Os conceitos adquiridos sobre liderança – desde a mais tenra idade, através dos diversos comportamentos sociais, seja na família, na escola ou em associações e entidades – acabam por introjetar as idéias de hierarquia e dominação como sendo o sistema existente no Brasil. Atribui-se também tal compreensão ao antigo sistema escravocrata e senhorial, o modelo de dependência que ainda prevalece, baseado em
concepções de liderança que convertem a educação em símbolo social dos privilégios e do poder dos membros das camadas dominantes.
Todavia, no terceiro milênio, percebem-se mudanças de grande vulto nas relações humanas e busca-se compreender, cada vez mais, a essência do que vem a ser o ato de liderar e educar. Tais mudanças devem-se ao fato de o homem lançar novos olhares para o seu meio, preocupando-se com uma percepção mais abrangente das dimensões humanas.
É preciso ampliar a visão de liderança, fazendo com que esta compreensão se estenda às várias esferas sociais, especialmente as organizações pelas quais passamos:
escola, empresa, igreja e comunidade de bairro. Então, surge um novo paradigma, o do líder-servo, o qual demonstra ser adequado para as novas necessidades de relacionamento humano – estreitar a ação entre liderança e educação – extraindo de ambas as mais profundas essências: servir e aprender.
A liderança servidora e o educador-líder
Faz-se necessária a compreensão dos fundamentos e das competências à formação do perfil de liderança servidora para a atuação do educador que pretende aprofundar
o seu relacionamento com o educando. Esse modelo de liderança demonstra ser pertinente e de vital importância para a formação de profissionais que objetivam o
crescimento e o desenvolvimento de seus seguidores, levando-se em conta a relevância da aprendizagem neste tipo de relacionamento que preza a autonomia.
Veja abaixo as competências – divididas em 5 gerais e 14 específicas – necessárias para os professores que desejam desenvolver a liderança servidora.
PESSOAIS E EDUCACIONAIS
1 – Adotar fundamentos éticos (como confiança, transparência e responsabilidade social) através de ações colaboradoras voltadas às comunidades de convivência.
2 – Aplicar teorias e estratégias de aprendizagem, instituindo a cultura do aprendizado de mão-dupla continuamente.
INTERPESSOAIS
3 – Valorizar o desenvolvimento de pessoas, estimulando o seu aperfeiçoamento através do potencial disponível (criatividade, reflexão, inteligência emocional etc.).
4 – Desenvolver relacionamentos e comunicação interpessoal, aprofundando e valorizando o cantato humano entre as pessoas.
5 – Trabalhar em equipe, oferecendo a abertura necessária para a diversificação proporcionada na ação conjunta.
6 – Transitar na diversidade, ampliando as oportunidades de cooperação entre os colaboradores, respeitando-os nas suas mais diversas formas de se manifestar.
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ORGANIZACIONAIS
7 – Implementar mudança, criar e inovar, gerando a cultura das transformações mais bem planejadas e comunitárias.
8 – Promover o desenvolvimento organizacional, visando ao todo na relação entre os colaboradores.
COGNITIVAS
9 – Conhecer os fundamentos e teorias de liderança, amparando-se nos modelos para refletir e compreender a dinâmica de funcionamento nas múltiplas possibilidades de
emprego que a relação líder-seguidor demanda.
10 – Pesquisar e analisar dados, embasando-se com conhecimento prévio, organizado, sem perder de vista, contudo, o desenvolvimento da intuição e da exploração de recursos criativos.
11 – Gerir informação e gerar conhecimento, fazendo uso do saber colaborador e ultrapassando os portões do conhecimento acumulado.
PROFISSIONAIS
12 – Solucionar problemas e tomar decisões.
13 – Empreender e administrar, tratando do planejamento, de estruturação, da direção e do controle das atividades organizacionais, haja vista a necessidade de existirem
três tipos de habilidades para a prática do administrador:
• Técnica – uso de equipamento, técnicas, métodos e conhecimentos para a realização
de tarefas específicas.
• Humana – capacidade de se trabalhar com pessoas, entendendo as suas motivações e atitudes.
• Conceitual – consiste na capacidade de lidar com idéias e conceitos abstratos, fomentando filosofias e princípios gerais de ação.
14 – Implementar projetos, estimulando a participação comunitária de interesse desde o planejamento até a implementação e o conseqüente acompanhamento.
O educador-líder surge oportunamente. Vivemos um período de adaptações constantes. Percebemos a necessidade de enxergar holisticamente. Contudo, não conseguimos agir em prol desta evolução nas relações humanas e educacionais.
Através do serviço prestado pela liderança servidora, é possível obter mais do estudante que participa por meio das suas reflexões e intervenções críticas. As pessoas
descobrem em si, com o apoio de uma boa relação educacional, os valores que as motivam a serem criativas, singulares, comunicativas, reflexivas, participativas e aptas
a desenvolverem mudanças com maior autonomia.
Obs.: Matéria cedida pela Revista Profissão Mestre
Colaboração: Armando Correa de Siqueira Neto (psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas e professor universitário)
E-mail: selfcursos@uol.com.br
Ilustração: Patricia Rocha
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