Ensino on-line: sua casa, sua sala de aula

Comunidade escolar transforma adversidade em novas formas de ensino-aprendizagem


Com a chegada dessa crise mundial, a comunidade escolar vive uma nova realidade na esfera do ensino-aprendizagem. Que o digam os milhares de professores e alunos das redes pública e privada com a suspensão das aulas por conta da proliferação do coronavírus. O que começou com um cheirinho de férias – fora de época – rapidamente se transformou em uma realidade muito atípica para todos. Diretores, gestores, professores, alunos e família perceberam que a educação, assim como os demais setores da economia, não poderiam se dar ao luxo de não serem repensados em todas as suas nuances. Nesse segmento, não só a rotina dos envolvidos no processo educativo mudou, mas também as metodologias e práticas de ensino tiveram que ser adaptadas para a modalidade a distância. (Veja o que o EAD Appai e a Educação não para prepararam para você, professor!)

Todo o cotidiano da prática pedagógica, que até então era quase que noventa por cento vivenciado dentro das salas de aula, teve que ser readaptado ao modelo a distância. Não que o EAD seja uma novidade ao público estudantil, mas o desafio está centrado na falta de opção de políticas voltadas para essa necessidade, tanto de alunos como de professores, sobretudo nas séries iniciais e no caso de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento/TEA e altas habilidades/superdotação.

 

Isolamento é tão obrigatório quanto aprender

Antes mesmo de se pensar em novas metodologias pedagógicas, a comunidade escolar teve o papel de encorajar os alunos e seus familiares a assumirem essa nossa convivência social, vivida através de uma espécie de “liberdade vigiada”, que aflige milhões de pessoas por ser algo totalmente novo.

Essa situação de perda temporária do direito de ir e vir, em prol da saúde de todos, tem sido a lição a ser aprendida pelos alunos para que, só então, o conteúdo didático pudesse começar a ser introduzido através da internet e, sobretudo, das muitas plataformas de educação, como, por exemplo, o Google For Education que com suas ferramentas colaborativas oferece a alunos e professores novas experiências para uma melhor aprendizagem.

 

Como a tecnologia pode ajudar as escolas a vencer a pandemia?

Da noite para o dia milhares de professores tiveram que encontrar novas formas de lecionar e milhões de estudantes, de aprender. Um grande desafio para quem ainda está acostumado com salas de aulas tradicionais, cercadas por paredes, com cadeiras enfileiradas e um quadro branco.

A Doutora em Educação, especialista em tecnologias digitais aplicadas à educação e Diretora do Instituto Crescer, Luciana Allan, ressalta que não podemos esperar que todos se adaptem repentinamente a estes novos tempos. “Sabemos dos inúmeros problemas de conexão à internet, mas é um ótimo momento para nos reinventarmos e criarmos coragem de testar o uso de ferramentas tecnológicas já disponíveis para estruturarmos alternativas no formato de educação a distância. Pensar fora da caixa pode ajudar a mitigar o problema momentâneo, como também colaborar para fortalecer a cultura digital e avançar rumo a uma nova educação, como há bastante tempo já temos discutido”, pondera.

A especialista conta que está acompanhando o que as escolas e docentes de diversos países estão realizando para minimizar os impactos da pandemia no ano letivo. “A boa notícia é que muitos professores vêm deixando de lado os preconceitos e estão sendo resilientes, buscando entender o potencial dos recursos disponíveis, não se furtando a buscar e implementar soluções tecnológicas que antes do vírus eram vistas como secundárias e agora se transformaram em ferramentas padrões para dar aulas síncronas e assíncronas, compartilhar conteúdos, corrigir trabalhos, tirar dúvidas e trocar conhecimentos”, exemplifica Luciana.

Muitas plataformas abertas estão disponíveis e podem ser utilizadas para aulas virtuais, como o próprio Microsoft Office 365, o Google Classroom, o Trello e tantos outros softwares direcionados para organizar reuniões, no caso aulas, fazer upload e download de arquivos, gravar vídeos ou áudios, criar grupos, fazer pesquisas, produzir jogos e várias outras atividades que permitirão o desenvolvimento de novos formatos de ensino e aprendizagem on-line.

