especificamente o comportamento da água em função das características do substrato. Além disso, pretendemos que a atividade leve nossos alunos a potencializar as capacidades de: trabalhar em grupo; valorizar a coleta e mensuração dos dados na pesquisa científica; trabalhar as informações em gráficos e tabelas; e estabelecer hipóteses para os fenômenos observados.

Uma dúvida puxa outra...


• Podemos fazer um solo?

• Todo solo tem horizontes?

• Dunas são solos?

• Um substrato com vegetação bem desenvolvida pode ser chamado de solo?

• Qual o fator mais importante na formação do solo, o clima ou a geologia?

• A terra roxa é roxa?

• Alguns solos secam mais rapidamente do que outros? Por que certas áreas não alagam mesmo com chuvas intensas?

• O que são solos arenosos?

• O que são solos argilosos?

Aplicações em sala de aula

Observando o programa de conteúdos de Geografia, vemos, tanto no Ensino Fundamental como no Médio, que a ordem e o tempo destinados à aprendizagem desses conteúdos apresentam uma variação. Essa variação geralmente está ligada à orientação do projeto político-pedagógico, ao livro didático adotado pela escola e à formação do professor.

Só você, professor, pode avaliar a viabilidade e as adaptações necessárias para realizar essa experiência com seus alunos.
Nos links abaixo, de forma genérica, procuramos relacionar a oficina aos programas dos Ensinos Fundamental e Médio. Você pode identificar o melhor momento e a viabilidade de aplicar essa experiência com seus alunos.

Experiência

A água nos diferentes solos

Com o auxílio de materiais simples, podemos observar, junto aos nossos alunos, as diferentes características dos solos.

Material necessário:

• 6 garrafas PET transparentes
• 3 tampas de garrafas PET
• 3 tiras de barbante com 40cm cada
• tesoura para cortar as garrafas
• 1 prego
• areia
• argila (barro)
• cascalho ou pedra britada
• esmalte ou caneta para retroprojetor
• 1 ripa de madeira ou cabo de vassoura
• 3 filtros de papel para café

Procedimentos

A) Os instrumentos de aferição

1.ª ETAPA:
Corte o fundo de 3 garrafas a partir de 5 centímetros de sua base. Pegue as 3 tampas das garrafas e fure-as com um prego quente. O furo deve ter aproximadamente 5mm.

2.ª ETAPA:
Corte a parte superior das 3 garrafas restantes a partir de 10 centímetros do gargalo.
Obs.: Você pode pular essa etapa, se possuir um béquer ou outro recipiente graduado de 50ml em 50ml e com volume igual ou superior a 1 litro.

Pegue um recipiente graduado como, por exemplo, uma mamadeira ou a jarra do liqüidificador e preencha com 50ml de água. Despeje a água em uma das garrafas com o gargalo cortado e marque a altura da água na garrafa com esmalte ou com a caneta de retroprojetor. Execute esse procedimento por 20 vezes, ou seja, até que a garrafa esteja graduada de 50ml em 50ml, num total de 1 litro. O objetivo é obter um recipiente graduado similar a um béquer de laboratório. Repita esse mesmo procedimento para as outras 2 garrafas com o gargalo cortado.

3.ª ETAPA:
Faça 4 furos nas bordas de cada uma das garrafas com o fundo cortado.
Amarre o barbante nos furos das garrafas formando uma alça.
Apóie horizontalmente a barra de madeira em duas cadeiras e pendure as três garrafas pelas alças.

Procedimentos

B) O tratamento das amostras

1.ª ETAPA:
Reserve o substrato argiloso em um recipiente e coloque ao sol para secar. Depois, com um rolo de macarrão ou um recipiente redondo, comece a destorroar a amostra. Peneire a amostra com uma peneira bem fina, como as de confeiteiro. Esse procedimento é necessário para que a amostra fique com a maior porcentagem possível de argila e também para eliminar pedras e raízes que possam estar misturadas na amostra. Pese a amostra e anote o valor.

