Precisamos falar sobre o cocô na infância

Por que ainda temos tanto pudor de falar sobre o assunto abertamente?


De onde vem o “número dois” e para onde ele vai? Já imaginou se os pequenos pudessem conversar com seu próprio cocô para superar as dificuldades do desfralde? Esse é o objetivo do livro “O Cocô Amigo”, de autoria da cartunista @MaurenVeras. A partir de um personagem simpático e convidativo, os desenhos estimulam as crianças a repensar seus traumas de ir ao banheiro.

Eles funcionam como uma ferramenta tanto de abertura de diálogo com a criança que estiver passando por alguma dificuldade em relação ao ato de defecar, quanto de sensibilização dos adultos sobre as necessidades emocionais dos pequenos.

Atualmente, existem penicos que falam, cantam e parabenizam a criança, redutores de assento, papel higiênico colorido, vasos sanitários de personagens infantis, músicas temáticas. Existe todo um mercado estruturado para ajudar as pessoas a lidar com essa questão desde cedo. Porém, nada disso parece ter sido efetivo, é o que mostra uma pesquisa do Ministério da Saúde, onde é revelado que mais de 71% dos entrevistados não falam sobre o assunto com amigos ou familiares, deixando o tema apenas para a área médica.

Para muitos, o cocô ainda é um tabu, mas especialistas da saúde indicam que não falar sobre o assunto com a criança pode acarretar em repressão e traumas. A quantidade surpreendente de casos de adultos com problemas sérios, constipação crônica e até fobia indica que precisamos falar sobre o cocô desde cedo.

Para o pediatra Carlos Eduardo Correa, quando chegamos na fase adulta desistimos de falar sobre isso exatamente por ele não ser discutido de forma aberta previamente, o que pode acarretar em diversos problemas de saúde, como intestino preso até fobias patológicas.

Os pontos citados pelo pediatra promovem questionamentos que podem ser o pontapé inicial para mudar o rumo desse problema. Quando não conversamos sobre esse ponto, também não permitimos que a criança fale. E para que seja feito, precisamos dar o exemplo. No cotidiano, por muitas vezes o ato de ir ao banheiro pode parecer errado em determinados momentos, por isso é preciso ficar atento às mensagens que transmitimos aos pequenos.

Isabel Gervitz, psicóloga do Laboratório de Educação, levanta outro ponto importante quando o assunto é o desfralde nas creches. A prática coletiva não é recomendada pela especialista, pois o correto é respeitar o tempo de cada criança. Dr. Carlos ratifica afirmando a necessidade de atenção quando as regras são postas de forma conjunta, já que podem haver desdobramentos reversos. “Nada coletivo deveria ser aplicado na infância. Nasce o bullying justamente quando os adultos propõem algo para o qual aquela criança não está pronta”, explica o pediatra.

O livro infantil “O Cocô Amigo” tem auxiliado os pequenos em fase de desfralde. Ele traz um recurso lúdico especialmente útil para aquelas crianças que ainda têm medo de utilizar o vaso sanitário. Mas, em poucos cliques pelas redes sociais, encontramos crianças que adoraram a história desse amigo “diferente”. O projeto, que virou até animação no Youtube, também tem sido utilizado por profissionais da Educação Infantil, psicopedagogos e psicoterapeutas em seus consultórios.

Mauren Veras se inspirou no próprio filho para criar a história que viralizou nas redes sociais. O post no Instagram e em grupos do Facebook começou a ser compartilhado, repostado por outros perfis e gerou mais de 60 mil interações. Jornais, revistas e blogs sobre maternidade falaram sobre o livro e até a Sociedade Brasileira de Pediatria citou a obra em seu site. A partir daí, pais e mães passaram a entrar em contato com Mauren para contar suas próprias experiências e relatar como a história estava ajudando no processo de tirar a fralda de seus filhos.

“Foi a coisa mais legal de toda a função. As mães ficaram muito agradecidas, já que essa fase de desfralde é meio chata. Recebi mensagens no meu Instagram e vi muitos relatos nos comentários dos posts. Tinha gente de Brasília, Goiás e Paraíba comentando. Psicopedagogas usaram o material, pessoas criaram músicas, fizeram vídeos”, explica Mauren, que também é jornalista.

Conheça o livro: “O Cocô Amigo”.


Por Richard Günter
Fontes: Sociedade Brasileira de Pediatria | Lunetas


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