Educação Financeira nas escolas

Investir nessa temática desde a Educação Infantil pode ser primordial para ações a longo prazo


Aprender sobre educação financeira dentro da sala de aula é fundamental para o fortalecimento da cidadania. Afinal, ao estar ambientado com o assunto, o aluno se torna mais consciente sobre a importância de tomar decisões assertivas sobre finanças e consumo, certo? Certíssimo! Em 2019, a Revista Appai Educar compartilhou uma matéria que abordava justamente a importância de trabalhar a temática nas escolas. Na editoria “Vale a pena ler de novo” dessa edição vamos resgatar esse texto e mostrar o que especialistas sugerem que seja abordado. Confira!

Constantemente associada à Matemática, a Educação Financeira carrega nas costas a “fama” de difícil por estar atrelada à dificuldade de resolução atribuída à área de exatas. É o que revela Adenias Gonçalves Filho, Consultor em Gestão Empresarial e Finanças Pessoais. Por estar inserida no campo comportamental, a matéria pode ser aplicada de forma interdisciplinar, já que, além dos livros tradicionais, os conteúdos possibilitam sua utilização em forma de jogos ou outras dinâmicas. Essas ações diferenciadas podem contribuir para que a Educação Financeira deixe de ser vista como o “lobo mau” e possa ser vislumbrada como uma forma de projetar o futuro.

 

Problemas financeiros podem ser evitados!

A falta de controle de gastos afeta muitas famílias e é um mal que pode ser evitado através do conhecimento. De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), indivíduos com mais acesso à informação buscam melhores condições de financiamento e planejam mais como aplicar o dinheiro. Em contrapartida, o órgão ainda revela que, de 2012 a 2018, 16% dos jovens de 18 a 24 anos que obtiveram pela primeira vez um cartão de crédito entraram na restrição do crédito após 3 meses de uso, por falta de experiência financeira. Diante deste cenário, é fundamental que esse assunto seja trabalhado ao longo da escolaridade básica de forma contextualizada, de modo a ajudar o aluno a conhecer e a intervir na realidade social.

 

Promovendo o consumo consciente

De acordo com a psicopedagoga Cristiane Guedes, estudar a temática na escola possibilita ao educando estratégias mais saudáveis de lidar com a realidade que se apresenta. “O investimento nessa temática tem como fator principal a constituição de gerações conscientes, sustentáveis, que entendam com nitidez seu comportamento com relação ao uso correto do dinheiro”, explica Cristiane.

Segundo a especialista, a relação equilibrada no uso do dinheiro favorece à criança compreender sobre o consumo sustentável e sobre a grande influência em suas vidas. “Devemos entender que hoje a sociedade adoece e a questão fundamental é o valor que se estabelece através do dinheiro. Tais questões, segundo pesquisas, estão diretamente ligadas à desorganização com as finanças, causando o desconforto e, até mesmo, crises mais efetivas na família. Se o dinheiro for bem empregado, talvez se minimizem em grande parte as doenças mentais adquiridas”, comenta a psicopedagoga.

Adenias Gonçalves ressalta que é nos primeiros anos de vida da criança que ela constrói o modelo mental que vai impactar os comportamentos que terá ao longo da vida. E dentre eles o consumo, com significativos reflexos em sua saúde financeira. “A criança que possui e é orientada para comportamentos conscientes nessa área, com certeza, será um adulto saudável financeiramente e saberá como administrar seus recursos, tanto os financeiros como os de qualquer outra ordem”, garante o consultor em gestão empresarial e finanças pessoais.

 

Escola e família lado a lado

É extremamente importante o alinhamento entre o aprendizado de Educação Financeira na escola e as atitudes e comportamentos que a família mantém no lar com relação a consumo e gastos dos recursos econômicos. “A meta é evitar incongruência entre a teoria e a prática, o que poderá gerar riscos em desvios comportamentais sobre a importância do “ter” sobre o “ser”. Hoje encontramos instituições voltadas para criar conteúdo de Educação Financeira em diferentes níveis do ensino, disponibilizando livros, cursos de educação a distância, palestras e assessorias pedagógicas”, garante Adenias.

