Os melhores do ano: multiplicando conhecimento – Concursos educacionais


Em tempo de transformação e de troca de experiências realizadas no âmbito escolar, conheça os prêmios educacionais e os seus impactos na valorização de alunos e professores

Algumas premiações mundiais são tão famosas que dispensam apresentações, como o Oscar e o Grammy, respectivamente o maior prêmio do cinema mundial e o da indústria musical. Já para a área do conhecimento, poucos sabem, mas existem inúmeras premiações que contemplam grandes projetos pedagógicos. E o intuito dessas iniciativas é disseminar e valorizar boas práticas educacionais, além de mobilizar alunos, professores e gestores para a construção coletiva de experiências pedagógicas inovadoras.

Nessa edição, você vai conhecer os projetos que venceram as principais categorias dos concursos educacionais em 2018. E mais do que isso, vai descobrir como os participantes transformaram o conhecimento em ação, já que todas as propostas precisam de resultados decorrentes da prática. É o caso do projeto do Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa Intercultural Brasil-China, onde após os alunos terem sido classificados nos primeiros lugares nas etapas estadual e brasileira no mundial chamado Chinese Bridge, os jovens foram para a China competir nas categorias Instrumento e Dança.

Este concurso internacional de grande escala é realizado desde 2002 pela sede do Instituto Confúcio, uma organização educacional pública sem fins lucrativos vinculada ao Ministério da Educação da República Popular da China, cujo objetivo é promover a língua e a cultura do país. O objetivo do concurso é testar o domínio de jovens estrangeiros na língua chinesa, dando como incentivo bolsas de estudo em importantes instituições acadêmicas no maior país da Ásia oriental. As modalidades da competição incluem proficiência no idioma, conhecimento sobre a China, talentos culturais chineses e habilidades de compreensão.

Embarcaram para o país mais populoso do mundo rumo à edição 2018 do concurso os alunos Daniel Trabold (Flauta Chinesa) e Patrick Pinheiro (Categoria Performance: dança), que em outubro foi o 1º colocado em sua modalidade, trazendo para o Brasil e para a escola um lindíssimo troféu.

Os alunos Daniel Trabold e Patrick Pinheiro embarcaram para o país mais populoso do mundo rumo à edição 2018 do concurso Chinese Bridge, trazendo para o Brasil e para a escola um lindíssimo troféu

E por falar em iniciativas que revelam soluções formuladas pelos estudantes e seus professores, três trabalhos científicos foram os vencedores nacionais da 5ª edição do prêmio Respostas para o Amanhã, uma iniciativa da Samsung, com coordenação geral do Cenpec, voltado para estudantes do Ensino Médio de escolas públicas de todo o país. Os projetos foram criados a partir da identificação de problemas que afetam suas comunidades e que também figuram entre questões atuais e urgentes para o país. Os trabalhos vencedores se destacaram entre mais de 1.120 mil inscritos.

As escolas públicas aumentaram a participação nas inscrições em comparação com as instituições privadas.

O primeiro deles foi um larvicida natural para combater o mosquito Aedes Aegypti, idealizado e desenvolvido pelos estudantes do 3º ano da Escola de Referência em Ensino Médio Aura Sampaio Parente Muniz, com coordenação da professora Uanne Freire Bezerra. A partir de questões pesquisadas na disciplina de Biologia, os estudantes foram provocados a pensar em soluções alternativas no combate ao mosquito, e que fossem ao mesmo tempo eficientes e de baixo custo, permitindo sua replicação e uso na comunidade.

Já o segundo foi elaborado pelos estudantes do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, no campus da cidade de Osório. Desenvolvido na disciplina Gestão da Produção e da Qualidade, com a coordenação da professora Flávia Santos Twardowski Pinto, o projeto foi elaborado interdisciplinarmente com as áreas de Biologia e Química, em parceria com os professores Cláudius Jardel Soares e Saulo Antônio Gomes Filho. Vivendo num dos principais polos produtores de arroz no estado, os estudantes analisaram potenciais usos alternativos da casca do cereal. Com informações de que um elevado número de moradores do município consumia água de poços com altas concentrações de ferro e manganês, os jovens juntaram as duas questões para elaborar o projeto e criaram um biossorvente feito com a casca do arroz, que extrai metais pesados da água.

Visando o aumento da produção na agricultura familiar, principal fonte de renda da comunidade e das famílias de alguns estudantes, o terceiro grupo contemplado se propôs a desenvolver e testar a eficácia de um extrato produzido a partir do capim carrapicho e do pinhão-roxo. A ideia era testar a ação do produto em sementes. Desenvolvido pelos estudantes da turma Avançar Científico 2018 da E. E. M. Ronaldo Caminha Barbosa, em Cascavel, Ceará, o projeto foi realizado na disciplina de Biologia, com coordenação da professora Joseline Maria Sousa Nascimento, em parceria com Celiane Silva de Carvalho (Matemática) e Juciano Teixeira de Freitas (Português).

