A arte de brincar para aprender

Brincadeiras do passado são eixos para impulsionar o ensino infantil


Ao brincar, a criança vivencia situações que exigem dela o uso da imaginação, de conhecimentos prévios e da elaboração de estratégias para a solução de problemas. Por meio de atividades lúdicas, vão sendo estimuladas suas habilidades e capacidades cognitivas, emocionais e sociais. E quando as brincadeiras assumem uma configuração pedagógica, elas conciliam aprendizagem e diversão. Na Escola Municipal Luís Carlos da Fonseca, em Madureira, alunos e professores colocaram essa teoria em prática, no terceiro bimestre, com o desenvolvimento do tema Brinquedos e brincadeiras. O projeto possibilitou às crianças conhecer e interagir com diversões do passado, comparando as atuais com as dos tempos dos seus pais e avós. Também buscou desenvolver a comunicação através de jogos e brincadeiras, ampliando as possibilidades expressivas do próprio corpo e aprendendo a respeitar regras e limites.

A ideia do projeto surgiu quando uma professora da escola estimulou sua turma a participar de uma brincadeira de roda. Aquela iniciativa despertou a atenção da diretora Silvia Neves, que propôs à equipe pedagógica o desenvolvimento de um projeto que estendesse a prática para todas as seis turmas da unidade escolar, com a inclusão de outras brincadeiras e brinquedos que, com o passar do tempo, foram esquecidos. “O foco foi a questão do resgate dessas diversões. A própria equipe entrou no clima, relembrando atividades da infância como elástico, pião e até mesmo trazendo para a escola brinquedos das gerações 70, como ferrorama e aquaplay, além de bonecas que eram desejadas por todas as meninas da época”, explica Silvia.

Resgatar brinquedos e brincadeiras infantis não apenas trouxe à memória bons momentos, mas, sobretudo, o aprendizado e o amadurecimento no desenvolvimento cognitivo, motor e psicossocial

 

Ainda segundo a diretora, através do brincar a criança desenvolve elementos fundamentais para a formação da personalidade, experimenta situações, organiza suas emoções, processa informações e constrói autonomia de ação. “Hoje, sabe-se que ao brincar ou criar uma situação imaginária, as crianças podem assumir diferentes facetas, indo além do seu comportamento habitual”, elucida a diretora reafirmando o papel de relevância do brinquedo para elas, garantindo que os objetos tenham força motivadora na transposição do mundo real para um universo imaginário e permitindo que atuem de forma diferente em relação ao que veem. “Isso pode ser visto na prática, pois desde o início os alunos demonstraram bastante interesse pelo projeto. Isso mostra que as crianças podem se identificar com as brincadeiras tradicionais, desde que tomem contato com elas, e o educador pode incentivar o ressurgimento dessas situações brincantes, oportunizando vivências pautadas em atividades lúdicas como instrumento no processo de ensino-aprendizagem”, declara Silvia.

A diretora adjunta Cristiane Castro lembra que o resgate de brinquedos e brincadeiras está inserido em um projeto maior intitulado Toda memória tem uma história. “No primeiro bimestre iniciamos com figuras importantes, como Chico Anísio, Ayrton Senna e o palhaço Carequinha, pois muitas crianças não sabiam quem eles foram. Foi, portanto, o resgate da trajetória dessas personalidades. No segundo bimestre, abordamos os acontecimentos que fizeram parte da nossa história recente, mas que as crianças ainda não tinham conhecimento por serem muito pequenas na época. No terceiro bimestre, aproveitando o folclore, partimos para o resgate de brinquedos e brincadeiras. As crianças participaram de várias atividades que tiveram como temática esses divertimentos, mas que possibilitaram trabalhar diferentes conteúdos, como produção textual e matemática, com a construção de gráficos para relacionar os brinquedos favoritos. E para o último bimestre elaboramos uma retrospectiva dos temas trabalhados na escola no decorrer do ano letivo”, conta Cristiane.

