Aproveitando o momento para adquirir conhecimento

Por Sandro Gomes


Verbos Anômalos

Como aconteceu em outras fases graves para a humanidade, das dificuldades foram extraídas melhorias e progressos que até hoje nos acompanham. Assim, nada nos impede de transformar a tensão dos dias atuais em mais conhecimento e aprendizado. Vamos então aproveitar a ocasião e aprender sobre a origem e formação de algumas palavras que têm ficado familiares ao nosso vocabulário por conta de tudo que envolve a pandemia.

 

Pandemia / Epidemia / Epicentro

Aqui estamos diante de palavras formadas por raízes de origem grega:

Epi – Preposição que pode ter vários significados, como em cima de, perto de, além de etc.
Demos – Povo, população.

Dessa forma, uma epidemia pode ser traduzida como algo como “aquilo que paira sobre um povo”. A mesma ideia está presente em outro termo que tem sido bastante utilizado atualmente: epicentro. Ou seja,“do centro para cima”, para se referir àqueles lugares que apresentam muitos casos da doença e por isso podem servir para contagiar outras regiões. Daí não fica difícil deduzir a formação de pandemia, onde aparece outro prefixo de origem grega (pan-), que significa “todo” ou “por inteiro”. Ou seja, uma pandemia é “algo que atinge toda a população”.

 

Vacina

Outra palavra que não sai dos nossos ouvidos e bocas, por razões óbvias. As primeiras tentativas de obter uma substância capaz de deter corpos estranhos em nosso corpo causando as doenças foram realizadas em bovinos. Assim, o criador da primeira vacina, o médico inglês Edward Jenner, utilizou o termo latino vacinnus, isto é, “das vacas”, para nomear seu invento.

É pena que normalmente só lembremos desses animais como fornecedores de alimentos, peles, chifres etc.! Mas agora não há mais desculpas para não reconhecermos a importância dos bovinos também no campo da saúde pública, não é mesmo? E quando a vacina chegar (que seja logo!) vamos reparar a injustiça.

 

Vírus

O significado mais habitualmente atribuído a essa palavra de origem latina é “veneno” ou “tóxico”, expresso em vocábulos como virulência, que também pode ser usada fora do contexto da medicina em adjetivos como virulento, “aquele que usa de agressividade”.E aí temos um bom exemplo de como as palavras, dependendo do contexto, podem se afastar de seu sentido original e passar a expressar até o seu oposto. O sentido mais imediato no latim para a palavra vírus (virus,i) se refere à seiva das plantas, ou seja, a mais primitiva fonte de remédios. Por algum motivo as substâncias malignas (venenos), que também possuem a mesma origem, acabaram tomando a dianteira ao longo da história. Que esse sentido primitivo – de “seiva”, daí “ser verdejante”, “ter saúde, vitalidade” etc. (como aparece em dicionários de latim) – passe a predominar, quando, depois de tudo isso deixado para trás, pudermos ter uma humanidade sadia e fortalecida, em todos os sent-i dos possíveis. Amigos, para essa edição é isso, um pouco de cultura para compensar as dificuldades. Até a próxima, pessoal!


Sandro Gomes é professor, escritor, blogueiro, colunista da Appai, com formação em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Mestre em Literatura Brasileira.

 


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