Escolas com experiências renovadoras

Impulsionadas pelo distanciamento social causado pela pandemia, aulas a céu aberto fazem o maior sucesso em diversos países. Por aqui, não está sendo diferente!


Cresce o investimento no uso de espaços ao ar livre, como fonte de saber e contato com a natureza. Mesmo parecendo algo novo, as experiências com essa modalidade de aula, que agora foi impulsionada pelo distanciamento social causado pela pandemia, começaram a ter seu movimento manifesto há mais de um século em países europeus como Alemanha e Bélgica.

Aqui no Brasil, diferente do que se pensa, essa modalidade já fazia sua estreia após duas décadas do lançamento registrado pelos seus fundadores, por volta de 1924. O modelo chegou no país especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, primeiramente por uma motivação sanitária, a fim de evitar a transmissão da tuberculose.

 

O sol como agente benéfico ao físico e ao intelecto

Segundo a professora de História da Educação da USP, Diana Gonçalves Vidal, a ideia era usar o fenômeno natural do sol como um agente, não somente na tratativa da proteção à saúde, mas também como algo propício e benéfico para o desenvolvimento físico e intelectual dos alunos. “A proposta de escola ao ar livre se associa à inspiração de liberdade das crianças”, relata Diana, se referindo a uma época em que ainda não havia vacina, já que o imunizante (embora tenha sido criado em 1921) levou décadas para ter ampla aplicação.

Nos dias atuais, temos visto esse movimento ao ar livre se intensificar nas praças, parques, jardins e quadras como um espaço de experiências também na educação. Em países como Dinamarca, Espanha e Estados Unidos, e agora no Brasil em algumas escolas públicas e particulares, esse movimento vem ganhando destaque.

 

Recomendações internacionais

A medida recomendada por instituições internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por governos e entidades médicas e científicas, como a Fiocruz e a Academia Americana de Pediatria, inclui desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, com conteúdo de diferentes disciplinas. No Brasil, um bom exemplo vem do Instituto Alana, que defende o que eles chamam de “desemparedamento” da infância.

Para a gestora de Educação de Jundiaí, Vasti Ferrari Marques, vem com muita força a ideia de que melhor que uma janela ou uma porta aberta é estar no jardim, nas quadras e em espaços que o bairro ofereça. “Além disso, trata-se de um contexto investigativo diferente, não de cadeiras enfileiradas”, menciona.

 

Planejamento

Como tudo na vida, o planejamento nesse novo momento torna-se fundamental, não somente por parte dos gestores e professores, como também de pais, alunos e toda a comunidade escolar. Segundo Vasti, os educadores precisam de um planejamento amplo para adequar esses conteúdos aos ambientes externos ou mesmo na escola.

 

Professores ensinam matemática ao ar livre e alunos aprovam

O recém-inaugurado Parque Municipal Mundo das Crianças, em Jundiaí, tem sido um ótimo e promissor exemplo de como espaços ao ar livre com iniciativas de aprendizagem em meio à natureza podem ser adaptados à pratica de ensino.

No Parque Emeb Pedro de Oliveira a turma vivenciou o conteúdo aprendido em sala de aula

Foi o caso dos alunos do quinto ano da Emeb Pedro de Oliveira, localizada na Vila Joana, que tiveram uma aula sobre perímetro no Parque. “Estou gostando muito. Ficar ao ar livre é bem melhor”, disse Samuel Casarin do Nascimento, que também esteve com sua turma no recém-inaugurado Mundo das Crianças, ao lado do Parque da Cidade. “No Mundo das Crianças também foi muito legal. Aprendi sobre a natureza e sobre alguns materiais”.

Já a professora Angela Maria Barbosa aproveitou o momento para também exercitar o lado físico dos alunos ao deixar a régua de lado e orientar que eles usassem seus próprios passos como parâmetro de medição para calcular o perímetro do parque. “Já tiveram aula teórica sobre o tema e agora estão vivenciando o conteúdo aprendido, o que o torna mais interessante e faz com que assimilem mais fácil o conhecimento. Estão sendo momentos muito produtivos esses fora da sala de aula”, destaca.