 

Em cada brinquedo uma descoberta

Cada brinquedo apresentado despertava a curiosidade das crianças. Um exemplo disso foi quando a professora Elizabeth Vianna mostrou aos seus alunos do 2º ano o tradicional pião de madeira. Eles já conheciam a versão eletrônica, mas não aquela peça afunilada com uma ponta de ferro e uma corda enrolada.

Com o auxílio do agente educador Renato Belo, após uma sequência de tentativas e erros, as crianças começaram a fazer o pião girar em torno do próprio eixo. Foi uma alegria tamanha a ponto de as outras turmas reivindicarem também uma aula para aprender a dominar o brinquedo. Para a culminância, foi montada uma exposição com diversões antigas e peças confeccionadas por cada turma com material reciclado: bilboquê, vai-e-vem, labirinto, boitatá, centopeia e bonecos articulados foram alguns deles. Os pais e responsáveis também entraram no clima e interagiram com as peças construídas pelas crianças.

As turmas também fizeram apresentações relacionadas a danças folclóricas. Os alunos do 1º ano abordaram a cultura indígena, destacando o preparo da farinha de mandioca, alimento permanentemente incorporado à nossa cultura. Através da apresentação, o grupo também homenageou os folguedos de bumba-meu-boi. Já a turma do 2º ano da professora Lucelene Ruiz retratou as parlendas, conjunto de rimas simples e versos curtos, que têm a função de divertir, entreter, compor uma brincadeira ou ajudar na memorização de números, dias da semana, cores etc.

Uma outra turma de 2º ano, da professora Elizabeth Vianna, apresentou a diversidade cultural brasileira, por meio de personagens como o saci, o boto e o sapo-cururu. Os alunos do 3º ano, da professora Fátima Gomide, apresentaram uma dança típica do Pará: o carimbó. O 4º ano, com a docente Cintia Coutinho, fez referência às brincadeiras tradicionais como forma de resgatar o lúdico, a memória e desenvolver as habilidades necessárias. O 5º ano, também com a Cíntia, fez alusão às mímicas, imitações e adivinhações, promovendo um resgate das diversões tradicionais que propiciam a interação e a alegria.

 

Escola e família, um par perfeito

A coordenadora pedagógica Vânia da Mota destaca o envolvimento de toda a comunidade escolar com o projeto: “Não foram apenas as crianças que ficaram animadas com o resgate de brinquedos e brincadeiras. Integrantes da equipe escolar e muitos responsáveis também se envolveram trazendo coisas antigas para a escola. É um resgate da nossa memória afetiva. Para contribuir com a exposição, eu trouxe uma boneca da minha infância, que já tem 46 anos. São coisas que marcam. As minhas filhas tiveram contato com ela, mas eu a preservei até hoje. Para nossos alunos, boa parte dos brinquedos e brincadeiras apresentados a eles é uma novidade. Essas experiências passam a ser fonte de aprendizado e estímulo para outras buscas de conhecimento, porque a criança começa desde muito cedo a mergulhar no universo da diversão, da fantasia e do faz de conta”.

Através do resgate do brincar, a integração e a socialização estiveram presentes no esquete em que as meninas representaram as princesas dos contos de fadas

A representante da 5ª Coordenadoria Regional de Educação, Elaine Muniz Silveira, avalia o projeto: “Gostei de ver as crianças resgatarem brincadeiras que quase não se veem mais. O brincar faz parte do processo de aprendizagem de todo ser humano, começando na infância e podendo se estender a alguns momentos da fase adulta. Independente da idade, a brincadeira pode se inserir como elo no processo de aprendizagem, possibilitando um conhecimento mais sólido e permanente. Que esse trabalho possa servir de exemplo para outras escolas também”.


Por Tony Carvalho
Escola Municipal Luís Carlos da Fonseca
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Fotos: Tony Carvalho


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