Projetos Engajados: professores premiados

Criado em 1998, pela Fundação Victor Civita, o “Prêmio Educador Nota 10” reconhece professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de instituições públicas e privadas de todo o país. Desde 2014, a iniciativa passou a contar com a parceria da Fundação Roberto Marinho. Ao longo das últimas 21 edições foram premiados 231 educadores, entre docentes e gestores escolares.

Nesta última edição, dois professores do estado do Rio foram selecionados com projetos sensacionais. Na Escola Municipal Levi Carneiro, Ana Paula Mello conseguiu fortalecer a relação dos estudantes do 6º e 7º anos, por meio do trabalho de educação patrimonial, com os bens culturais e naturais de Niterói, região metropolitana do Rio. Em um julgamento prévio, eles disseram que não havia nada a se conhecer no município. Percebendo que seus alunos, apesar de frequentarem a praia de Itaipu, nunca tinham notado a existência de sambaquis, desenvolveu uma sequência didática para contemplar essa situação geográfica e despertá-los para questões ambientais.

O Rio de Janeiro, por sua vez, teve um acréscimo considerável em três anos. Em 2016, o estado tinha 13% na participação nacional. Já neste ano fechou com 16%.

Desenhos, registros de imagens, oficinas de Arqueologia e uma saída de campo ao Museu de Itaipu contribuíram para que se compreendesse o valor do patrimônio, da paisagem e do lugar. Craque na escuta atenta dos alunos, a professora transformou várias sugestões dadas por eles em atividades, como a montagem de uma horta no pátio da escola, e organizou visitas a outros espaços relevantes do município, como os museus Janete Costa de Arte Popular e de Arte Contemporânea de Niterói.

Já José Marcos Couto Júnior, além de estar entre os dez melhores, foi o grande premiado da edição, com o projeto As Caravanas, Limites da Visibilidade. O educador do ano, que é professor de História na Escola Municipal Áttila Nunes, em Realengo, usou a música de Chico Buarque para trabalhar a inserção do negro na sociedade e a ideia de invisibilidade social. A iniciativa, realizada em conjunto com a professora Beatriz Souza, teve dois grandes objetivos: ampliar o mundo dos alunos do 8º e 9º anos, levando-os a conhecer outros territórios e culturas, e contribuir para que desenvolvessem a escrita e a autoestima antes de ingressar no Ensino Médio.

As escolas municipais também têm se destacado nas inscrições. Em três anos, houve um crescimento de 22%.

Na última edição do Encontro de Educação Appai (leia a matéria sobre o evento nas páginas 50 a 55), realizado no mês do professor, José Marcos e Beatriz apresentaram ao público participante o projeto vencedor do concurso. Emocionados e dispostos a compartilhar o conhecimento, os criadores surpreenderam por sua metodologia inteligente e de alto teor crítico, que deixa o aluno livre para refletir sobre questões sociais.

Os professores José Marcos e Beatriz Souza apresentaram ao público do III Encontro o projeto desenvolvido por eles, vencedor do Educador do Ano 2018

Beatriz ressalta que os concursos relacionados ao reconhecimento de projetos desenvolvidos em sala de aula podem estimular ainda mais a prática docente. “Através do reconhecimento não só pecuniário, mas pela visibilidade que acabam fornecendo ao próprio grupo de docentes e a comunidade escolar envolvidos na prática. Essa interação é extremamente importante para a construção dessa escola plural e dialógica que pretendemos, pois dela advêm o estímulo para a prática e a ideia de não estarmos sozinhos no processo”, explica.

José Marcos conta que é uma felicidade enorme participar de iniciativas como essa, mas ressalta que é apenas uma gota no oceano. “Existem tantos outros projetos legais e inovadores, mas que, por falta de viabilidade estrutural e financeira, ficam invisíveis diante da população de uma maneira geral. O ideal seria uns doze concursos por ano, um por mês, para encontrarmos esses educadores e conseguirmos contemplá-los do jeito que eles merecem”, afirma.

Agora já pensou ter seu projeto reconhecido como um dos melhores do mundo? O professor Diego Mahfouz Faria Lima ficou entre os 10 nomes que concorreram ao Global Teacher Prize 2018, organizado pela Fundação Varkey. A nomeação foi anunciada pelo bilionário Bill Gates.

Diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, localizada em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Diego foi nomeado para o prêmio por reestruturar o colégio que era conhecido como um dos piores do estado, com altos índices de violência e tráfico de drogas.

Na descrição dos indicados anunciados no site oficial (globalteacherprize.org), Diego é citado como um profissional que transformou a escola com um trabalho desenvolvido ao lado de estudantes, pais, professores, funcionários e membros da comunidade. Ele é também citado como alguém que persuadiu empresas e escolas locais a doar materiais para restaurar o edifício da instituição com apoio de parentes, colaboradores e estudantes.