Não custa lembrar que a maior parte dos estudantes, mesmo com acesso limitado à internet, já usa celulares regularmente. Eles estão prontos para acessar ferramentas como estas, incluindo o WhatsApp e outras redes sociais que, se bem utilizadas, podem ser uma excelente saída para organizar o conteúdo didático e manter os alunos conectados e engajados.

Em artigo para o Edutopia, a consultora em educação Laurel Schwartz recomenda que os professores promovam também atividades em papel para que os estudantes não fiquem o tempo todo na frente do computador ou do smartphone. As orientações podem ser dadas on-line, mas as atividades podem ser desplugadas e, depois de finalizadas, fotografadas, filmadas ou digitalizadas para serem compartilhadas com os colegas e docentes.

Laurel recomenda também que, durante o horário letivo, os professores estejam conectados a softwares de comunicação instantânea, como o Skype, WhatsApp e Zoom, para poderem atender e interagir com os alunos em tempo real enquanto estão estudando e fazendo suas lições de casa, o que irá trazer maior conforto aos pais e aos próprios estudantes, na medida em que vai colaborar para diminuir a sensação de isolamento. Para evitar que se dispersem navegando on-line, uma dica é que todos os arquivos sejam disponibilizados em um único repositório, como por exemplo o One Dri-ve, evitando compartilhar links, o que pode levar a que desviem sua atenção.

 

Ensino a distância aproxima comunidade escolar

Em uma escola privada do subúrbio carioca, a diretora Eliane está utilizando o WhatsApp para falar com pais e alunos, a fim de que não haja um distanciamento ou comprometimento do calendário inicial das ações da escola, como provas, testes, feiras e outras atividades, fora o conteúdo diário de cada disciplina. “Nesses últimos dias nós professores estamos focados na elaboração de atividades pedagógicas para atender aos nossos estudantes a distância”, afirma Eliane, que ressalta que para fazer com que tudo dê certo a escola conta com um tripé essencial nessa empreitada: escola, aluno e família.

 

Opinião especial por Sandro Gomes

Driblando o isolamento

Como os países atingidos pela epidemia têm enfrentado a quarentena sem escola

A epidemia de alcance mundial provocada pelo coronavírus tem causado transtornos e forçado as pessoas a adaptar várias atividades para continuar seguindo em frente. Não há dúvida que uma das áreas mais afetadas por esse problema é a educação, que tem convivido com o afastamento de estudantes da escola em todo o planeta, quase 800 milhões de pessoas, segundo a ONU.

Mas, como acontece com os demais campos de atividade, a educação não pode parar. E a criatividade – e sobretudo a tecnologia – têm entrado em campo para tentar pelo menos amenizar o problema. Os países mais fortemente afetados pela pandemia, e que estão lidando com o problema há mais tempo, estão dando importantes exemplos de como não apagar a chama da educação, mesmo em tempos duros como os de hoje.

A China, que foi onde a doença apareceu primeiro, manteve a priorização da educação mesmo em meio ao caos e, aproveitando os recursos tecnológicos que hoje predominam em suas cidades mais desenvolvidas, apostou alto em plataformas onde fosse possível levar as lições aos seus mais de 180 milhões de estudantes.

Através de parcerias com empresas de tecnologia, o governo chinês tem possibilitado que os professores postem aulas, conteúdos e até coordenem atividades em conjunto, para que nem a ausência do ambiente da sala de aula seja tão sentida pelos estudantes.

Os chineses também estão usando a estrutura empregada para manter as atividades educativas para conscientizar os alunos sobre a própria doença. O tema tem sido estimulado como matéria de estudo, e os estudantes sendo convidados a compartilhar seus trabalhos e demais conteúdos sobre o assunto. Esse aumento de informação também ajudou bastante para que o cumprimento das medidas de isolamento adotadas desse bom resultado no controle da epidemia.

Os japoneses também não ficaram atrás de seus vizinhos asiáticos e, como não poderia deixar de ser, mobilizaram soluções tecnológicas para não deixar que os estudantes ficassem ociosos. Isso foi fundamental para o país, já que lá o ano letivo termina no mês de março. Ou seja, as provas finais e trabalhos de conclusão, que poderiam estar comprometidos com a paralisação, não deixaram de ser realizados.

