Nós, os experts da comunicação


Comunicar é talvez a ação que mais define os seres humanos. Isso acontece a tal ponto que empregamos alguma forma de comunicação em praticamente todos os momentos da nossa vida. Para realizar isso, nós utilizamos uma série de artifícios linguísticos que são colocados em prática de acordo com a situação e a finalidade que nos move. São as chamadas Funções da Linguagem, que estão relacionadas aos elementos da comunicação: emissor, receptor, código, canal e contexto.

Função Emotiva: voltada para expressar a subjetividade de quem comunica, essa função normalmente é construída na primeira pessoa. Com ela, se pretende convencer, seduzir ou conquistar o interlocutor para a perspectiva de quem está comunicando. Daí o apelo ao emocional. Veja:

“Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim.” (Zé Rodrix)

 

Função Referencial: ao contrário da anterior, aqui o objetivo é informar um conteúdo de maneira clara e objetiva, satisfazendo uma necessidade de transmissão de conhecimento. Por isso não há aqui espaço para a subjetividade ou preferência do emissor, o que faz com que de um modo geral seja construído um enunciado na 3ª pessoa. Observe:

O encontro será destinado a eliminar as dúvidas dos participantes.

 

Função Conativa: nesse caso o objetivo é transmitir um conteúdo com forte poder de persuasão ou de esclarecimento. A estratégia básica utilizada é dirigir-se de maneira incisiva ao receptor, o que leva a um predomínio de enunciados em 2º pessoa e quase sempre empregando formas verbais no imperativo. Muito presente em textos publicitários e em discursos políticos. Veja:

Você decide o destino do seu país! / Vote na chapa que sempre esteve ao seu lado.

 

Função Fática: o objetivo nesse caso é estabelecer uma forma de comunicação que de algum modo exerça controle sobre o receptor, seja prolongando um discurso, seja buscando interromper um diálogo que estava estabelecido. Nesse caso a comunicação está bastante centrada na linguagem empregada. Acompanhe:

Como vai? Ouvi dizer que você esteve doente! / Preciso ir. Foi um prazer revê-lo.

Obs.: Utilizamos essa função em ocasiões muito típicas de relações sociais, como os famosos “jogar conversa fora” ou “fugir daquele papo”, por exemplo.

 

Função Metalinguística: é a função que utilizamos para refletir sobre a própria natureza da linguagem ou do ato de comunicar, sendo por isso muito empregada nos discursos poéticos ou em textos publicitários. Veja:

Escrever é expressar em sinais gráficos a complexidade de uma alma.

 

Função Poética: trata-se de uma forma de comunicação amplamente centrada na linguagem, caracterizada por comunicar a partir da amplificação dos sentidos usuais das palavras, propondo novas relações entre elas. É uma função voltada sobretudo para a exploração do aspecto estético e subjetivo do enunciado, dificilmente sendo empregada em funções direcionadas para a informação objetiva ou a transmissão de conteúdos informativos ou explicativos. Exemplo:

“Vozes veladas / Veludadas vozes / Volúpias dos violões / Vozes veladas…” (Cruz e Sousa)

 

Acredito que agora de posse desse conhecimento você estará mais atento à forma com que se comunica no seu dia a dia. Como podemos ver, satisfazer essa tarefa tão própria do ser humano que é comunicar representa um domínio de habilidades e intenções que nós praticamos muitas vezes sem perceber. É isso que faz de cada um de nós, independente da competência linguística, verdadeiros experts na arte de se comunicar. Até a próxima, pessoal!


Por Sandro Gomes
Graduado em Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa, Revisor da Revista Appai Educar, Colunista da Appai, Escritor e Mestre em Literatura Brasileira.

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