Projeto resgata auto-estima da Baixada e reforça identidade da comunidade
Por Cláudia Sanches

No início da colonização do Brasil, a cidade de São João de Meriti pertencia à Capitania de São Vicente, do senhor Brás Cubas, donatário das terras. Brás Cubas abandonou o local em busca de outros interesses. Mais tarde, essas regiões foram desbravadas pelos bandeirantes em busca de ouro e ocupadas por judeus, fugidos da Inquisição. As terras, antes chamadas de São João Batista de Tairaponga, passaram a pertencer à Nova Iguaçu até serem emancipadas em 1947.

A história do nascimento de São João, conhecida por poucas pessoas, foi dramatizada na abertura da culminância do projeto Sou mais Meriti, desenvolvido na Escola Municipal Henfil, Chico e Betinho – que atende crianças da Alfabetização à 4.ª série e está localizada no bairro de São José, periferia do município.

Para fazer o levantamento de dados sobre a região, a escola contou com a ajuda do Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada Fluminense (IPAHB) e da Associação de Moradores, que, além das fotos centenárias do bairro, cedeu também informações sobre os moradores da localidade.

Construindo a identidade

Segundo a Orientadora Educacional Odete Marta da Costa Ramos, o trabalho pertence ao projeto político-pedagógico Esta é a minha, a sua, a nossa história..., cuja proposta é conhecer melhor o aluno para trabalhar e fazer com que ele se conheça e, a partir daí, valorize a história da sua comunidade. A idéia foi comemorar os 58 anos de emancipação da cidade, resgatar a auto-estima dos alunos e desmistificar o preconceito em relação à Baixada Fluminense. “É um trabalho de resgate do que existe de bom no lugar em que a gente vive. Está na hora de a gente deixar de valorizar só a Zona Sul e começar a enaltecer o que temos de bom, uma vez que aqui há muitas riquezas que a própria população desconhece”, argumenta a educadora.

Da horta para a sala de aula
Como alimentação tem tudo a ver com aprendizagem, comunidade escolar, amigos, familiares e visitantes participaram de uma palestra que abordou a importância dos alimentos no crescimento das crianças. Depois da teoria, foi a vez da aula prática. Com uma mesa repleta de frutas, leguminosas e vegetais, o grupo – formado por pais, alunos, visitantes e professores – aprendeu a fazer vários sucos nutritivos.

Uma das receitas mais comentadas e elogiadas foi a do suco de abóbora cozida com casca, caroços e laranja. Segundo os degustadores de plantão, a receita foi aprovada com louvor. “O mais interessante é que, nessa receita, nada se perde, já que o que resta na peneira vira geléia ou vai para o vaso das suas plantinhas para servir de adubo”, ensina a dona de casa.

Da horta da escola também veio uma valiosa contribuição. À mesa, as professoras exibiam, com orgulho, a couve cultivada e colhida no pátio da escola. A aluna Brenda Rodrigues, da 2.ª série, adorou não só fazer, mas também beber o suco: “Dentre todas as receitas, gostei mais da de inhame com limão”, diz a pequena, garantindo que vai pedir para sua mãe fazer em casa.

Lendas urbanas

A partir de pesquisas e levantamentos feitos sobre o município, os alunos descobriram várias lendas da região. Uma delas, que ganhou o sugestivo nome de a Dança do Esqueleto, foi dramatizada pela turma da professora Rita de Cássia. Já os alunos da professora Ociara Martins apresentaram a montagem do Brasão de Armas para a comunidade escolar. Segundo a professora, à medida que montavam o brasão, os estudantes explicavam a simbologia do desenho.

Em outro momento, o aluno Gabriel, da 2.ª série, apresentou o mapa do Brasil, do Estado do Rio de Janeiro e do município meritiense, com suas subdivisões. Para os visitantes, a turma produziu um quebra-cabeças da cidade com todos os subdistritos. Na terceira série, a classe montou uma maquete traçando um paralelo entre a cidade suja e outras bem cuidadas, revelando, assim, o perigo das enchentes e da poluição das águas.

Os resultados do evento encantaram não só os pais, mas também os educadores. A supervisora educacional da CRE, Sally Daher, ex-moradora do município, que assistiu ao projeto, ficou emocionada com o trabalho desenvolvido e se reconheceu como parte dessa história: “A educação deve servir como uma ferramenta para tornar as pessoas mais preparadas para o mercado, mas, além disso, deve ter como premissa tornar o ser humano melhor e mais preparado para quebrar os preconceitos, uma vez que aprender a conhecer a si mesmo e o lugar onde se vive é valorizar e cuidar do que se tem”, conclui a supervisora.

 
Além de cantigas e lendas que fazem parte da história da comunidade, os alunos também apresentaram o drama vivenciado pelas pessoas que vivem à margem da sociedade, nas ruas da região
 



Escola Municipal Henfil, Chico e Betinho
End.: Av. Getúlio Vargas, s/n.º – Vila São José – São João de Meriti/RJ. CEP.: 25.575-610
Tel.: (21) 2650-3182
Orientadoras: Isabel Gonçalves e Odete da Costa Ramos
Fotos: Claudemiro Pereira