Para os alunos do quarto ano da escola Emeb Antonino Messina, começar o ano letivo ao ar livre e jogando foi surpreendente: Jogando. Sim, isso mesmo! Na área externa da escola foi montado um grande jogo da velha a partir de situações problemas com respeito aos protocolos sanitários. “Eu gosto de jogar e só praticava isso no papel. Foi diferente andar pelo tabuleiro.  Eu tive que pensar mais, mas foi muito divertido. Eu estou gostando muito das aulas como estão, com essas novidades e em lugares diferentes, não só na classe”, comentou Diego de Souza Honório Cardoso, da Emeb Antonino Messina.

A professora Iara Cristina Pincinato explica que o objetivo foi favorecer a atenção, a concentração e ensinar a turma a antecipar jogadas. “A gente uniu as situações problemas encontradas na sala de aula com o jogo da velha, para que eles tenham concentração, consigam prever possibilidades, transportando essas estratégias para diversas situações”.

Concentrados, os alunos aprendem a antecipar as jogadas

 

Iniciativa rica em motivação e aprendizagens

Não é de hoje que algumas escolas têm adotado essa prática. Pouco antes de começar a pandemia, a Escola Municipal Marinheiro Marcílio, do bairro de Itaúna, no município de São Gonçalo, já estimulava aulas ao ar livre. A primeira de uma série do projeto Aula Aberta foi na praia. Para muitos poderia ser uma “loucura”, mas esta atividade se mostrou um projeto pedagógico de rica motivação e aprendizagens.

Organizada pela escola, a iniciativa teve como objetivo levar o processo pedagógico para fora dos muros da escola. “Entendo que o mundo é nossa sala de aula, e que, para aprender, é necessário, muitas vezes, olhar ao nosso redor, utilizando os próprios elementos oferecidos pela nossa realidade”, afirmou Cristina Brito Botelho, diretora-geral.

Com o tema “Dia do Meio Ambiente”, a escola levou seus alunos para uma aula diferente, tendo como desdobramento a baía de Guanabara, o que possibilitou a abordagem de diversos assuntos. Entre eles, a formação geológica e a ocupação do território pelos chamados “povos dos sambaquis”. Além de abordarem sobre os períodos da história brasileira desde a chegada dos portugueses até a atualidade, com a poluição e o adensamento populacional caracterizando a região.

O local escolhido para a primeira aula aberta foi a Praia da Luz, pois lá estão ruínas de construções históricas (Capela de Nossa Senhora da Luz), por conter amostras da fauna e da flora brasileira e por, infelizmente, encontrar-se em péssimo estado de conservação, devido às toneladas de esgoto despejadas em suas águas diariamente.

Para realizar a aula aberta, os docentes definiram como objetivo principal fazer com que o conhecimento ficasse o mais compreensível possível para os discentes. Já em campo, o primeiro ponto de parada foi a história da Capela de Nossa Senhora da Luz, apresentada pelo professor José Leonardo, de História. Com um “toque” de guia turístico, ele aproveitou a oportunidade para abordar alguns aspectos sobre o surgimento do município de São Gonçalo e a história do Brasil.

Os estudantes participaram também de atividades promovidas pelo professor de Ciências Carlos Augusto, como a análise de material orgânico encontrado pelos alunos na areia da praia e uma gincana em que duplas se alternavam para ver quem coletava maior quantidade de lixo da baía. Além de uma aula de Geometria com o professor Josias Mutz, que utilizou a técnica de dobradura de sólidos geométricos para explicar alguns elementos matemáticos.

Já a professora de Português Adriana Cabral conquistou a seleta plateia com uma oficina de contação de histórias sobre meio ambiente. Aproveitando o clima, a docente de Produção Textual Lana Vladima lançou um concurso de redação, tendo como tema o próprio projeto Aula Aberta. As atividades pedagógicas foram encerradas pelo professor José Leonardo, que trabalhou questões sobre a formação geológica e histórica da baía de Guanabara, fornecendo dados mais atualizados sobre a degradação da região.

