Aplicações dos estudos neurocientíficos à prática escolar

Jorge Henrique Oliveira*


Pela nossa pesquisa pudemos observar que o que grande parte chama de dificuldade de aprendizagem deveria ser revisto como um modelo de ressignificação da própria escola, uma vez que os organismos ali inseridos estão diante de contextos bem diversos, cada qual devendo receber os estímulos de acordo com sua predominância ou propensão.

Nosso cérebro é biologicamente determinado a nos fazer sobreviver. Quando os pais inserem seus filhos na escola, sem que reconheçam que há uma função nobre a ser valorizada nesse ambiente, apenas se cumpre a determinação legal de mantê-los matriculados e frequentando. Mas, do ponto de vista deste organismo (doravante chamado aluno), a escola é apenas um local em que ele está contra sua vontade, violando assim sua necessidade básica de correr, dormir, excretar etc. Nessa situação, seu cérebro reptiliano aciona os mecanismos de defesa, e o resultado é que quadros como a irascividade, a ansiedade, o medo acabam se manifestando no espaço escolar.

Paralela e simultaneamente a isso, o sistema límbico, sua parte mamífera, vai procurar os escapes, através da indisciplina, brigas por espaço ou por qualquer motivo, enquanto a atenção necessária para a memória e estruturas superiores do neocórtex superior fica em segundo plano, fazendo o cérebro deste indivíduo entrar em estruturas de bloqueio. Uma das experiências mais positivas que pudemos ver ocorre em escolas que trabalhavam o sistema de recompensa, onde eram agraciados os alunos que voluntariamente melhoravam seus rendimentos acadêmicos e seus relacionamentos com outros estudantes.

Nesta relação tensa, esbarramos na formação docente que, despreparada para lidar com uma classe que está diante dele contra a vontade, já o vê como um adversário a ser combatido, enquanto os modelos tradicionais de ensino reforçam que o professor deve ser um “conquistador”, ideia que, na verdade, já caiu em colapso na prática, pois apenas nas séries iniciais, cuja família ainda respeita a figura docente, esta autoridade é considerada. Esse papel reforça que o educador entrou no jogo de disputa de sobrevivência do cérebro daquela categoria de alunos.

O que defendemos aqui é que apoios metodológicos mais adequados favorecem recortes que desarmem o sistema reptiliano, mostrando ao aluno que a escola é sua única fonte de sobrevivência, não uma forma de castigo. A abordagem passa pela reformulação da estrutura de atendimento ao estudante e da direção escolar. Uma ação voltada mais para o contato, as trocas de olhares, a comunicação não-verbal em que haja uma humanização do ambiente, diálogos e rediscussão do papel da autoridade.

Mas esta pesquisa também visualizou que muitos docentes em sua prática demonstraram interesse em uma nova abordagem agregando à sua aula um modelo de acolhimento que desarma a estrutura de autodefesa. Porém não conseguem manter por muito tempo essas conquistas, uma vez que os anos da educação básica englobam um período de 12 anos, de forma que uma prática diferente faz pouco impacto no sistema de ensino. Defendemos que, ao compreender que o cérebro tem estruturas que vão além da cognição, a prática epistemológica deve abordar também aspectos não cognitivos em suas ações para alcançar sucesso.

Com todo o cabedal de conhecimento da neuroplasticidade do cérebro, podemos vislumbrar que talvez seja possível o desenvolvimento de um método que atenda aos estudantes com limitações de aprendizagem, pois, como estamos aqui tentando demonstrar, as dificuldades nesse aspecto residem na relação entre o sistema de educação e o cérebro do aluno. Como cremos que é possível ensinar a todos, e o cérebro com as estruturas corretas pode, com meios facilitadores, abrir novas conexões, é possível viabilizar tanto o desenvolvimento cognitivo-comportamental, como a socialização e as estruturas superiores.

É sabido que, em ambientes de perigo, as estruturas primitivas do nosso cérebro entram em ação fazendo com que o sistema límbico atue de forma a nos posicionar em condições de defesa. Esse sistema ocorre em paralelo com o cognitivo que, com sua capacidade de julgamento preservada, pouco pode fazer se todo o sistema não iniciar manobras de reequilíbrio, como a respiração profunda ou mesmo a mudança de foco, técnicas essas que podem ser aplicadas com o devido treinamento ao professor, se este também estiver de posse consciente do domínio de suas funções cerebrais.


*Jorge Henrique Oliveira é Mestrando em Ciências da Educação pela Universidad Columbya, Bacharel em Filosofia pela UFRJ e Professor pelo Iserj atuando na rede municipal de Nova Iguaçu.
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.


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