ATIVIDADE FÍSICA UNE ALUNOS REGULARES E ESPECIAIS EM BUSCA DE NOVAS DESCOBERTAS

Por Tony Carvalho

Cooperação, criatividade, auto-avaliação, autoconfiança e senso de organização – esses são os pilares do programa Exercitando Valores, elaborado pelo professor de Educação Física José Roberto Calçada. Desenvolvido há 10 anos na Escola Especial Municipal Rotary Club, na Ilha do Governador, o programa envolve atividades extraclasse e enfoca a questão da solidariedade através de atividades físicas, recreativas, brincadeiras, jogos e tudo que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos alunos portadores de necessidades educacionais especiais.

Um dos fundamentos do programa é o envolvimento de alunos regulares e especiais em atividades físicas que estimulam a cooperação em busca de objetivos comuns. “Procuro dar ênfase às atividades em que todos os alunos se unem para alcançar um resultado, em vez de enfocar atividades de uma equipe contra outra, nas quais necessariamente haverá um vencedor e um perdedor. Com o desafio lançado, todos procuram se ajudar para atingir uma meta. Quando trabalhamos com desafios coletivos, passamos para o grupo a mensagem de que o sucesso pode ser algo conquistado por todos, não implicando neces­sariamente o insucesso de outros”, explica o professor.

Sempre que possível, o programa envolve crianças de outras escolas públicas ou privadas, contando também com a participação de profissionais de outras áreas, como fisioterapeutas e assistentes sociais. Algumas aulas não ficam restritas ao espaço da escola. Elas chegam a praças, áreas de lazer e clubes do bairro. Para José Roberto, quanto mais amplo e interdisciplinar for o trabalho, melhores serão os resultados. O programa Exercitando Valores destaca a possibilidade de nós, professores de Educação Física, utilizarmos outros espaços na escola ou fora dela, praticando exercícios diferentes dos usualmente realizados em uma quadra, a fim de manter a motivação dos alunos”, justifica.

Recursos utilizados – Além do material usual de Educação Física, como bolas, aros, colchões e cordas, o projeto está aberto à utilização de qualquer recurso que vise à melhoria da qualidade da aula. “Os alunos têm a liberdade de explorar uma árvore próxima, os bancos em volta da quadra, as lajotas quadrangulares que formam o piso do pátio escolar e assim por diante. As aulas, muitas vezes, são construídas a partir da iniciativa dos próprios alunos”, completa.

Para o professor, os resultados são excepcionais. “O programa deixou de ser uma experiência implementada, passando a ser uma filosofia educacional adotada. À medida que as aulas vão sendo ministradas, o meu papel vai ficando mais semelhante ao de um coordenador de atividades. Afinal, o professor essencialmente diretivo tem pouca necessidade de manifestar-se, cabendo a mim o comportamento de um aluno mais velho e experiente, que interage com os colegas e serve como exemplo positivo a ser observado”, define.

Várias mães de alunos especiais acompanham e participam do desenvolvimento dos filhos. Antonia Araújo, mãe da aluna especial Claudiana, confirma que o programa vem sendo bem assimilado pelos alunos. “A minha filha participa há quase 10 anos do Exercitando Valores e vem apresentando um progresso fantástico. Ela tinha sérios problemas locomotores e, hoje, consegue superar seus limites praticando esportes e até dança. Claudiana participa de provas como arremesso de peso e zigue-zague e já conquistou oito medalhas”, afirma.

“Quem vê de fora, não imagina que exercícios como caminhar ou passar por obstáculos possam representar uma gigantesca evolução na vida de uma criança ou adolescente. Além disso, tem a questão da auto-estima. As atividades fazem com que esses alunos sejam mais felizes e passem a se relacionar com outras crianças, especiais ou não. Do mesmo modo, vemos o crescimento humano de alunos do ensino regular que passam a ter contato com crianças especiais. No início, ficam um pouco afastados, mas, logo depois, com o convívio e o desenrolar das atividades extraclasse, passam a cooperar mutuamente”, complementa o professor.
Graças ao programa, José Roberto ganhou uma bolsa de estudos junto à Comissão Européia, para cursar um mestrado em Educação Física na Bélgica e na República Tcheca. Em junho desse ano, ele estará de volta à escola com o desejo de realizar um trabalho ainda maior. “Quando constatamos o desenvolvimento de crianças e adolescentes, dando-lhes uma perspectiva de vida saudável, sinto-me realizado. Todos nós devemos dedicar parte do nosso tempo a alguma iniciativa de valor humano e social, pois, somente assim, a sociedade evolui”, finaliza.


Escola Especial Municipal Rotary Club
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Ilustrações: Luiz Cláudio