Desfile sustentável

Samba e comunidade escolar unidos na neutralização de carbono


A união das escolas: a tradicional e a de samba em prol do ensino ambiental. E a madrinha desse casamento é a Secretaria de Meio Ambiente de São Gonçalo.  Evoluindo junto com os sambistas, entram nas alas os alunos da rede municipal. O palco desse desfile socioambiental deixa de ser exclusivamente o Sambódromo e passa a evoluir também por reservas ambientais. Neste caso, os gigantes carros alegóricos são substituídos por árvores. As purpurinas, por flores e os adereços, por folhas.  

Através desse acordo, estudantes e a comunidade do samba da Porto da Pedra estão trabalhando juntos para neutralizar a emissão de carbono para o carnaval de 2023. Tudo a ver, já que vão proporcionar um desfile sustentável que vai muito além do tema do enredo “Invenção da Amazônia: um Delírio do Imaginário de Júlio Verne”.  

Será a primeira agremiação que vai se preocupar em neutralizar sua pegada ambiental. É um grande passo para o mundo do samba em sua inclusão na Responsabilidade socioambiental. No caso de um desfile carnavalesco, um dos principais fatores é a queima do combustível utilizado para levar os gigantescos carros alegóricos do barracão da escola gonçalense para a concentração da Marquês de Sapucaí. A nossa coluna aqui na Revista Appai Educar sobre questões socioambientais estreia conversando com o secretário e o sub de Meio Ambiente da cidade de São Gonçalo (Região Metropolitana do Rio) onde está sediada a Porto da Pedra.  

“Geralmente as escolas de samba que trazem esses temas ambientais nunca internalizam no próprio processo de criação. Como a Porto da Pedra traz esse enredo ambiental, houve a preocupação em introduzir a neutralização de carbono através dela no ambiente do carnaval carioca.  Foi feito um estudo técnico de quanto se deveria pensar em plantio de espécies nativas de florestas de Mata Atlântica que se pudesse compensar a emissão do carnaval”. 

Embora na avenida os carros alegóricos tenham que ser empurrados apenas por braços humanos devido a restrições do regulamento, eles usam sua própria motorização ou guinchos a diesel para chegarem até a entrada do desfile. Entram também nessa contabilidade as travessias dos componentes nos ônibus fretados para os ensaios técnicos e para o dia da apresentação oficial, as baterias para os refletores, o combustível dos geradores e até a energia utilizada pelas máquinas de costura nos ateliês de fantasia e os equipamentos do barracão.  

E esse impacto será revertido em plantio de mudas que vai ser feito com a ajuda de estudantes da rede municipal, incorporando ao processo o viés da educação ambiental. “Os alunos do Instituto Abraço do Tigre, em parceria com a Porto da Pedra e com a Prefeitura Municipal de São Gonçalo, através da Secretaria de Meio Ambiente, farão o plantio de 136 mudas nativas de Mata Atlântica na Área de Proteção Ambiental do Engenho Pequeno”, explicou Carlos Afonso, Secretário de Meio Ambiente do município. 

Para atingir esse objetivo e não provocar o exotismo, são usadas nesse processo apenas espécies endêmicas da Mata Atlântica que foram cultivadas na própria APA do Engenho Pequeno. “Sendo o carnaval conhecido como ‘o maior espetáculo da terra’, é inovadora a ideia de um desfile sem emissões de CO², uma vez que o evento, fazendo a sua neutralização de carbono, estará zerando seu impacto ambiental em termos de emissões desses gases que contribuem para o aquecimento do planeta. Após levantamento e estimativas, chegamos a um total aproximado de mudas necessárias a serem plantadas para compensar a emissão de aproximadamente 2,12 toneladas de CO2. Ressaltamos que as mudas plantadas continuarão sequestrando carbono da atmosfera por mais 19 anos”, destacou Glaucio Brandão. 

Comunidade escolar

Os alunos da rede municipal gonçalense e do braço social da agremiação carnavalesca foram incluídos não somente no que se refere a plantio, mas também no desenvolvimento do processo de cultivo da reserva ambiental. “E esses estudantes adoraram a ideia. A rede municipal de educação de São Gonçalo já mantém um projeto, o Estudo vivo, que prevê a interação entre as unidades de conservação do município e os professores. E esse case da Porto da Pedra se encaixou perfeitamente nessa filosofia educacional, em que os estudantes percebem qual é o papel deles nessa jornada de respeito ao plantio dessa floresta”, contextualiza o subsecretário, ressaltando que os docentes e diretores ficaram entusiasmados com essa ação educacional viva e fora da sala de aula. 

Além da compensação de CO2

O desfile não será sustentável apenas através do enredo sobre Júlio Verner ou com a compensação de carbono. A mesma filosofia será aplicada nos barracões e ateliês. As fantasias e carros alegóricos estão sendo construídos com materiais menos impactantes ao ambiente. “Embora vá tratar da Amazônia, o carnavalesco Mauro Quintães se comprometeu em não usar penas naturais, somente as imitações sintéticas. Alguns carros utilizam o conceito da sustentabilidade com a reciclagem de materiais de outros carnavais”, atesta o subsecretário. 

 Obs.: Toda a informação contida no artigo é de responsabilidade do autor. 


Por Luiz André Ferreira
Professor e Mestre em Projetos Socioambientais 


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