Ansiedade na escola

Como a escola pode identificar um aluno ansioso? A ansiedade interfere na aprendizagem? Para responder essas e outras questões conversamos com uma especialista no assunto. Confira!


Cada indivíduo reage aos desafios da vida de uma maneira específica. Duas crianças, por exemplo, mesmo que sejam de uma mesma família, que tenham o mesmo pai e a mesma mãe se relacionam com essa parentela em um tempo diferente. Sendo assim, aprendem de maneira diversa também. O que para uma pessoa pode ser considerado comum, para outra pode causar ansiedade. Um sentimento de incômodo que o indivíduo não controla e geralmente está relacionado a situações de antecipação de problemas. Na editoria “Vale a pena ler de novo” dessa edição, a Revista Appai Educar resgatou uma matéria que aborda justamente essa temática. 

Na escola, o mais comum é o transtorno de ansiedade de separação, onde a criança se recusa a se separar das pessoas próximas, demonstrando dificuldade de entrar na instituição ou na sala de aula. Mas, afinal, como a escola ou o professor podem identificar um aluno ansioso? Por que é importante para o docente se importar com o nível de ansiedade dos estudantes? A ansiedade interfere na aprendizagem? Que tipo de comportamento da parte do professor pode aumentar o nível de ansiedade nos alunos? Para responder essas e outras perguntas, convidamos a psicopedagoga Cristiane Guedes, que explicou em detalhes essas questões para a Revista Appai Educar. Confira! 

Como a escola ou o professor podem identificar um aluno ansioso?

A mestre em Psicanálise e especialista em Neurociência explica que as reações, por se tratarem de indivíduos, podem ser diversas. Na maioria das vezes caracterizadas por um medo específico fora de proporção em relação a um risco eminente, que por sua vez é representado por fobias. “Estas se apresentam, por exemplo, como medo exacerbado de animais, do ambiente ou de ferimentos. Podem aparecer também por mutismo seletivo, que seria um comportamento de esquiva, de afastamento do grupo. Além dessas questões abordadas, ainda é comum na escola o transtorno de ansiedade de separação, onde a criança se recusa a se desligar das figuras parentais, com problemas para entrar nas dependências ou na sala de aula”, pontua. Cristiane ressalta ainda que esses são sintomas que devem ser avaliados pela equipe pedagógica. A família deve ser informada para que possa buscar uma ajuda especializada. Em se tratando de criança, é importante que se procure o auxílio do pediatra que a acompanha para uma indicação específica. 

 

Por que é importante para o professor se importar com o nível de ansiedade de seus alunos?

De acordo com a especialista, é importante que o professor esteja atento à criança quando alguns desses sintomas são reconhecidos. A pessoa acometida pelo transtorno de ansiedade pouco se identifica com as questões da aprendizagem. O temor eminente nesse momento torna-se mais real e inviabiliza na criança a possibilidade de interação, seja no âmbito acadêmico ou no social. Além disso, Cristiane explica que a ansiedade interfere na aprendizagem. “O indivíduo relega para segundo plano a possibilidade de interagir. A angústia de forma sintomática o acomete. E no quadro que se apresenta dificilmente a criança estaria disponível para a aprendizagem”, explica.  

Normalmente,pais e professores tendem a fazer ajustes quando lidam com crianças ansiosas. Mas, ao contrário do que diz o senso comum, isso não é bom. A psicopedagoga explica que o adulto, de certa forma, pensa de maneira prática para a resolução de problemas. Tem a capacidade cognitiva de prever ou antecipar resultados. Muitas das vezes, por tentativa ou ansiedade para resolver as situações, tenta induzir a criança, o que não basta para que o problema seja solucionado.  

 Cristiane pontua ainda que, quando está em um quadro sintomático, é porque algo não está indo bem e ela precisa de um tempo para a resolução de problemas. “Nem sempre o transtorno de ansiedade está relacionado a uma situação específica, podendo também estar associado a uma repulsa da criança a determinadas convenções sociais que são da esfera do pensar do adulto. Portanto, a resolução de problemas não deve estar relacionada a ajustes, mas, sim, à demanda do sujeito. Nesses casos, a ajuda de um especialista é de fundamental importância”, garante.  

 

A superproteção de uma criança

Os adultos pensam com certa praticidade e em muitos momentos antecipam os processos de aprendizagem dos pequenos. Para a especialista, sendo feito dessa maneira, não há um favorecimento para a criança quanto à possibilidade de constituir-se como sujeito autor de sua própria história. “Assim, não deixamos que ela decida como deve agir em determinadas situações. Promove-se com isso uma dependência que, conforme as exigências da sociedade, vão se tornando mais complexas, gerando dificuldades para a resolução de problemas. Dessa forma, cada vez mais o adulto vai se ocupando em resolver as questões que de uma maneira evolutiva deveriam ser resolvidas pela criança em seu tempo”, destaca Cristiane.  

Ela explica ainda que essa relação de impotência fica caracterizada pelos pequenos como inabilidade social e, com isso, a interação vai se tornando cada vez mais fragilizada. “A criança não consegue então se relacionar no seu meio social, escola, parque, casa de uma maneira satisfatória dentro de seus parâmetros de eficiência. A superproteção pode, então, contribuir para o estado de ansiedade pela impossibilidade na ação”, afirma.  

 

 

Que tipo de comportamento do professor pode aumentar o nível de ansiedade nos alunos?

As exigências acadêmicas estão, cada vez mais, imprimindo nas crianças a necessidade de que sejam eficientes. Da mesma forma que as estatísticas da OMS sobre o transtorno de ansiedade deveriam ser visitadas pelas políticas públicas, também na escola as práticas educacionais necessitam ser revistas. A psicopedagoga explica que, no caso da Educação Infantil, deveria ser um espaço onde a criança trabalharia especificamente a psicomotricidade, as relações e deveria ter respeitado seu tempo de se constituir. Mas realmente o tema não tem sido tratado desta forma.  

Com as exigências da sociedade, a criança hoje, na escola, tem sido induzida a uma educação formal. Ela é avaliada por seu desempenho acadêmico e não por suas conquistas pessoais. “Temos que entender que ela deve ter o tempo de ser criança. Não se pode avaliá-la apenas por uma nota. Nessa competitividade estabelecida, também o professor é alvo de avaliação. A turma deve estar em um determinado nível. O que entender de minha colocação? Também o docente está sendo observado e induzido a uma qualidade de interação ansiosa. Portanto, as políticas educacionais devem estar atentas ao tipo de comportamento que pode aumentar a ansiedade no professor, e consequentemente alterar o convívio com seu aluno”, sugere Cristiane Guedes.  

Para ler a matéria completa, acesse: www.appai.org.br/como-lidar-com-a-ansiedade-na-escola/ 


Por Jéssica Almeida 


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