E se alguém poderia pensar que pelo menos as cerimônias de formatura seriam canceladas se enganou. Os estudantes japoneses estão tão familiarizados com o uso da tecnologia na educação que criaram uma solução para não deixar de celebrar o fim de seus períodos escolares.

Em uma iniciativa que partiu exclusivamente dos estudantes, sem participação inicial dos professores, o game Minecraft foi utilizado para recriar o ambiente das escolas e simular o evento de formatura. Não foram esquecidas inclusive as pompas próprias da ocasião, como tapete vermelho e palco para entrega dos certificados.

Com o horário determinado e  compartilhado pelos alunos, todos “compareceram” para receber o seu canudo. A novidade se espalhou pelo país de 125 milhões de habitantes e se repetiu em várias escolas. Sem dúvida uma bela maneira de não interromper o processo educativo e driblar as tensões desses dias de epidemia.

Na Europa, as tentativas de criar soluções para não interromper a atividade escolar também estão revelando boas surpresas. Em Portugal, por exemplo, já havia uma rede de professores treinados para educação a distância, voltada para atender portugueses residentes em países africanos de língua portuguesa, onde o ensino é deficiente, e também regiões do país com menos acesso a escolas.

Esses professores estão passando sua experiência para seus colegas e ajudando assim a pular uma eta-pa de adaptação dos docentes que poderia prejudi-car os estudantes. O resultado é que muitos profissionais de ensino estão se surpreendendo com as respostas deles ao que tem sido proposto on-line.

Um deles é a professora Paula Vaz, que afirma nunca ter se sentido tão próxima de seus alunos. Ela cita como exemplo uma redação que pediu para os estudantes criarem sobre a epidemia: “Recebi textos belíssimos e tem havido uma troca de experiências e desabafos. Os alunos estão a trabalhar de fato, quando em sala de aula alguns deles estavam à conversa e não faziam nada”.

Na Alemanha, um país que tem sido muito elogiado no combate à epidemia, o ensino, principalmente dos primeiros níveis, está sendo bastante prejudicado, porque valoriza muito atividades interdisciplinares e projetos coletivos. A saída tem sido explorar plataformas que de alguma maneira permitam a conexão entre os alunos.

Um outro ponto importante no país tem sido a preocupação com a situação educacional e psicológica dos estudantes cujos familiares trabalham em atividades indispensáveis para o tratamento da doença. Por isso, várias escolas alemãs estão criando grupos de emergência. Esses alunos, ao contrário da maioria, estão indo para a escola, e os professores estão se revezando para que eles não percam o conteúdo escolar e também não sintam tanto a ausência dos pais acompanhando seu desempenho, já que estão aplicados em combater a doença. “Solidariedade fundamental em tempos como esse que estamos vivendo”, afirma Irena Bender, professora há 10 anos da rede pública de Berlim.

Aqui no Brasil não tem sido diferente. Muitas instituições vão recorrendo a maneiras de compensar a ausência da escola, mantendo os alunos conectados com ela. Na maior parte das vezes isso tem sido feito, como nos exemplos que vimos acima, através da tecnologia, mas nem sempre! Há muitos educadores fazendo esforços pra driblar a falta de recursos com muita criatividade.

Mas seja aqui ou em outras partes do mundo, uma coisa parece certa. As salas de aula não serão mais as mesmas em todo o planeta, depois da experiência de isolamento ocasionada pela pandemia. Se estamos assistindo uma dura realidade humanitária, também podemos estar diante de um novo patamar mundial na educação.

 

Educação e prevenção: antes, durante e depois

Na volta às aulas, nada de aperto de mãos, beijo e abraço. Agora é o momento de mudar hábitos para se proteger da pandemia. A educação e a prevenção precisam, impreterivelmente, andar unidas mais do que nunca! Em tempos de dúvidas e preocupações sobre a doença que se alastra pelo mundo, nada melhor do que levar para os alunos a pesquisa, o debate, o estudo sobre como se prevenir e evitar a transmissão do vírus.

