Os desafios diários fizeram com que os alunos se tornassem mais participativos e com um enorme desejo de aprender
O projeto, elaborado como se fosse um jogo, é composto por sete etapas: cada aluno que chega ao final do desafio recebe, como prêmio, os
aplausos de toda a turma

O projeto Caminho da Leitura, implantado na escola, acelerou o processo de alfabetização dos alunos da C.A. à 2.ª série do Ensino Fundamental

Por Tony Carvalho

Da descoberta das primeiras letras à emoção de ler com desenvoltura os primeiros textos. Essa é a experiência que vem contagiando alunos e professores da Escola Municipal Ignácio Lucas, em Coelho da Rocha, desde a implantação do projeto Caminho da Leitura. Tudo começou em 2005, quando a orientadora pedagógica Marilene Rangel – juntamente com a direção da escola e a equipe de professores – diagnosticou que o grande vilão do baixo rendimento dos alunos do 1.º ciclo (Classe de Alfabetização à 2.ª série do Ensino Fundamental) era a desmotivação das crianças e o descompromisso dos pais.

Para reverter o quadro, os educadores da escola decidiram apostar numa tática infalível nessa faixa etária: transformar as atividades de alfabetização em um divertido jogo. “Criança gosta de brincadeiras e de desafios. Partindo desse paradigma, propusemos a criação de etapas, simulando um jogo no qual as crianças pudessem perceber em que ponto elas estavam e, assim, se sentissem motivadas a caminhar”, justifica Marilene.

A partir daí, cada professora lançou mão de um método. A professora Cátia Almeida fez um trenzinho no qual o aluno, à medida que melhora o seu desempenho, percorre estações, indo para etapas posteriores como em um videogame; a professora Nany dos Santos criou uma corrida de Fórmula 1; e a professora Sueli Bandeira, uma escada cujo desafio é chegar ao topo. Em todos esses métodos foram mantidas as mesmas sete etapas que devem ser alcançadas por cada aluno individualmente: vogais – alfabeto – sílabas trabalhadas – palavras simples – frases – texto simples – estação da leitura (etapa final do jogo, quando o aluno já consegue ler com desenvoltura).

A implantação do projeto modificou radicalmente o ambiente escolar. Se, antes, a maioria dos alunos com mais dificuldades na aprendizagem apresentava sinais de baixa estima, os desafios diários fizeram com que eles se tornassem mais participativos e com um enorme desejo de aprender. “A competição não é entre os colegas, mas com ele próprio. É essa vontade de ir cada vez mais longe que está fazendo a diferença. Nós mudamos o foco: em vez de pedir aos pais para desligarem a televisão para os filhos se dedicarem à leitura, passamos a motivá-los de tal forma que, agora, são eles próprios que fazem questão de aprimorar a sua leitura”, complementa Marilene.

A professora Nany trabalha com os alunos do primeiro ano do ciclo e acompanha, com emoção, os avanços que o projeto tem proporcionado. “Até mesmo aqueles que apresentam um rendimento mais lento vão conseguindo superar seus próprios limites. Quando percebem que estão caminhando, é uma grande conquista para os próprios alunos e para toda a turma, que comemora com aplausos”, conta a professora.

O aluno Wendell Gonçalves é um dos exemplos da eficácia do projeto. Ele ainda está no primeiro ano do ciclo e já demonstra habilidade suficiente para interpretar textos. “Quanto mais eu prosseguir, mais distante eu vou. Já cheguei ao final do jogo e ainda tenho mais dois anos para aprimorar a minha leitura”, comemora.

Os alunos que já estão no último ano do ciclo e já dominam a leitura e a escrita já trabalham com a produção textual a partir da leitura de jornais. A professora Sueli desenvolve uma atividade em que são apresentadas imagens e os alunos constroem textos a partir do que eles vêem.

“Muitos alunos dessa turma não liam. O projeto deu uma nova motivação a eles. Hoje eles escrevem, lêem, criam poemas e já chegaram até a produzir um livro de poesias. Como educadora, sinto-me realizada, tão feliz quanto eles. Partindo da realidade dessas crianças, a descoberta da leitura dá a elas um novo sentido para suas vidas. Eles melhoraram a auto-estima e, agora, sentem-se preparados para novos desafios”, afirma. Ronaldo da Silva Aguiar, aluno do último ano do ciclo, relembra a emoção do dia em que aprendeu a ler: “A cada etapa que eu conseguia superar, ficava muito feliz. Quando percebi que já estava lendo, fiquei radiante e queria contar a novidade para todo mundo”.

Para a diretora da escola, professora Ivone Loyola, o projeto Caminho da Leitura pode ser definido como um resgate da cidadania. “Toda a escola se envolveu nesse processo, fazendo com que os pais também passassem a ser mais participativos. Hoje, podemos dizer que a escola respira leitura”, conclui.


Escola Municipal Ignácio Lucas
End.: Rua do Chumbo, 513 – Coelho da Rocha – São João de Meriti – RJ. CEP.: 25550-270.
Orientadora Pedagógica: Professora Marilene Rangel
Tel.: (21) 9268-7099
Fotos: Tony Carvalho