O docente de História e Geografia ressaltou que experiências como essas são excelentes tanto para os alunos como para os professores. Para ele, isso os impulsiona a “sair da mesmice que às vezes o sistema educacional nos impõe. A dinâmica é trabalhosa, porém muito prazerosa e recompensadora. Saímos revigorados”, concluiu.

 

Capela de Nossa Senhora da Luz em São Gonçalo – RJ. Foto: Divulgação/Internet

 

Novas possibilidades de ensinar e aprender

De acordo com a gestora de educação Vasti Ferrari Marques, as ações fazem parte de estimular o aproveitamento cada vez mais dos espaços abertos como um potencial canal de disseminação e aquisição da aprendizagem. Segundo ela, toda a rede municipal de ensino vive um momento especial e significativo com a proposta de “desemparedamento”. “As escolas estão aproveitando muito os espaços abertos e arejados para levar as crianças. Temos visto muitas experiências inovadoras, que possibilitam a aprendizagem, além do contato com a natureza, o que é igualmente importante. O retorno já tem sido muito positivo”, completa.

 

Dicas para a volta às aulas com segurança

Algumas ações são fundamentais para aumentar a segurança e evitar o aumento da transmissão do vírus nessa volta às aulas. Uma delas é o revezamento de alunos. Em um primeiro momento, é importante que as escolas reabram com uma frequência menor de estudantes por turma. Isso pode ser feito através do revezamento, subdividindo as turmas em grupos e escalonando os horários de entrada e saída, assim como o recreio.

Outro ponto importante é o distanciamento. Obviamente é mais difícil com as crianças pequenas, por isso é necessária a formação de “bolhas”, isto é, pequenos grupos de alunos que, além de garantir um melhor distanciamento, frequentam a escola no mesmo dia. Os integrantes da bolha devem ser sempre os mesmos. Assim, todos brincam e fazem as refeições juntos e, se algum deles contrair o vírus, não será preciso isolar a escola inteira, apenas os alunos daquele grupo.

Não precisamos lembrar sobre a importância do uso de máscara, afinal sabemos que ela é essencial. Porém é necessário reforçar que, para menores de 2 anos, é contraindicado. A partir dessa faixa, quanto maior a idade, maior a adesão e a compreensão. Sabe-se que as crianças menores têm mais dificuldade em manter a máscara, mas é uma ótima oportunidade para aprenderem sobre a chamada “alfabetização sanitária”. Além do uso, é importante que o utensílio seja trocado a cada duas horas.

Outro ponto fundamental é a lavagem correta das mãos, que deve ser feita sem pressa. Esse processo deve ser repetido antes das refeições, após brincadeiras no chão, uso do banheiro e o fim do recreio. Geralmente, a partir dos 2 anos, a criança já pode começar a lavar as próprias mãos, em uma pia adequada a sua altura e com supervisão de um adulto.

Ressaltamos também que, além de manter o distanciamento, é fundamental que as crianças fiquem em ambientes arejados, com as janelas abertas, e a limpeza das superfícies deve ser intensificada. No mais, deve-se, sempre que possível, investir em atividades no pátio da escola, ao ar livre. Tal como nos exemplos que citamos ao longo dessa matéria.

E claro, fique atento aos sintomas! Nesse caso, além de conversar com o médico, faça o teste do PCR. Hoje já está disponível uma medição mais fácil de fazer nos pequenos, através da saliva. No entanto, o mais confiável é a coleta de secreção do nariz e garganta. Se o resultado for positivo, a criança deve ficar dez dias em casa a partir do primeiro dia do sintoma. Já para os adultos, o mais seguro é se manter em quarentena por 14 dias.


Por Antônia Lúcia e Jéssica Almeida
Fontes: Assessoria de Imprensa, Jornal Estadão e Revista Crescer.
Fotos: Fotógrafos PMJ


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