 

Aprendendo novos hábitos

Qualquer hábito, saudável ou não, é apreendido pelos pequenos a partir das primeiras interações que eles fazem com quem cuida e, consequentemente, das crenças adotadas pelo núcleo familiar. De acordo com Cristiane, a criança inserida em sociedade vai se adequar nos grupos de convívio. “São suas referências iniciais. Sendo assim, é muito provável que ela apreenda novos hábitos através da interferência positiva do adulto. Se vivemos em uma sociedade contaminada pelas mídias, onde se estabelece como verdade que o importante é “ter” e não “ser”, com certeza a criança estabelecerá esses hábitos que não são saudáveis inclusive em suas relações pessoais”, esclarece a psicopedagoga.

Para ela, é de fundamental importância que os pais compreendam que saciar um desejo imediato, sem um planejamento, propicia o aprendizado de hábitos imediatistas e sem uma possível compreensão do que realmente é necessário para que ela possa interagir em sociedade, de forma saudável. “Tão logo a consciência quanto à necessidade da mudança de práticas seja adquirida pelos adultos responsáveis pela educação da criança ou do adolescente, eles aprenderão e repetirão o hábito saudável observado”, explica Cristiane.

 

A importância de aprender desde cedo

Cristiane Guedes explica que qualquer vivência que seja realmente significativa para os pequenos estabelecerá uma diferença entre eles e o mundo que os cerca. “Os princípios da educação visam formar cidadãos críticos, autônomos e capazes de idealizar e realizar projetos individuais que possam ser úteis à sua vida. No cenário econômico contemporâneo, é fundamental que se aprendam novas formas de investimento e de existência para que se adquiram práticas mais conscientes, menos consumistas e menos impulsivas com relação aos gastos”, garante a psicopedagoga.

 

Aplicando à realidade dos alunos

Há inúmeras maneiras de abordar o consumo com os alunos. Com conteúdo lúdico e dinâmico, separados de acordo com cada faixa de idade, os estudantes podem entender como é viver num sistema movido pela questão financeira e ao mesmo tempo aprender a ter um contato saudável com o dinheiro. Para Catarina Iavelberg, assessora psicoeducacional da Nova Escola, ações formativas que lidam com aspectos financeiros cotidianos podem alterar a organização do orçamento doméstico dos estudantes e de suas famílias.

Ela explica que é possível ampliar a consciência sobre isso de diversas maneiras. “Um caminho é, por exemplo, realizar, com o auxílio do professor de Matemática, uma pesquisa com os alunos e seus familiares para identificar o perfil deles como consumidores. Os dados são fundamentais para planejar as aulas sobre o assunto. Se o levantamento indicar que muitas famílias estão endividadas, pode-se estudar o mecanismo de juros e investigar como utilizar crédito de modo consciente. Se revelar que boa parte do orçamento é destinada ao pagamento de faturas, como contas de água, luz e internet, há a opção de procurar meios para aumentar o controle desses gastos. Outra possibilidade é elaborar uma cartilha sobre orçamento doméstico e distribuí-la para os familiares”, sugere Catarina.

 

Formação para professores

Para Adenias Gonçalves Filho, o grande desafio da educação brasileira é levar a qualificação em Educação Financeira para todos os profissionais docentes, visto que estes não tiveram em nenhum momento de sua formação conteúdos referentes a este tema e a grande maioria não sabe lidar com o dinheiro e nem consumir com consciência. “Por isso, eles precisam se educar financeiramente. Necessitam realizar cursos que contemplem conteúdos que levem à mudança de comportamento, o que somente será possível se estiverem embasados em uma metodologia com comprovação científica”, explica.

Se você é associado da Appai e quer aprender mais sobre Educação Financeira, acesse os cursos EAD através do Portal do Associado. Por lá, você encontra um material completo e ainda garante um certificado ao final do curso. Não perca essa oportunidade!


Por Jéssica Almeida
Fontes: Ministério da Educação | Infomoney |
Exame | SPC
Fotos: Banco de imagen


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