Descomplicando o ensino de Física


 

Projeto realça a importância da disciplina para a sociedade e mostra como os temas são desenvolvidos

Teoria da Relatividade. Mecânica Quântica. Buracos negros. Estes são alguns dos fenômenos estudados na atualidade inclusos no temário da Física Moderna, que causam arrepios a muitos jovens e, por que não, a muitos adultos. Todavia, esses temores estão sendo desconstruídos a partir da inserção de tais conteúdos no Ensino Médio e no currículo mínimo estadual do Rio de Janeiro.

E uma forma de constatar que a caminhada tem sido satisfatória são as exposições científicas realizadas em instituições como o Colégio Estadual Canadá em Nova Friburgo, na região Serrana, com a I Mostra de Física de Partículas. Entre as variadas discussões, questões como: De que é feito o universo? O que é o bóson de Higgs? Como funciona o acelerador de partículas? Além disso, outros aspectos bastante apreciados foram as biografias de cientistas e a trajetória dos modelos.

A proposta dessa iniciativa é a divulgação da física de partículas na comunidade escolar através da participação dos alunos no Masterclass (Projeto desenvolvido pelo Cern – Organização Europeia para Pesquisa Nuclear – para que os estudantes analisem os resultados de eventos ocorridos no acelerador), assim como o incentivo ao protagonismo através da elaboração da Mostra de Física de Partículas, que produziram sob a orientação da professora Adriana Oliveira Bernardes, responsável pela disciplina.

A docente, que em 2010 foi selecionada pela SBF (Sociedade Brasileira de Física) para visitar o acelerador de partículas do Cern na Suíça, desenvolveu a seguinte metodologia: dividiu a turma do 3º ano do Ensino Médio, com cerca de 30 alunos, em grupos de três membros. Cada equipe ficou responsável por pesquisar um dos temas a seguir e a produzir maquetes: “A descoberta do nêutron”, “O experimento CMS”, “O experimento ALICE”, “O experimento ATLAS”, “O experimento LHC-b”, “O CERN” e “O LHC”.

A distribuição dos temas foi feita por meio de sorteio e os discentes foram orientados a seguir determinados passos para a realização do projeto. Como o de levantar dados sobre o tema na internet, elaborar os conteúdos dos slides, apresentar a pesquisa em sala de aula, produzir maquete e expor o trabalho na I Mostra de Física de Partículas do CEC. Ou seja, o passo a passo de um futuro seminário acadêmico.

No quesito internet, os cuidados foram redobrados. As recomendações visavam alertar sobre a profusão de conceitos e informações incorretas. Para evitá-las, a orientação era buscar fazer as pesquisas em sites de universidades.

O campo da apresentação imagética foi mais tranquilo, não suscitando muitas preocupações. Os estudantes desenvolveram uma vivência bastante abundante, digamos assim, com o universo virtual. Muitos dominam programas gráficos básicos como o PowerPoint, usados desde os trabalhos do 1º ano do Ensino Médio, como ocorreu para a Mostra de Astronomia. As dicas focaram o equilíbrio entre mais imagens e pouco texto, explorando a síntese dos conteúdos em tópicos e subtópicos. Uma excelente pedida, pois muita informação torna o trabalho poluído.

As apresentações em sala de aula serviram como ensaios, em que a professora teve chance de interagir com os alunos potencializando os aspectos relevantes dentro de cada tema. Assim como comentar sobre os excessos de texto e a importância do bom uso de imagens, de forma a manter um equilíbrio entre ilustrações, textura, letras, fios, claros, cores. Também no campo visual, mas concreto, a produção de maquetes elaboradas de acordo com a temática abordada: átomos, os experimentos, o acelerador de partículas, entre outros. A ideia era a explicação do funcionamento ou os conceitos.

Em suas pesquisas, os jovens puderam traçar a trajetória de como a física de partículas vem sendo desenvolvida desde a Antiguidade quando dois filósofos gregos pré-socráticos – Leucipo (primeira metade do século V a.C.) e Demócrito (460 a.C. – 370 a.C.) – elaboraram a ideia de átomo como sendo o menor constituinte da matéria. Quase dois mil anos depois surgiu o Modelo de Dalton, em que o meteorologista e físico inglês considerou ser a matéria composta por esferas maciças chamadas átomos.

Ainda segundo a constatação dos jovens pesquisadores, o chamado modelo do “pudim de ameixas”, do físico britânico J. J. Thonson (1856 – 1940), prevaleceu, afirmando ser o átomo constituído de uma esfera positiva, na qual estavam incrustadas partículas negativas. Posteriormente, veio o modelo de Rutherford – do tipo nuclear –, do físico e químico neozelandês naturalizado britânico Ernest Rutherford (1871 – 1937), que afirmava que no núcleo localizavam-se as partículas positivas e ao redor as negativas.

Em seguida, surgiu o modelo de outro físico, o dinamarquês Niels Bohr (1885 – 1962), também nuclear, mas no qual os elétrons deveriam ocupar órbitas definidas. Os alunos discutiram inclusive sobre a descoberta do nêutron em 1932 pelo físico britânico James Chadwick (1891 – 1974), uma partícula neutra que ocuparia com o próton o núcleo do átomo.

O entusiasmo da feira pôde ser observado pela curiosidade e inúmeras perguntas feitas pelos colegas das turmas do 1º e 2º anos, bem como dos docentes e funcionários do colégio. Para a professora, essas atividades são importantes para aprimorar e robustecer o protagonismo dos estudantes. Mas também a própria valorização da disciplina Física no Ensino Médio de forma a contextualizá-la proporcionando aos alunos a percepção de sua importância para a sociedade atual e de como os temas são desenvolvidos.


Por Sandra Martins
Colégio Estadual Canadá
Rua Jardel Holtz, s/nº – Bairro Olaria – Nova Friburgo/RJ
CEP: 28621-130
Tel.: (22) 99902-7681
E-mail: adrianaobernardes@bol.com.br
Coordenadora: Adriana Bernardes
Fotos cedidas pela professora

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