O transformar é a essência
da vida

 

 

 

 


Manuel Bergström Lourenço Filho, educador e escritor brasileiro, foi um dos primeiros a revolucionar a Educação no Brasil, juntamente com Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, ao introduzir o movimento da Escola Nova aqui no país.
Cursou duas vezes a escola normal, fez dois anos de Medicina e formou-se em Direito. Aos 24 anos, foi indicado para o cargo de diretor da instituição pública do Ceará, ficando responsável pela reorganização do ensino do estudo, o que resultou em dois anos e meio de trabalho de grande repercussão. Essa foi uma das primeiras realizações da Escola Nova.
Autores importantes como Émile Durkhein (1858-1917) e Edouard Claparéde (1873-1940) foram traduzidos por ele. Ocupou vários cargos e, dentre eles, foi diretor-geral da Instrução do Estado de São Paulo; chefiou o gabinete do ministro da Educação e Saúde, Francisco Campos; dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), onde teve a oportunidade de criar, em 1944, a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos; e, entre tantas outras obras, escreveu, em 1927, pela Cia. Melhoramentos de São Paulo, seu primeiro livro intitulado A Escola Nova.
Lourenço Filho acreditava numa escola pública integral e laica. Para ele, a grande questão da Educação consistia numa organização social.
O grupo do Movimento da Escola Nova teve a influência do filósofo norte-americano John Dewey (1859-1952) que sustenta em dois princípios básicos a educação: o ensino universal público e gratuito; e o primado da experiência na formação do conhecimento.
A união do grupo do Movimento da Escola Nova era conduzida também por objetivos estratégicos, que seriam evidenciados no lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932. O mani­festo foi um documento que surgiu com um pedido do presidente Getúlio Vargas aos profissionais de ensino para que fossem colaboradores do governo.
Um dos objetivos deste manifesto foi distinguir os educadores que apoiavam este documento, os chamados liberais, dos educadores que eram ligados ao ensino católico e conservador.
Este manifesto defendia a laicidade do ensino e a obrigação do Estado de tornar efetivo o princípio do direito biológico de cada indivíduo à sua educação integral.

A Escola Nova

Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na América e no Brasil, na primeira metade do século XX .
Umas das principais características deste movimento é o privilégio de tratar a criança como criança, já que, até então, estas eram tratadas como adultos em miniatura. Até as roupas que vestiam eram iguais às que seus pais usavam e, assim, as crianças não tinham uma sensação de mobilidade.
Segundo Jean-Jacques Rousseau, a infância é um momento de ingenuidade, virgindade do humano contra o bem e o mal, entre outras coisas que exprimem liberdade.
As transformações da escola já estavam previstas. No entanto, era neces­sário dar a ela uma nova visão da psicologia infantil, dando uma nova roupagem ao ensino. Durante um bom tempo, o ato de aprender significou memorizar e, segundo Anísio Teixeira, após isso, o aprender passou a incluir a compreensão e a expressão do que fora ensinado; por último, envolveu algo mais: ganhar um modo de agir. Só aprendemos quando assimilamos uma coisa de tal jeito que, chegado o momento oportuno, sabemos agir de acordo com o aprendido.
A escola, neste momento, assumia um papel mais abrangente no que diz respeito ao ato de educar: a instrução para formar homens livres, tal como a preparação para um futuro incerto, em vez de transmitir um passado claro; e o ensinar a viver com mais inteligência.
Lourenço Filho aponta a escola que Dewey dirigia no final do século passado, na Universidade de Chicago: “As classes deixavam de ser locais onde os alunos estivessem sempre em silêncio ou sem qualquer tipo de comunicação entre si, para se tornarem pequenas sociedades que imprimissem nos alunos atitudes favoráveis ao trabalho em comunidade.”(Lourenço Filho. Introdução ao estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos, 1950. p. 133).
Um dos trabalhos mais difundidos do autor, tanto no Brasil como no exterior, foi a criação dos Teste ABC. O objetivo deste teste era verificar a maturidade que o aluno deveria ter para ingressar na alfabetização.
Na época, os testes tiveram uma repercussão muito grande, pois procuravam se encaixar dentro de um sonho da pedagogia que era formar classes homogêneas, para aumentar, assim, o rendimento escolar.
Depois de um tempo, o uso desses testes caiu em desuso pelos psicólogos, assim como a idéia de classe homogênea, pelos pedagogos.
A Escola Nova recebeu muitas críticas. Foi acusada principalmente de não exigir nada, de abrir mão dos conteúdos tradicionais e de acreditar, ingenuamente, na espontaneidade dos alunos. A leitura das obras e a análise das poucas experiências em que, de fato, as idéias dos escolanovistas foram experimentadas com rigor mostram que essas críticas são válidas apenas para interpretações distorcidas do espírito do movimento.


