Fugindo dos estereótipos

Projeto promove reflexão e crítica acerca da beleza real


Fugindo do estereótipo

As lutas femininas e os preconceitos que as mulheres enfrentam para serem elas mesmas também são temas nas classes. Nas aulas de design, as turmas do 9º ano de todas as unidades do Colégio Qi, no Rio de Janeiro, trabalharam a questão dos padrões predeterminados pela sociedade. No decorrer do projeto, conhecerem as obras de Evelyn Queiroz, artista paulista que através dos seus desenhos questiona o que é a beleza real, desencadeando nos alunos o espírito artístico para criarem suas próprias composições.

Para que fosse cumprida a metodologia do projeto, os alunos focaram no universo feminino, retratando os diferentes corpos e estilos e destacando com famosas frases os problemas que as mulheres enfrentam hoje em relação a padrões de beleza e de comportamento idealizados.

A ideia do projeto surgiu da percepção do crescente estímulo dos meios de comunicação à padronização da beleza e da forma perfeita. Dessa maneira, tornou-se fundamental problematizar junto aos alunos a forma como a mulher é retratada nas propagandas e nas campanhas publicitárias. A professora executante do projeto, Elaine Ladeira, que leciona Artes Visuais e Design, percebeu que era necessário conversar com os alunos sobre a temática e assim convidá-los a questionar e repensar a representação feminina. “Nesse sentido, o trabalho estimula a aceitação de uma beleza múltipla e não como algo construído e que muitas vezes prende a mulher a um padrão virtual e inatingível”, conta a professora.

Para a realização do projeto, foi necessário pesquisar e problematizar a representação feminina na arte, na publicidade e nos discursos midiáticos. Feita a reflexão, o desafio foi criar uma proposta que pudesse sensibilizar tanto os alunos como também a comunidade escolar. Para dar o pontapé na atividade, foi elaborado um material comum a ser utilizado por toda a equipe de professores de Design, importante ferramenta para que todos pudessem realizar a mesma atividade e caminhar sob a mesma diretriz. O material apresentava a artista Evelyn Queiroz e seu trabalho intitulado “Beleza Real”. “A ideia era estimular nossos alunos a criarem novas possibilidades para a representação do feminino e fazer com que refletissem e ressignificassem o pensamento deles próprios e de outras pessoas sobre beleza, estilo, padrão de imagens, aceitação e liberdade”, ratifica Elaine.

Para esta atividade, foi utilizado o método Design Thinking, sendo proposto um problema para que os alunos buscassem gerar uma resposta criativa para a questão. Esse forma de abordagem tem com pilares a empatia, a colaboração e a experimentação.

Indagada sobre presenciar em sala de aula evidências que estimulem a competição pela construção da imagem feminina, a professora Elaine é enfática: “Muitas vezes, a sala de aula é um reflexo da sociedade. É possível perceber que existem, nessa microssociedade, meninos e meninas insatisfeitos com sua imagem corporal e tentando se aproximar daquilo que é visto como certo e belo”. Por este motivo, o projeto possibilitou abrir o campo de visão e ampliar as discussões sobre beleza, uma vez que também propôs refletir a respeito dos padrões de comportamento impostos, e a se indagarem como é possível buscar meios para modificá-los e transformá-los.

Para a aluna Kathleen Torres Teixeira Crisante, trabalhar este assunto em uma matéria como Design criou uma situação mais interativa. E apesar da temática estar presente no dia a dia dos colegas, às vezes não se lida com isso de forma crítica. “Muitas meninas se cobram em vir bonitas e arrumadas, pois encontrarão com muitas pessoas, mas acho que o foco não deveria ser esse. Eu acho isso um pouco estranho, pois a escola é para estudar. Ir arrumada não pode ser uma obrigação, você faz isso se quiser”, valoriza a aluna.

Já o aluno Miguel Fernando da Silva de Ataide acredita que, se você quer mudar alguma coisa, essa transformação precisa começar pela escola. “Trazendo isso para as instituições de ensino, os jovens repensam e questionam agora para modificar o futuro. Eu acho que os meninos acabam cultivando essa ideia de corpo ideal para as meninas. Talvez pela idade, por nossa imaturidade, a gente ainda não saiba valorizar o que é devido. A aparência ainda é muito mais importante que o interior. Eu acho que as meninas não deveriam se preocupar com isso. Você está indo para a escola, não é necessário mostrar algo. Se você é menino ou menina, se você está bonito ou feio (lembrando que a beleza é relativa), isso não deveria ser importante. Não é uma disputa”, potencializa Miguel sobre o projeto pedagógico. O aluno acrescenta ainda que a beleza não é durável. “O que importa são as experiências que temos na vida, é o jeito como se vive, se você é uma pessoa boa e como se relaciona com os outros. Suas atitudes é que são importantes”, finaliza.

Imagens trabalhando a diversidade

De acordo com a coordenadora da equipe da disciplina de arte, Janaína Russeff, como a escola é um espaço plural em que as crianças e jovens convivem com o diferente, é imprescindível criar espaços democráticos de discussão para contribuir na formação cidadã e integral dos alunos. “Nesse sentido, trazer assuntos que abarquem temáticas contemporâneas, como preconceito, intolerância, representatividade etc., é propiciar que os jovens sejam capazes de expor suas ideias e opiniões com clareza, desenvolver sua escuta afetiva, participar de debates de maneira respeitosa e dialógica. Habilidades essenciais para resolverem demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”, enaltece a coordenadora.

Para a coordenação, a experiência da realização deste projeto contribuiu para a formação de atores sociais críticos e participativos, com uma leitura de mundo mais consciente, aptos a lidar de forma positiva com as situações práticas da vida.

Aluna mostra imagem


Por Richard Günter
COLÉGIO QI
Unidades: Botafogo, Freguesia, Metropolitano, Recreio, Rio 2, Tijuca
Diretor do Qi: Paulo Emílio
Coordenador da disciplina: Janaína Russeff
Professora que executou o projeto: Elaine Amorim Pereira Ladeira
E-mail: comunicacao@colegioqi.com.br
Fotos cedidas pela escola

 


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