Um manifesto à igualdade

Através de atividades artísticas e lúdicas, alunos aprendem sobre direitos e deveres da vida em sociedade


Em meio ao crescimento das ações agressivas contra as mulheres no Brasil, jovens e adultos se unem para uma ação de reflexão sobre o papel de cada um, entendendo os valores como educação e respeito para construção da humanidade. A iniciativa foi desenvolvida na Escola Municipal Dr. João Alves Martins, localizada em São João de Meriti, com os alunos da 9ª etapa do Ensino Fundamental II da EJA.

Através de atividades artísticas e lúdicas de ensino, os estudantes aprenderam sobre direitos e deveres individuais e coletivos da vida em sociedade. Mediado pelos professores Ana Lúcia Santos (Matemática), André Moraes de Almeida (História) e Anselmo Martins Saldanha (Língua Portuguesa), a proposta era promover também a interação entre as disciplinas. “Fazendo o aluno compreender que as histórias individuais são parte integrante de trajetórias coletivas em que as diferenças precisam ser conhecidas e respeitadas”, explica André.

Anselmo ressalta que, através da Língua Portuguesa, a ideia foi propiciar a utilização da linguagem oral e escrita para melhorar a qualidade das relações, tornando os alunos capazes de expor suas opiniões, assim como de receber e interpretar as do próximo, para contrapor quando necessário. Para Ana Lúcia, a Matemática possibilita a compreensão da relação existente entre a lógica, a própria disciplina e o raciocínio, pois juntas elas estabelecem conexões que auxiliam na estruturação do pensamento.

 

Chegou a hora de começar…

Orientados pelos professores, os estudantes deveriam seguir alguns requisitos para execução dos trabalhos, que teriam a duração de 4 semanas. Entre as propostas de ação apresentadas estavam: pesquisa e comparação sobre dados de feminicídio na cidade de São João de Meriti, no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil; levantamento de informações e criação de gráficos sobre crimes contra mulheres da Unidade Escolar; apresentação das leis Maria da Penha e sobre o Feminicídio; explanação sobre a garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos no Brasil; exposição do filme britânico “As Sufragistas”, que aborda a desigualdade histórica do direito ao voto; realização de discussões e debates crítico-reflexivos; produção textual narrativa sobre violência contra a mulher; criação de curtasmetragens sobre feminicídio, entre outras.

Através da queda das máscaras pretas, o grupo representou o empoderamento e o resgate da autoestima feminina

 

Apresentando os resultados

Missão dada é missão cumprida! Os discentes participaram de atividades em sala de aula sobre os tipos de violência que as mulheres sofrem, apresentaram curtas-metragens desenvolvidos por eles, realizaram a leitura dos textos narrativos e participaram de uma dinâmica do empoderamento e resgate da autoestima feminina, através da queda das máscaras pretas e do desfile no tapete vermelho.

 

Mudança dentro e fora da escola

A aluna Simone Cristina Gomes Pantoja conta que viver essa experiência fez com que enxergasse que a questão da violência contra a mulher não é uma situação isolada. “Abriu a minha visão sobre o que é abuso e quanto a outros tipos de agressão. Todavia, isso me deu esperança. Ainda podemos mudar, ganhar espaço, ensinar nossos filhos e netos a tratar uma mulher com respeito e admiração. Através desse entendimento, ensino não somente às minhas filhas como a todas as mulheres com as quais tenho contato, incentivando-as principalmente a se amarem e se respeitarem. Retornei aos estudos em 2019 e sou grata pela oportunidade que esse projeto proporcionou. Pra mim se tornou uma motivação para lutar mais ainda pelos meus objetivos e direitos”, garante.

A colega Bianca Loreti de Lima completa afirmando que falar sobre o projeto é gratificante. “Aprendi tanto e percebi que não foi somente eu. Algumas pessoas da minha turma o assimilaram e abraçaram com unhas e dentes. Infelizmente, muitas mulheres não têm essa chance e são brutalmente assassinadas por seus parceiros. Eu vivia um relacionamento abusivo, não podia nem emprestar minhas roupas para minha mãe. Não podia soltar meus cabelos e fui obrigada a largar os estudos”, lembra a estudante.

Bianca ressalta ainda que foi através do projeto que ela conseguiu ver o quanto era infeliz e como poderia viver bem e realizar os sonhos sem ser proibida de fazer o que gosta. “Hoje sou livre. As mulheres deveriam acordar para a vida e criar coragem. É preciso denunciar as agressões, porque quem as pratica dificilmente mudará seu comportamento. Na escola, descobrimos o que muitas mulheres passam ou já passaram. Conseguimos mostrar para nossas colegas o que deveriam fazer. Fico muito feliz por ter ajudado!”, finaliza.


Por Jéssica Almeida
Escola Municipal Dr. João Alves Martins
Av. do Canal, s/nº – Vilar dos Teles – São João de Meriti/RJ
CEP: 25560-510
Tel.: (21) 3752-3240
E-mail: emdrjoaoalves@gmail.com
Direção: Márcia Alencar e Isabel Cristina
Fotos cedidas pela escola


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