2.ª ETAPA:
Reserve a areia em um recipiente e, com um rolo de macarrão ou um recipiente redondo, comece a destorroar a amostra. Peneire a amostra com uma peneira simples, como as de coar suco. Pese a amostra e anote o valor.

3.ª ETAPA:
Preencha a garrafa A com cascalho ou brita, a garrafa B com areia e a garrafa C com o substrato argiloso. É importante que o volume de material colocado nas garrafas seja semelhante. Portanto, sugerimos um volume de 600ml.

Observação: Não se preocupe em igualar o peso das amostras, pois esses materiais possuem densidades diferentes.

Procedimentos

C) A coleta dos dados

4.ª ETAPA:
Posicione as garrafas graduadas embaixo das garrafas suspensas. Coloque o filtro de papel dentro das garrafas graduadas, de forma que possam reter os sedimentos que venham a escoar junto com a água das garrafas superiores. Deixe a postos o relógio, ou cronômetro, a caneta esferográfica e o bloco de papel.

Despeje 500ml d’água na garrafa A e marque o tempo que a água levou para se infiltrar na amostra e atingir o ponto de saturação, ou seja, o tempo que levou para percolar (transpassar) entre os sedimentos e cair na garrafa graduada. Em seguida, marque o tempo que a água leva para percolar todo o sedimento e preencher a garrafa graduada, tendo por referência as marcas a cada 50ml.

Repita esse mesmo procedimento nas garrafas B e C.

5.ª ETAPA:
Com os dados obtidos, construa uma tabela (veja nossa sugestão) e gráficos para ilustrar a diferença de tempo que a água leva para percolar nesses três tipos de sedimentos.

6.ª ETAPA:
Pegue os sedimentos que ficaram retidos nos filtros de papel e coloque-os para secar. No caso do solo mais argiloso, a espera será de, no mínimo, 48 horas em ambiente seco. Pese as amostras. Com os dados obtidos, você poderá calcular a taxa de perda interna de sedimentos do solo nas amostras. Basta que subtraia o valor do peso dos sedimentos retidos no filtro de papel do valor do peso total da amostra antes da experiência.

Questões para análise

1. Toda água que foi despejada infiltrou? Por quê?

2. Se o material que você colocou nas garrafas estivesse compactado (socado), o comportamento da água e o tempo que ela levou para infiltrar e percolar seriam os mesmos?

3. E se os materiais fossem misturados? Qual seria o resultado?

4. Quando jogamos a água nas garrafas com o substrato, podemos observar, de forma genérica, até dois momentos. No primeiro, a água infiltra-se no substrato e atinge um ponto de saturação. No segundo, a água passa a percolar os sedimentos em um fluxo mais ou menos constante até se extinguir.

• Esse comportamento pode ser observado nos três tipos de substrato?
• Com os dados da tabela que você elaborou, represente os extremos desse comportamento em um gráfico. Descreva e explique as diferenças observadas.

Sugestão de atividades com os alunos

Durante essa experiência, nossos alunos poderão observar algumas das características que diferenciam os solos. Contudo, ao trazermos essas particularidades para espaços presentes em seus cotidianos, estaremos possibilitando uma melhor aprendizagem desses conteúdos. Por isso, também sugerimos como atividade a seleção de locais próximos à escola onde seus alunos possam visualizar alguns dos fenômenos que podem ser discutidos nessa experiência em sala de aula.

Exemplos:

• corte de morros ou estradas;
• praias e margens de lagoas;
• manguezais;
• terraços de rios;
• voçorocas e ravinas;
• campo de futebol gramado e de areia.



Obs.: Matéria extraída do site do Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), em 08/03/07: www.educacaopublica.rj.gov.br/cursos/geografia/solo/01__ao_prof.htm.
Ilustração: Patricia Rocha