Além das medidas preventivas básicas, como lavar as mãos com água e sabão, estar a pelo menos 1 metro de distância, evitar beijos e abraços, a escola pode estar atenta a outros cuidados, como observar se os estudantes estão com sintomas semelhantes aos descritos para a doença. E, se isso acontecer, é imprescindível ficar em casa em isolamento, pelo menos 14 dias, conforme orientação médica.

É de extrema importância também manter sempre higienizados os espaços usados pelos alunos, como mesas, cadeiras e objetos pessoais para alimentação. A unidade escolar pode incentivar os estudantes a usarem cada um a sua própria garrafa d’água, para evitar a utilização coletiva do bebedouro.

Apesar de não fazerem parte do grupo de risco (que envolve idosos, pessoas com problemas no coração, respiratórios, diabéticos e com baixa imunidade), os estudantes são igualmente infectados tornando-se vetores do vírus. Por isso, a atenção nesses ambientes deve ser redobrada, pois o aluno pode ficar assintomático e levar o vírus para o professor ou funcionário da escola.

As escolas do Brasil inteiro adotaram o isolamento doméstico para todos os alunos por um período de 15 dias. Infelizmente, essa medida foi entendida por muitos como “férias antecipadas”. Os estudantes continuaram a sair de casa para praias, shoppings e parques, até que alguns governantes determinaram blo-quear os vales-transportes estudantis como forma de barrar esses passeios nesse período crítico de saúde pública. Enquanto isso, o Ministério da Educação (MEC) apresentou algumas ações contra a pandemia para o retorno das aulas nas escolas.

A página oficial do Comitê Operativo de Emergência (COE) no Portal do MEC afirma que desenvolveu uma plataforma de monitoramento da disseminação da doença nas instituições de ensino. Também anunciaram a criação de um sistema on-line que permitirá a integração de dados sobre o vírus. A ferramenta tem como intuito reunir informações dos censos Escolar e da Educação Superior, além do número de pessoas infectadas e as instituições com aulas suspensas.

O MEC também prometeu a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para as escolas. Serão disponibilizados, de acordo com a pasta, 450 milhões de reais a instituições públicas de ensino do país. O objetivo é que a verba seja utilizada para compra de produtos voltados à prevenção, como álcool em gel, sabonete líquido, toalhas de papel e outros produtos de higiene.

 

Na volta às aulas: como trabalhar a pandemia com os alunos?

Sem dúvida, essa é uma temática que pode ser amplamente explorada de forma que agregue diversas disciplinas. De acordo com a equipe multidisciplinar pedagógica da Nova Escola, isso é possível.

Na disciplina de Geografia, a partir de mapas que indiquem os países contaminados pelo vírus é possível construir análises sobre a transmissão de epidemias. Comparações, por exemplo, entre a disseminação em épocas passadas e hoje, com o desenvolvimento dos transportes e a possibilidade de que a doença atravesse o mundo em um curto espaço de tempo, são uma opção. Para quem busca informações atualizadas sobre os países, números de infectados, mortos e sobreviventes, o jornal El País criou um mapa dinâmico com esses dados. Clique aqui para acessar. Sites como o Infogram. com e o próprio Excel permitem criar gráficos de mapas.

Além disso, a pesquisa de outras epidemias que ganharam o mundo no passado pode ser uma atividade associada ao componente curricular de História, enquanto os mesmos dados rendem análise de dados estatísticos em textos, tabelas e gráficos em Matemática. Em Língua Portuguesa ou estrangeira, é possível aproveitar para debater o efeito das fake news; explorar a busca de informações e dados, argumentos e outras referências em fontes confiáveis; e a produção de textos que colaborem para a construção de habilidades listadas na Base Nacional Comum Curricular.

A Revista Appai Educar quer saber: como você, professor, está fazendo para ensinar seus alunos durante esse período? Conte para nossa equipe através do e-mail redacao@appsvc-siteappai.azurewebsites.net ou das redes sociais, postando uma foto ou um vídeo, e usando a hashtag #souappai. Vamos adorar conhecer sua iniciativa!


Por Antônia Lucia, Jéssica Almeida e Richard Günter
Fontes: who.int | Ministério da Saúde | MEC |coronavirus.saúde.gov.br | Nova Escola |JacquelineRenault.com.br | Exame.


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