Quando uma zoação vira pesadelo


Sua escola está atenta ao bullying e ao cyberbullying?

Antigamente esnobado, hoje o bullying na escola se tornou uma temática de prevenção. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats), mais de 70% dos alunos brasileiros já presenciaram pelo menos um tipo de agressão alguma vez durante o período escolar. O cyberbullying segue a mesma linha, mas a diferença é que a agressão é feita pela internet, onde há espaço menos controlado e a violência acaba acontecendo em redes sociais ou pelo celular.

Maria Tereza Maldonado*, mestre em Psicologia Clínica, palestrante das atividades do Benefício Educação Continuada da Appai e membro da Associação Brasileira de Terapia Familiar, concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Appai Educar e revelou que a intolerância real e virtual nas escolas está crescendo a passos longos, mas que a cada dia vêm se desenvolvendo novas práticas para o seu combate.

No computador e no smartphone, mensagens com imagens e comentários depreciativos se espalham numa velocidade alucinante e tornam o bullying um problema ainda mais crítico. Como o espaço virtual é ilimitado, o poder de agressão se amplia e a vítima se sente indefesa mesmo fora da escola. E o pior é que, na maioria das vezes, ela não sabe nem de quem se defender.

O bullying tem pontos incisivos que podem ser indicados:

A vítima – Costuma ser tímida ou pouco sociável e foge do padrão do restante da turma pela aparência física (raça, altura, peso), pelo comportamento (melhor desempenho na escola) ou ainda pela religião. Geralmente é insegura e, quando agredida, fica retraída e sofre, o que a torna um alvo ainda mais fácil.

O Agressor – Atinge o colega com repetidas humilhações ou depreciações porque quer ser mais popular, se sentir poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir.

O Espectador – Nem sempre reconhecido como personagem atuante em uma agressão, é fundamental para a continuidade do conflito. O espectador típico é uma testemunha dos fatos: não sai em defesa da vítima nem se junta aos agressores. Quando recebe uma mensagem, não repassa. Essa atitude passiva ocorre por medo de também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido.

Já o cyberbullying possui características específicas e distintas das do bullying tradicional:

O Anonimato – O agressor muitas vezes é anônimo, causa inibição por não ter coragem de realizar face a face. O próprio anonimato permite a intimidação de um indivíduo com os outros.

A Acessibilidade – O agressor pode atacar a vítima a qualquer hora.

Medo de punição – Muitas vezes as vítimas não denunciam por medo de represálias dos agressores e pelo medo de ter computador e telefone retirado pelos adultos.

Espectadores – Tanto o agressor quanto a vítima não têm controle da proporção que as postagens ameaçadoras podem tomar, chegando a milhões de visualizações.

A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) sugere as seguintes atitudes para um ambiente saudável na escola:

• Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões;

• Estimular os estudantes a informar os casos;

• Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema;

• Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar;

• Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos;

• Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do bullying.

Desde fevereiro de 2016, uma lei federal determina que todas as escolas públicas e privadas do Brasil precisam garantir medidas de conscientização, prevenção e combate à violência. A legislação é clara e diz que o bullying não se trata apenas de agressão física, mas também verbal, moral, sexual, social, psicológica, física, material e, inclusive, virtual. Mesmo que seja uma violência pela internet, as consequências podem ser as mesmas ou até piores, pois o ambiente virtual é um meio aceleradíssimo de distribuição das informações. Ou seja, dependendo de onde vão parar, determinados maus-tratos podem ter um efeito viralizador, passando de pessoa a pessoa de forma incontrolável.

Bullying é derivado da palavra bully, que significa valentão, brigão.

Para Tereza Maldonado, o bullying só existe porque há expectadores, por isso é preciso que os alunos reajam à intimidação de um colega, não ficando calados. Apesar de os alunos serem mais ágeis que os educadores na identificação do bullying, há um papel fundamental dos docentes, o de aplicar-se moralmente no problema. Uma questão que vai além dos muros da escola, pois a família deve estar unida aos professores para que o combate seja eficaz.

Sobre os famosos vazamentos de nudes** entre os estudantes, Maldonado é enfática: “Precisamos alertar os jovens sobre como preservar a própria privacidade. É possível trabalhar essas questões em sala de aula, expondo sobre o que pode acontecer com uma foto sua quando colocada na internet”. De acordo com a especialista, há diversos casos em que a vítima chega ao suicídio ao ter imagens íntimas circulando na rede. “É um problema presente e constante que precisamos combater. As escolas têm o poder do diálogo. Se tivermos essa relação entre elas e a família, a prevenção é mais eficaz”, ratifica.

Indagada sobre como a gestão escolar pode se preparar para tratar o assunto, Tereza Maldonado diz que é preciso, em primeira instância, reconhecer a existência do bullying. “Há uma certa resistência em admitir que está acontecendo, por isso é preciso conhecer e cumprir as leis de combate. E jamais subestimar o cyberbullying”, enfatiza. Contudo, Maldonado acredita que engajar os professores e envolver os pais na vida escolar pode transformar os valores dos alunos.


Por Richard Günter
*Maria Tereza Maldonado tem 40 livros publicados sobre relações familiares, desenvolvimento pessoal e construção da paz, com mais de um milhão de exemplares vendidos.
** Nudes é um termo usado para pedir a alguém fotografias ou vídeos pessoais de cunho sexual.
Fontes: Abrapia | Ceats | Gestão Escolar | Portal Educação | G1

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