A Educação Infantil no Contexto da Covid-19

Alessandra Simas*


Como profissional da Educação Infantil, nos primeiros meses da pandemia percebi como preocupação de imediato das famílias a segurança sanitária e a preservação a vida. Entretanto, é inegável que, com o passar dos dias, vieram outras prioridades, principalmente a respeito da alimentação. Muitas das crianças matriculadas em espaços infantis contam somente com a refeição oferecida pela escola. Até mesmo no que se refere a higienização e demais protocolos sanitários, muitos, em função da pobreza e precarização das condições de vida, não tiveram condições de seguir os protocolos de prevenção à Covid-19.

Por se tratar de algo novo nunca vivenciado, e apesar de algumas políticas públicas serem elaboradas rapidamente, muitos pais não tiveram acesso a informações. Além do mais a escola ficou fechada por necessidade sanitária, e esse contato tornou-se difícil. Alguns responsáveis que moravam perto da instituição de ensino e tinham acesso às redes sociais propagavam informações para outros através do contato físico, o que era preocupante para propagação do vírus, mas era a única forma de se socializar as informações passadas. Muitos, por morarem longe e serem pobres, não tiveram acesso a nenhuma informação, chegando a perder alguns benefícios. Penso em quantas crianças necessitaram de alimentação e não tiveram resultado.

A Lei 11.346/2006, no artigo 2º, afirma que: A alimentação adequada é o direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população.

Quando uma criança em fase de crescimento tem uma má alimentação, isso pode provocar doenças que dificultam o seu desenvolvimento físico e mental. Segundo foi apontado por vários autores, no período pandêmico ganharam maior visibilidade a pobreza e a extrema pobreza, deixando pessoas desfalcadas de condições mínimas de se prevenir da exposição ao vírus.

Constatou-se também que a situação de pobreza das famílias veio à tona, mas não se discutiu a “pobreza infantil”, que compreende diferentes camadas e tem como exigência um olhar que vá além dos indicadores econômicos, percebendo nos pequenos o bem-estar material, a saúde, a educação, os seus relacionamentos e comportamentos, os riscos, além do bem-estar subjetivo.

Diante desses casos, ocorreram alguns graves problemas, como o atraso na vacinação e o empenho tímido de algumas autoridades quanto à adoção de medidas sanitárias, o que provocou aglomerações. Além disso, o oferecimento de auxílio emergencial não foi o suficiente, deixando de atuar tão bem quanto seria desejável para reduzir a pobreza e a extrema pobreza.

Segundo o site da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) estima-se que o total de pessoas pobres aumentou para 209 milhões no final de 2020, 22 milhões a mais que em 2019. Além de o documento indicar que persistem as lacunas entre os grupos populacionais: a pobreza é maior nas áreas rurais, entre crianças e adolescentes indígenas e afrodescendentes e na população com menores níveis educativos.

Fato é que em momento de distanciamento físico, fechamentos de espaços de educação e aumento de desigualdades sociais, todas as características que compõem a pobreza infantil foram afetadas. A interação dessas crianças dentro do espaço escolar é de fundamental importância para os pequenos, o que não foi possível no momento de afastamento físico.

Para Levi Vygotsky, o desenvolvimento de uma criança ocorre na interação com o espaço social em que convive. A relação direta com outras pessoas faz com que ela crie independência e se socialize. Na Educação Infantil a interação acontece através de brincadeiras em contato direto com o outro, algo que deve ser resgatado em tempos atuais, mas adaptado à situação da pandemia, com o retorno às aulas presenciais seguindo os protocolos sanitários de prevenção à Covid-19 para as Unidades Escolares e Creches integrantes do sistema Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. Essa criança precisa ter respeitados seus direitos, individualidade, sentimentos, para o êxito do processo de ensino-aprendizagem.


*Alessandra Simas é formada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e exerce a função de Agente de Educação Infantil no Município do Rio de Janeiro.


Podemos ajudar?