John Dewey

John Dewey nasceu em 1859 na cidade de Burlington (Vermont), nos EUA. Iniciou seus estu­dos nas escolas públicas desta cidade, ingressando, depois, na Universidade Vermont, onde se diplomou em 1879. Após uma curta experiência como professor numa escola rural, voltou à universidade por mais um ano, a fim de continuar os seus estudos de Filosofia. Na Universidade de Jonhs Hopkins, após dois anos de intensos estudos, recebe o grau de Ph.D, especializando-se em História Política e das Instituições, sob a orientação de Herbert B. Adams, e em Filosofia, sob a orientação de George S. Morris e Charles S. Pierce.
A filosofia do Dewey sugere uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar suas próprias certezas, seus próprios conhecimentos e suas próprias regras. Mas isso não significa diminuir a importância do educador. A tarefa dos professores seria, então, não a de permitir que os impulsos naturais das crianças se expressassem espontaneamente, mas, sim, oferecer a elas uma orientação que propiciasse o contato com situações novas, estimulando a reorganização das experiências e possibilitando aos alunos dirigir seus impulsos para um caminho inteligente.

Fernando de Azevedo

Fernando de Azevedo, professor, educador, crítico, ensaísta e sociólogo, nasceu em São Gonçalo do Sapucaí/MG, em 02 de abril de 1894, e faleceu em São Paulo/SP, em 18 de setembro de 1974. Eleito em 10 de agosto de 1967 para a Cadeira n.º 14, sucedendo A. Carneiro Leão, foi recebido, em 24 de setembro de 1968, pelo acadêmico Cassiano Ricardo.
Segundo Nelson Pilleti, Fernando de Azevedo foi um homem de pensamento, com múltiplos interesses intelectuais, para quem nada do que é humano era estranho. Da educação física – área em que foi especialista, tendo escrito uma tese pioneira em 1915 – às ciências sociais, trajetória que completou em 20 anos, transitou pelo ensino de latim e de psicologia, pela crítica literária, pela investigação sobre a arquitetura colonial e a educação paulista, pela reforma educacional. Estudioso e amante dos clássicos, nunca escondeu o seu fascínio pelas ciências modernas, que procurou incluir nos currículos escolares, tanto que, nos anos 50, organizou a obra As Ciências no Brasil, cuja segunda edição saiu pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1994. Entre 25 livros, a maioria na área da educação, escreveu obras pioneiras no campo das ciências sociais, como: Princípios de Sociologia (1935), Sociologia Educacional (1940) e Canaviais e Engenhos na Vida Política do Brasil (1948).

Anísio Teixeira

Anísio Teixeira nasceu em 1900, em Caetité, na Bahia, praticamente junto com o século XX. Tornou-se, no transcorrer das sete décadas que viveu, personagem histórico singular, expressão brasileira do ímpeto de reorganizar o mundo e fazê-lo transitar da barbárie para a civilização, do obscurantismo para a luminosidade.
Em 1930, quando foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, Anísio publicou o artigo Por que a Escola Nova, que resumiu suas reflexões sobre temas predominantes na vanguarda da Educação. Eis algumas:

• Progresso: “Tudo está a mudar e a se transformar. Não há alvo fixo. A experi­mentação científica é um método de progresso literalmente ilimitado”.

• Tendências da época: nova atitude espiritual (“segurança, otimismo e coragem diante da vida”), industrialismo (“com nova visão do homem, também filho da Ciência e de sua aplicação à vida”) e democracia (“cada indivíduo conta como uma pessoa”).

• Unidade planetária: “A indústria está integrando o mundo inteiro em um todo interdependente. A idéia e o pensamento, hoje, são propriedades comuns de todo o homem. O vapor, o trem, o automóvel e o aeroplano, como o telégrafo, o telefone e o rádio, põem todo o mundo em comunicação material e espiritual”.

• Escola Nova: “Uma escola de vida e experiência, para que sejam possíveis as verdadeiras condições do ato de aprender; uma escola onde os alunos são ativos.”



Colaborou com este artigo a professora Neiva Perpétua de Souza Aragão, que, gentilmente, cedeu para pesquisa uma de suas raridades, o livro Introdução ao Estudo da Escola Nova, publicado em 1933, que serviu como material bibliográfico e cuja capa ilustra a Série Pedagogos desta edição.


Fontes:

LOURENÇO FILHO. Introdução ao Estudo da Escola Nova. 3.ª ed. São Paulo: Comp. Melhoramentos de São Paulo, 1933.
PILETTI, Nelson. Fernando de Azevedo: a educação como desafio. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP-MEC, 1985).
Grande Enciclopédia Delta Larousse – vol. 11, pág. 6587. São Paulo: Editora Delta, 1970.
http://novaescola.abril.com.br/ed/167_nov03/html/pensadores.htm