Ensino de Literatura Africana na Educação Básica


Possivelmente, a maioria das pessoas nunca ouviu falar em nomes como Pepetela, Mia Couto, Agostinho Neto, Noémia de Souza, e talvez por isso não os reconheçam como representantes de peso em literatura. Isso acontece devido ao fraco ou inexistente ensino de literatura africana nas escolas.

Apesar da Lei 10.639/03 tornar obrigatório o ensino de cultura afro-brasileira e africana, ainda existe uma grande dificuldade na abordagem desse conteúdo nas salas de aula.

Embora seja lei o ensino de tal conteúdo, a maioria dos profissionais que estão hoje em regência de turma não possui capacitação adequada para ministrar aulas sobre o assunto. Muitos não tiveram conteúdos sobre o tema em suas formações e, por não se sentirem aptos e não conhecerem bem, preferem não incluir em suas aulas. Outros, apesar da deficiência na formação, abordam, mas de forma ineficiente, por falta do devido conhecimento.

Além da má formação dos discentes, um outo motivo que dificulta a disseminação do conteúdo de literatura afro-brasileira e africana na educação básica é o preconceito gerado em torno da cultura africana. As pessoas pensam que tudo gira em torno da religiosidade, mas é possível sim abordar essa temática sem trabalhar religião.

A literatura africana, apesar de relativamente nova, é riquíssima e vale muito a pena explorá-la. No início teve sua referência na literatura brasileira, mas hoje é uma escola forte capaz de gerar no seu leitor as mais diversas sensações.

É importante sempre lembrar que a história do povo brasileiro também foi escrita pelo povo africano, que seus descendentes têm o direto de contar sua versão dos fatos e nós temos o dever de ouvir e conhecer da mesma forma que damos espaço à versão europeia. Resgatar isso nos faz entender melhor quem somos. Um exemplo marcante é a questão do mar, que para os europeus é um lugar de se aventurar ao desconhecido em busca de inovação, mas para o africano é um lugar de separação, morte, tristeza (afinal, era por onde saíam os negros que seriam escravos nas Américas). E essa questão é muito trabalhada em romances e poesias, principalmente nas angolanas.

Esse conhecimento precisa estar ao alcance das crianças nas escolas desde a educação infantil. Sabe-se que muitas vezes o professor da educação básica não consegue nem mesmo concluir o conteúdo do currículo básico, mas não seria tão utópico assim pensar em um bom trabalho com a literatura africana em sala de aula.


Ingrid Ellen Motta Santos é professora na Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, graduada em Letras – Português/Literaturas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-graduada pela Faculdade Campos Elíseos.


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