Trilha ambiental

Um oásis verde a menos de 50 km do centro do Rio


Restaurar o ambiental e o social, temas inseparáveis. Um não anda sem o outro. Dentro dessa filosofia é desenvolvido o projeto Trilha Comunitária. O percurso que está sendo delimitado vai de Duque de Caxias até Cachoeiras de Macacu e passa por unidades de conservação. Além do ecoturismo, um levantamento histórico é realizado. São muitos vestígios da linha do tempo da região que estão se apagando pelo descaso e a falta de conhecimento. Mas isso não funcionaria se não resultasse em um ganho social e econômico para os moradores da região. Proposta pelo Instituto Sinal do Vale, a trilha, além de catalisar a regeneração, permitirá conhecer as espécies que resistiram a diversos ciclos econômicos que impactaram esse trecho fluminense.  

Baixada Verde

Além de incentivar a restauração florestal, a biodiversidade e o desenvolvimento de cadeias produtivas agroecológicas, a iniciativa visa integrar e conscientizar a comunidade. Com isso, levanta a autoestima e o empreendedorismo desses moradores. Do ponto de vista da conservação florestal, as capacitações propostas com foco em fortalecer a atuação dos viveiros de produção de mudas nativas contribuirão para a restauração dos ecossistemas ao longo da trilha. Além disso, estão em implantação duas unidades demonstrativas de agrofloresta com espécies nativas frutíferas. 

Sinal do Vale

Dois quilômetros quadrados preservados no meio da urbana Baixada Fluminense. É mantido pela ONG homônima, que completa dez anos. Esse paraíso fica no bairro Santo Antônio, em plena Duque de Caxias. Um sonho da defensora socioambiental Thaís Corral, que vai sendo construído dia a dia num trabalho de formiguinha, que no contexto geral acaba possibilitando a grande diferença. 

“Um processo em que nós vamos melhorando, pouco a pouco, como ser humano. São jovens sem oportunidades, sem educação de qualidade e com pouca consciência ambiental. Uma de nossas missões é mostrar a eles como essa região é importante para as unidades de conservação e a Baía de Guanabara”. Na interação com a comunidade, as ações da ONG procuram não apenas gerar renda para os moradores, mas compartilhar conceitos sobre descarte adequado de lixo, degradação do solo, desmatamento, poluição das nascentes e o não aproveitamento de alimentos locais. 

Preservar o que ainda resta

A organização está situada numa zona de amortecimento periurbana conhecida como Vida Selvagem da Serra Estrela, ou seja, funciona como um amortecimento entre o urbano e o preservado localizado no trecho que perpassa pelo corredor ecológico da Reserva de Tinguá e do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Mas isso não impede que essa área verde sofra pressões urbanas, como o desmatamento da cobertura vegetal original para atender a negócios agropecuários. Isso sem contar a água retirada das nascentes por engarrafadoras minerais e fábricas de refrigerantes e cervejas sem a devida contrapartida socioambiental compensatória. 

Jaca, a grande estrela do veganismo

Com a comunidade é desenvolvido um programa de culinária que, além de reaproveitar ao máximo e diminuir o lixo, transformou um limão em limonada. Mais especificamente com a jaca. Árvore invasora, trazida pelos europeus, o que pode causar impactos para a vegetação nativa, tem seu fruto aproveitado de forma inovadora. Evitando a proliferação e aplicando o uso sustentável, é colhida na mata pelos moradores e transformada em quitutes disputados como coxinha, lasanha, carne vegetal e doce de jaca. Apesar de pouco valorizada, mesmo sendo abundante na região, restaurantes e mercados veganos estão entre os principais clientes da “fábrica” comunitária.  

Como visitar Sinal do Vale

A ONG tem três certificações ambientais internacionais. Além da comunidade atendida, o espaço hospeda famílias que queiram se desligar da urbanidade e se conectarem com a natureza embora estejam tão perto da cidade, a menos de 50 quilômetros do centro do Rio. No espaço, não há televisão. Internet móvel não funciona, apenas pelo wi-fi, mas que não tem o uso incentivado. Após 15 minutos de subida de carro em meio à floresta ainda resistente, chega-se ao Vale Encantado, à cachoeira, à piscina natural e a casas de hospedagem que funcionam em perfeita harmonia com o ambiente. 


*Luiz André Ferreira é Professor e Mestre em Projetos Socioambientais.

Obs.: Toda a informação contida no artigo é de responsabilidade do autor. 


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