E a famosa listinha dos verbos de ligação?

Por Sandro Gomes*


Lembra aquela “listinha”, que contém verbos como: ser, estar, ficar, permanecer, continuar, parecer, andar…? Como tudo que envolve o estudo da Língua Portuguesa, não há fórmula pronta ou “macete” infalível. O melhor é compreender como funciona o chamado verbo de ligação. Para isso é um bom recurso compará-lo com outro tipo de verbo, os chamados significativos ou nocionais. Acompanhe o exemplo:

Meu tio recebeu um comunicado.

Nessa oração o verbo receber ocupa uma posição fundamental para o entendimento do sentido. Sem ele, como saber se o sujeito (o tio) recebeu, emitiu, esqueceu, decifrou (ou sabe-se lá que mais) o comunicado? Agora comparamos com outro exemplo.

A menina parecia assustada.

Imagine que substituíssemos o verbo parecer por outro daquela “listinha”. A menina estava assustada, ficava assustada, permanecia assustada… Como se pode ver, apesar de usarmos verbos diferentes, a ideia básica foi preservada. Isso quer dizer que o elemento fundamental para o entendimento não era o verbo, mas o adjetivo assustada.

Os verbos de ligação, portanto, podem ser definidos como aqueles que indicam estado e não ações, recebendo esse nome porque funcionam como elo entre o sujeito e uma característica a ele atribuída. Ajuda muito a entender como funciona um verbo de ligação observar o predicativo do sujeito. Veja:

Os idosos continuam indispostos.

Repare que o adjetivo indispostos qualifica ou informa sobre o substantivo idosos. Se nos fixarmos apenas nessas duas palavras, já poderemos perceber a relação entre elas, não sendo tão relevante se os idosos estão indispostos, ou se permanecem indispostos, ou se ficam indispostos etc. Note também que em outras construções que não expressam ação essa relação entre substantivo e adjetivo aparece com clareza. Acompanhe:

Que idosos indispostos! (sentença sem verbo)
ou
Os idosos indispostos são um problema. (sujeito + adjunto adnominal)

Mas então qual é o problema de usar a famosa “listinha”? Em tese, nenhum! A armadilha é que, mesmo podendo figurar como verbos, digamos, de “sentido fraco”, alguns ali presentes também desempenham funções de verbos significativos. Veja exemplos:

Ela continuou triste. (verbo de ligação)
Apesar dos avisos, ele continuou. (intransitivo)
Ela andou nervosa. (verbo de ligação)
Ele andou muitos quilômetros. (transitivo direto).

Assim, a melhor maneira de saber se um verbo é de ligação é analisando o contexto frasal. A lista pode até ajudar mas não resolve todas as situações. Até a próxima, pessoal!


*Sandro Gomes é graduado em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira, Portuguesa e Africana de Língua Portuguesa, Revisor da Revista Appai Educar, Escritor e Mestre em Literatura Brasileira pela Uerj.


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