Suas anotações valem ouro educacional!

Especialistas dizem que anotações diárias dos professores ajudam de forma eficaz a refletir na hora de planejar as aulas


Seja no caderninho impresso ou no bloco de notas digital, relatar acontecimentos importantes presenciados em sala de aula pode ser uma grande chave para objetivos serem cumpridos no seu próximo encontro com os alunos, é o que dizem especialistas em educação. A prática, que deve ser aplicada a cada término de aula, tem teor altamente crítico, analista e reflexivo.

As anotações podem ir muito além dos rabiscos com a caneta, podendo ser acrescidas de fotografias, vídeos e gravações de voz que resgatam as atividades feitas em classe, servindo como objeto de investigação sobre o próprio trabalho e o desenvolvimento da garotada. “O professor é alguém em contínuo aprendizado e deve ter a dimensão de que aprender significa interrogar-se sempre sobre o que pensa, o que planeja e o que faz em sala”, diz Cleide do Amaral Terzi, consultora e especialista em Educação. Além de possibilitar a quem leciona tomar consciência de suas ações e das características e da trajetória dos alunos, a ferramenta dá subsídio para avaliá-los adequadamente e identificar as propostas mais eficazes para o aprendizado.

Cada um desses recursos tem características específicas e todos podem e devem ser usados em benefício do trabalho pedagógico, pois se completam. Escrever é uma maneira de não deixar passar elementos que chamaram a atenção na dinâmica da aula, como observações sobre o desenvolvimento das propostas, a adequação delas ao planejamento e o alcance dos objetivos. Com as fotos, é possível investigar a criança e suas experimentações. Já os vídeos auxiliam o professor na tematização da própria atuação com os alunos e, assim como o áudio, recuperam as intervenções realizadas e o efeito delas no aprendizado dos estudantes.

Mas para que esse material seja uma ferramenta reflexiva é preciso debruçar-se sobre ele, estudá-lo e colocá-lo em discussão, quando possível. Depois, narrar esse processo em um texto. “A escrita organiza o pensamento e faz com que a reflexão não se perca”, diz Renata Cristina Oliveira Barrichelo Cunha, docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).

“Outro ponto importante é que para este processo não há um modelo definido”, é o que diz Mônica Matie Fujikawa, mestre em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo. “As redações devem fazer sentido para o educador e podem ter a forma que ele achar mais funcional”, completa.

 

Trocar ideia teórica é fundamental

De modo geral, a condição de trabalho dos professores, com pouco tempo para a educação continuada, tem sido um grande obstáculo para incorporar essa estratégia à rotina, assim como a ausência de interlocutores, diz Renata. “Não é em toda escola que o docente encontra colegas e gestores dispostos a compartilhar suas reflexões, a fim de ter subsídios para discutir o trabalho em sala. Então, ele acaba não vendo sentido nisso”.

Para André Carrieri, fotógrafo e mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), há escolas que costumam tirar fotos dos alunos, mas apenas usam isso como arquivo ou para divulgação do que é realizado em sala, sem aprofundar a compreensão a um nível crítico e apurado. “Para que o trabalho reflexivo não permaneça no plano do achismo, sem aprofundamento pedagógico, os referenciais teóricos são essenciais”, ratifica.

Tamara Pina, da Escola Maple Bear, em Macaé, litoral do estado do Rio de Janeiro, não abre mão de escrever sobre o que ocorre com sua turma de pré-escola e as reflexões que isso gera. “Narrar esses episódios evita que eu perca situações de aprendizagem para mim e para as crianças. Meus saberes como professora estão na relação com a turma”, conta.

Os registros de Tamara são textos pessoais, escritos à mão num caderno. Para realizá-los, ela se baseia em falas das crianças ou em algo que chamou a atenção dela em classe, procurando compreender o que os indícios revelam. “É como se eu estivesse pensando com o papel”, diz. “Como reverter o que não deu certo?” e “Que autores ou pesquisas falam sobre o que vivi em sala e podem me ajudar?” são alguns questionamentos feitos por ela durante a reflexão.

Quando há parceria com colegas e gestores, o processo formativo se amplia, mas Tamara crê que o ato de escrever já contribui para seu aperfeiçoamento. “O registro faz com que o momento não fique para trás e o aprendizado se consolide”, afirma. A escuta sensível e o olhar para o que as crianças dizem e pensam têm sido o caminho para melhorar sua prática e se fortalecer como professora.


Por Richard Günter
Fontes: Nova Escola | Escola Maple Bear | MEC

 


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