Diego conta que, ao assumir o comando da escola, era comum ver adolescentes de 13 anos portando armas de fogo. “Houve alguns episódios na escola em que eu chorei bastante”, lembra o professor. “As salas de aula, além de incendiadas, eram todas pichadas. No meu primeiro dia de trabalho, colocaram fogo no banheiro, me jogaram água e também viraram os tambores de lixo em mim”. Diante da situação complicada, Diego afirma que sua atitude foi dizer que confiava nos estudantes e que queria ouvi-los. A partir desse momento, começou a reestruturação que resultou na sua indicação para o prêmio.

 

Iniciativas Empresariais

Na área empresarial, a International School, programa de educação bilíngue nas escolas, reconhecido pela contribuição dada ao estudo do bilinguismo no país, recebeu o Prêmio TOP de Educação 2018, na categoria Sistema de Ensino Bilíngue. A empresa, representada pelo CEO e fundador Ulisses Cardinot, comemora a conquista pelo segundo ano consecutivo ao lado de colaboradores e familiares. “O sonho de transformar vidas por meio da educação bilíngue nos fez chegar até aqui, sendo a prova de que estamos no caminho certo”, afirma o empresário.

A IS foi criada em 2009 dentro dos muros de uma instituição no estado do Rio de Janeiro e, após muita pesquisa e desenvolvimento, hoje é uma das maiores empresas de educação no Brasil, atendendo alunos dos ensinos Infantil e Fundamental dentro da grade curricular da escola. Nasceu da percepção de que, para desenvolver um programa eficiente de ensino por meio do inglês, seria necessário muito mais do que buscar uma abordagem pedagógica nova e atualizada. Atualmente, está presente em mais de 200 escolas, em 22 estados brasileiros e atende cerca de 65 mil alunos.

Aqui podemos observar que diversas áreas têm buscado seu espaço para uma educação de qualidade. Antes, o projeto realizado pelo aluno se destacava, enquanto hoje também os professores, diretores e empresas que desenvolvem atividades educacionais têm aumentado sua participação nas premiações.

Com as inúmeras mudanças por que a educação vem passando nas últimas décadas, a importância do educador no processo de aprendizagem também tem sido debatida. A relação professor-aluno, atualmente, é bastante dinâmica, pois o docente deixou de ser apenas transmissor de conhecimentos e se tornou um orientador/estimulador que norteia os estudantes na concepção de seus próprios conceitos, valores, atitudes e habilidades.

Nesse contexto, o profissional da área educacional ocupa lugar central, executando a missão de cuidar da formação dos que chegam até a escola. Numa população que está cada vez mais acelerada e exigente, os obstáculos da contemporaneidade requerem educadores capacitados, criativos e inovadores, que difundam novas propostas para um planeta em constante transformação.

Por isso, reconhecer boas práticas educacionais pode ser uma forma de incentivar a continuidade de ações similares pelos quatro cantos do mundo. Através de gráficos produzidos pela Revista Appai Educar, conseguimos ilustrar o crescimento do Brasil nas inscrições em prêmios internacionais, bem como na área científica.

O crescimento das inscrições é tão nítido que a Revista Appai Educar também reagiu a esse impacto positivo, saltando de 2 para mais de 10 projetos premiados e divulgados.

Como incentivo para os professores continuarem inscrevendo seus projetos nos prêmios educacionais, o Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro, Wagner Victer, deixou um recado exclusivo aos leitores da Revista Appai Educar:

“Na rede estadual de ensino, temos exemplos de educadores que se destacam em premiações nacionais e internacionais. Compartilhar experiências e projetos é, antes de mais nada, um gesto de nobreza do professor, porque possibilita ao outro a oportunidade de conhecer diferentes realidades e culturas, e crescer com elas. O prêmio vem como uma consequência natural do trabalho bem-sucedido e valoriza não somente o profissional, como os alunos e toda a comunidade escolar. Além disso, também enriquece o ambiente de aprendizagem estimula que mais docentes se unam e tenham interesse em multiplicar seu conhecimento.”

Wagner Victer, Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro

Se você, leitor, participa de um projeto interessante no seu colégio e não vê a hora de inscrevê-lo, confira a seleção de concursos e fique de olho nos sites onde você pode ver os prazos de inscrição para 2019. Boa sorte!

Global Teacher Prize | www.globalteacherprize.org

Educador Nota 10 | www.premioeducadornotadez.com.br

Prêmio Professores do Brasil | www.premioprofessoresdobrasil.mec.

gov.br

Prêmio Shell de Educação Científica | www.premioshelldeeducacaocientifica.com

Prêmio Top de Educação | www.premiotopeducacao.com.br


Por Jéssica Almeida e Richard Günter


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