Por que tantos porquês?

Alunos entram em ação e vão em busca de respostas sobre a região em que moram


Projeto sobre questão ambiental

Se alguém perguntar o que é um oleoduto, gasoduto ou a diferença entre ambos você saberia responder em menos de 10 segundos? Bem, após os desastres de Mariana e Brumadinho, Minas Gerais, muita gente passou a pesquisar um pouco mais sobre o assunto, a fim de entender os riscos e efeitos tanto na natureza como para o homem.

No Ciep 327 Pedro Américo, localizado em Suruí, os alunos procuraram os professores em busca de mais informações, tentando entender o que havia dado errado nas barragens de Minas Gerais. E, se deu problema lá, poderia acontecer também em qualquer outro lugar, inclusive em Suruí. Partindo dessa inquietação, o desafio foi compreender quais eram a função e os riscos dos dutos de oleoduto e gasoduto que cortam parte da região, bem como os impactos na extração das pedreiras e seus efeitos nas mudanças ambientais e no dia a dia dos moradores.

Seguindo a máxima de que não são as respostas, mas as perguntas, que movem o mundo, as professoras Ana Paula de Abreu Figueira, da disciplina de História; Jaciele Gralato, de Geografia; e Sheila Ribeiro dos Santos, de Matemática, idealizadoras do projeto Conhecendo, construindo e preservando Suruí, estiveram com os alunos ajudando-os a estruturar e colocar em prática o que no início eram apenas indagações.

Alunos expondo o projeto.

Professora e alunos do projeto

Antes da culminância do projeto, as turmas realizaram visitação ao centro tecnológico de dutos e oleodutos, passeatas pelo bairro, distribuição de sementes de girassóis, além da participação em palestras com especialistas de diversos órgãos ligados ao meio ambiente

De acordo com a professora Ana Paula de Abreu, um dos eixos era trazer à luz os efeitos dos vazamentos de óleo na região de mangue de Suruí, pois, mesmo sendo um tema presente, os moradores desconheciam a importância de falar sobre os problemas ambientais, a fim de buscar as soluções. “Além desses havia outros impactos ambientais, como a extração de rochas e minerais das pedreiras, os desmatamentos dos morros e a poluição das águas”, destaca Ana Paula.

Após o levantamento dos muitos problemas ambientais desencadeados pelo homem e pelo avanço tecnológico, alunos e professores selecionaram alguns temas para serem trabalhados no projeto. Em sala, a turma do terceiro ano começou a pesquisar com o auxílio das professoras. “A proposta de ação veio a partir das pesquisas e da percepção de que a maioria dos moradores de Suruí desconhece estes impactos”, esclarece a professora de Geografia Jaciele Gralato.

Hora de tirar do papel

Pensar em como mudar esta situação, para preservar a região, fez com que os alunos do 3º ano saíssem a campo. Além da pesquisa nos livros e internet, os estudantes também conversaram com seus familiares e descobriram que no passado houve vazamentos que prejudicaram tanto a natureza como as pessoas da região, desalojando famílias inteiras e levando inúmeros pescadores a mudarem de ofício, pois não havia mais condição de pesca nos rios da localidade.

A interação entre alunos e professores foi muito além do auxílio nas pesquisas, da revisão de textos e conteúdo e da verificação de fontes confiáveis, garante a professora Sheila Ribeiro dos Santos, de Matemática. “A nossa missão não era apenas instigá-los a olhar outros lados ou articularmos a visita dos palestrantes de cada tema e da Secretaria do Meio Ambiente de Magé. Nós precisávamos fazer juntos, acompanhá-los às visitas técnicas e locais estratégicos, como uma área desmatada próxima ao Ciep, a ONG Água doce, o ponto onde estão os dutos da Transpetro e a região de mangue mais próxima da escola. A transformação foi geral, todos nos sentimos impactados, a escola estava viva, trabalhando. E tudo isso foi muito emocionante”, garante Sheila Ribeiro.

 

Três etapas e muito trabalho

O projeto foi dividido em três etapas, relata Jaciele Gralato: “A primeira foi ‘Conhecendo o momento de pesquisa’, onde tivemos palestras como a da secretária municipal do Meio Ambiente de Magé, Appa Guapimirim, representantes da Transpetro e da empresa de extração da pedreira de Suruí, além de visitas de campo”.

A segunda etapa foi chamada de “Construindo” e está voltada para a conscientização e engajamento da população. As turmas realizaram uma passeata pelo bairro, com cartazes alertando a população sobre os impactos ambientais e distribuindo sementes. Como parte da campanha de tomada de consciência, os alunos realizaram o dia “D Plantar”, onde semearam mudas de árvores na escola e desenvolveram oficinas de demonstração de cada tema para instituições educacionais municipais da região.

Já a terceira etapa, intitulada “Preservando”, contou com a elaboração de vídeos informativos sobre os temas e a construção de um blog. “Pensamos o desenvolvimento do projeto em etapas, pois havia a preocupação de levantar o maior número de informações sobre os temas, principalmente destacando os pontos positivos e negativos destes impactos ambientais”, afirma a professora Ana Paula.

Vídeos informativos para o projeto.

 

Resultados

“Falar dos resultados desse projeto é, para nós educadores, falar de uma troca de aprendizado, pois, após ele virar projeto pedagógico, todos os professores e alunos participaram ativamente da sua construção e finalização, destaca Sheila ao reforçar o quanto todos agregaram conhecimentos, uma vez que, após a idealização e preocupação dos alunos do terceiro ano, o trabalho acabou virando um Projeto Pedagógico Semestral da escola.

“No início não imaginávamos que o projeto e o interesse dos alunos pela questão ambiental de Suruí fossem tão longe. Sequer sabíamos como os temas escolhidos por eles impactavam nas questões econômicas e sociais da região. Houve uma comoção com os relatos de histórias de famílias que foram desabrigadas pelas empresas; pescadores que sofreram com vazamento no mangue e na baía; ex-funcionários das pedreiras que se acidentaram, enfim muita pergunta sem resposta e muita história de superação”, destaca a professora lembrando que, além de todas as etapas concluídas, para que todo o projeto ficasse registrado, os alunos e professores participaram ativamente criando um blog, com uma linguagem jovem, informal, com o intuito de envolver os demais estudantes, dar continuidade ao projeto e despertar o desejo de aprenderem mais sobre a região em que moram e o meio ambiente.


 


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