Ausência paterna e o desenvolvimento educacional dos filhos

Wellison Magalhães


Socorro! Sou pai”.

O grito é fictício, não me recordo, exatamente, de alguém ter falado ou utilizado essas palavras, para dizer o quanto ser pai tornou-se um desafio, e isso para milhares de pessoas ao longo das últimas décadas.

Não estou falando de sexualidade antes que sua mente viaje nessa direção. Estou falando sobre masculinidade, virilidade e a capacidade de assumir o seu papel na sociedade.

Há um esvaziamento do sentido dessa masculinidade. Primeiro porque, de fato, os homens deixaram de assumir seus papéis e, segundo, porque, com o avanço das mulheres ocupando espaços sociais dignos e notórios, houve um apequenamento do papel masculino.

Desde a década de 1950 as mulheres procuram os seus espaços na sociedade, no que concerne a ter os mesmos deveres e direitos, o que era propriedade dos homens, e elas conquistaram. Tornaram-se empresárias, executivas, gerentes, motoristas e ainda, em seus horários milagrosos, numa agenda full time de 24 horas, foram capazes de ser mães, esposas, filhas, ou seja, ter uma multifacetada forma de fazer mil coisas.

O homem, que era apenas o provedor, não percebeu que, a reboque dessas mudanças na cabeça feminina, ele também havia mudado o seu status, à revelia. Ele não era mais o único provedor, e a gerência da casa tornou-se uma cadeira em que a mulher decidiu sentar. O homem se perdeu.

Perdeu o sentido e direção. Agora, a mulher não é mais uma propriedade privada e nem subserviente. Com isso, conquistar algo dentro de casa deveria ter um outro modus operandi, que não mais o grito, nem a chantagem. Era preciso reinventar-se. Entretanto, essa reinvenção tornou-se o grande desafio.

Para o terapeuta americano Larry Crabb, “os homens têm muitas dificuldades em largar o arco e a flecha e apanhar linhas e agulhas. O movimento moderno dos homens, a todo vapor, brotou parcialmente como reação à ideia de que eles devem tornar-se mais relacionalmente sensíveis!”. (Crabb, Larry – O Silencio de Adão, 1998, SP)

Sem poder usar as ferramentas que deram certo por tanto tempo, os homens têm usado a força e o medo, como instrumentos para manterem-se no topo de suas cadeias relacionais, mas isso não está dando certo.

O que tudo isso tem a ver com a paternidade e a educação dos filhos?

É exatamente neste momento que percebemos, claramente, que os homens iniciaram um êxodo de suas responsabilidades. Muitos assumiram a paternidade com leveza e alegria, muitos decidiram que a paternidade tinha um Q de missão a ser cumprida, contudo muitos não conseguiram enxergar o tamanho do papel que lhes fora dado, ao ajudar a conceber uma criança neste mundo.

Este homem necessitando se reinventar deslocou-se, como um iceberg, derretendo, a lugares ermos, em suas emoções, e comprometeu a qualidade de sua paternidade, pelo menos em 3 aspectos fundamentais.

1 – Muitos desenvolveram um distanciamento natural de suas relações afetivas. Nunca receberam de seus pais carinho e cuidado, capazes de reproduzir a seus filhos. Perderam-se num mar de frustrações que os incapacitaram a ter um olhar diferente e rever suas próprias histórias. Não conseguiram dar aquilo que nunca experimentaram.

2 – Muitos assimilaram de forma equivocada o significado da paternidade e absorveram a anacrônica ideia de que ser pai é apenas dar as coisas que o filho precisa para sobreviver: casa, comida, roupa e educação! Homens e mulheres que tiveram tudo isso, em abundância, sofreram pela ausência física e emocional de seus pais, enquanto crianças e adolescentes. Esta ausência vem afetando áreas cruciais da vida infantil: não adianta dar a melhor escola e não dar o melhor abraço.

3 – Muitos desenvolveram uma masculinidade baseada na força e criaram bloqueios com seus filhos, por estarem sempre numa posição vertical de relacionamento. Não abriram uma caixa de ferramenta essencial para a sobrevivência de relações saudáveis: o diálogo! Com isso, emudeceram as últimas gerações que não conseguiam conversar dentro de suas próprias casas sobre os assuntos que envolviam o dia a dia deles, e muitos transferiram para a escola a única responsabilidade para desbloquear esta caixa.

Há um movimento para trazer os pais ausentes ao cumprimento de seus papéis. Há um apelo que vem de dentro do coração carente de milhares de filhos, para que eles retornem, reatem ou comecem um relacionamento que, em tempo algum, deveria ter sido rompido. Seja qual for a razão da ruptura, ela é inegavelmente prejudicial à saúde emocional dos filhos.

Em conferência na Bahia, um homem de quase 70 anos me disse, ao final de uma palestra: Se tivesse ouvido isso há muitos anos atrás, eu teria sido um pai muito melhor. Ao que respondi: vá para casa, não importam os anos passados, e nem quantos anos os seus filhos possuem, eles ainda esperam que o senhor seja um pai melhor.

Isso vale para você, também!


Wellison Magalhães é escritor e jornalista. Além de comunicação social, é formado em teologia. É graduado pelo Haggai Institute, no Havaí, EUA, autor de diversos livros, dentre eles “Paternidade de A a Z – Porque ser pai é bom, mas ser bom pai é melhor ainda”. É palestrante, tendo falado sobre esse tema em diversas cidades no Brasil e no Exterior.


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