Entre os estudantes, o excesso de peso das mochilas é um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento dos sintomas de Cifose – curvatura da coluna
Em todas as técnicas de educação postural, os exercícios corretivos buscam o reequilíbrio da postura
Por não serem ajustáveis ao biótipo dos alunos, inclusive dos deficientes físicos, o imobiliário escolar tem contribuído bastante para o aumento de reclamações de dor na região lombar
Com a cadeira ergométrica, os deficientes físicos podem ajustá-la para que fiquem numa posição confortável, ao mesmo tempo em que mantêm uma postura correta
Manter uma boa postura e fazer exercícios para melhorar a musculatura das costas são os melhores remédios para curar as lesões causadas pela má postura
Muchilômetro – uma balança que registra o peso da mochila e do estudante


Alunos do Ciep Heitor dos Prazeres participam de
Programa de Educação Postural

Por Antônia Lúcia

Você sabe quais são os riscos de se carregar uma mochila pesada nas costas? Se você sabe, parabéns! Porque essa é uma preocupação que ainda não faz parte do dia-a-dia da maioria dos estudantes brasileiros que, por falta de informação ou por força do hábito, continuam levando excesso de quilos sobre as costas sem se darem conta de que essa prática pode acarretar sérias alterações na coluna.
Para mudar esse cenário, o professor de educação física e fisioterapeuta Francisco Miguel Pinto implantou, há aproximadamente seis anos, no Ciep Heitor dos Prazeres, localizado em Pedra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, o Projeto Educação Postural na Escola, cujo foco é conscientizar a comunidade escolar acerca dos riscos e conseqüências de uma má postura.
Segundo o fisioterapeuta, ao reaprender a carregar a mochila de maneira correta, andar, sentar e até dormir, os estudantes estão não apenas tomando uma consciência postural, mas, também, melhorando a sua auto-estima. Desenvolvido dentro da disciplina Promoção da Saúde, o programa de Educação Postural é realizado durante todo o ano letivo. O trabalho tem início com uma série de palestras que abordam desde a anatomia da coluna até os principais desvios, passando pela reeducação postural.
Após as palestras, é feita uma avaliação para saber quais os alunos que apresentam problemas. Nesse grupo, são separados aqueles que manifestam apenas indícios de má postura funcional, em decorrência dos descuidos diários, daqueles que manifestam problemas mais graves. “Os alunos que apresentam um quadro considerado mais sério são aconselhados a procurar um ortopedista. Nesses casos, nós encaminhamos aos pais ou responsáveis uma ficha de avaliação com a sugestão de trata­mento. Já os demais são orientados a participar da ginástica postural”, explica o fisioterapeuta, acrescentando que esse trabalho dura de três a seis meses, dependendo do grupo.

 

 

 

 

 

 

 


Em sala de aula, a cada uma hora, a atividade também é reforçada com exercícios de alongamento que ajudam a aliviar as tensões e auxiliam na redução do desconforto muscular, fazendo com que os alunos fiquem mais à vontade e menos dispersos.
“Em todas as técnicas de educação postural, os exercícios corretivos buscam o reequilíbrio da postura. O indivíduo assume uma posição errada durante muito tempo e o corpo acaba assimilando, de uma forma inconsciente, um padrão postural inadequado. Por isso, a cada hora, são feitos alongamentos, que defino como a higiene da coluna. Os exercícios proporcionam distensões musculares, afastamentos proporcionais das vértebras e relaxamento da musculatura, ativando a circulação sangüínea em outros pontos. Depois de uma hora, voltamos a fazer uma nova sessão de alongamentos. Aqui na escola, já virou hábito. Descontrai a aula, integra o aluno e faz com que ele saia daquela postura errada que inconscientemente adotou”, explica o fisioterapeuta.
Antes de iniciar a pesagem das mochilas, todo estudante passa pelo simeógrafo – aparelho criado pelo fisioterapeuta para avaliar as simetrias musculares da turma. Só após essa checagem é que os alunos passam pelo processo de pesagem das mochilas para verificar o excesso de peso, considerado, segundo especialistas, um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento dos sintomas de Cifose – curvatura da coluna – entre os estudantes, uma vez que a tendência é o aluno curvar os ombros para frente.
Para Miguel, a posição inadequada do imobiliário escolar também tem contribuído bastante para o aumento de reclamações de dor na região lombar, pois, segundo ele, as cadeiras atuais não são ajustáveis ao biótipo dos alunos, inclusive dos deficientes físicos. “Os principais problemas sãos as alterações da coluna vertebral, tais como: Hipercifose – aumento acentuado da curvatura da região dorsal; Escoliose – desvio da coluna vertebral para um dos lados do corpo, resultado da ação de um conjunto de forças assimétricas que incidem sobre a coluna; e a Hiperlordose – aumento da curva na região cervical ou na região lombar, projetando o peito e a barriga para frente”, relata.
Ao ser questionado sobre a existência de cura das lesões causadas pela má postura, o professor garantiu que ela existe, entretanto, ressaltou que manter uma boa postura e fazer exercícios para melhorar a musculatura das costas são os melhores remédios. “Algumas pessoas pensam que, porque têm braços e pernas fortes, as costas também são. Não é verdade! A função dos músculos das costas é semelhante a dos arames que sustentam e guiam uma árvore em crescimento”, ensina.
Os benefícios fisiológicos e psicológicos promovidos pelo

têm sido notórios, garantem alunos e professores do Ciep Heitor dos Prazeres ao constatarem que, além da redução do cansaço físico e das dores musculares, a redução do estresse, sem dúvida, tem sido o grande diferencial na área psicológica. A última novidade desenvolvida pelo professor Miguel, além do simeógrafo e do muchilômetro – uma balança que registra o peso da mochila e do estudante –, tem feito bastante sucesso entre seus usuários. É uma cadeira ergométrica ajustável nas laterais, atrás e na frente, que auxilia a pessoa a manter a posição correta na hora de sentar-se.
Na opinião do professor, a criação dessa cadeira é um grande avanço na área postural, uma vez que, com ela, os deficientes físicos podem, por exemplo, ajustá-la para que fiquem numa posição confortável, ao mesmo tempo em que mantêm uma postura correta. “A idéia é conseguir patrocínio de uma empresa ou de outra instituição para a instalação de salas ergonômicas na rede estadual de ensino, o que seria um feito inovador”, finaliza Francisco Miguel Pinto, professor de Educação Física e Fisioterapeuta.


Ciep Heitor dos Prazeres
End.: Estrada da Matriz, s/n.º – Pedra de Guaratiba – Rio de Janeiro/RJ. CEP.: 23020-710
Tel.: (21) 3155-8102
Professor Francisco Miguel Pinto
Escola de Postura

Tel.: (21) 2415-6768
Fotos: Tony Carvalho