Noel de carvalho (*)

Que saudade da professorinha que me ensinou o bê-á-bá! – cantava o saudoso Ataulfo Alves em seu comovente Meu Pequenino Miraí. A professora que me alfabetizou, quando eu tinha apenas quatro anos, chamava-se Zulmira. Até hoje basta fechar os olhos para ver seu semblante de uma “doce severidade”, uma segunda mãe, empenhada em abrir para nós, crianças, o maravilhoso mundo das palavras. Entretanto, na minha trajetória de estudante, houve alguém que me marcou vida afora: a professora Mariucha, mestra no terceiro ano primário na Escola João Maia, em Resende, minha cidade natal. A elas e aos demais professores que se seguiram sou eternamente grato.
Minha ligação com a educação vem de longe. Ainda muito jovem, tive a convicção de que só um povo culto pode ser livre no sentido mais amplo da palavra. O oposto – a ignorância – escraviza o homem e o torna massa de manobra, facilmente manipulável por todo tipo de aventureiro que quer assomar o poder.
Pois foi esta percepção de que a educação é uma coisa fundamental, aliada a uma vontade de combater as injustiças e a um sentimento nato de liberdade, que me fez entrar na vida pública. Eleito prefeito de Resende, pela segunda vez, em 1989, tive uma preocupação especial com a educação. Este trabalho valeu o reconhecimento da Unicef, que incluiu Resende entre os 16 municípios de mais alto nível educacional em todo o país.
Fiz uma pequena revolução que deu grandes resultados: atendimento ao aluno, a partir dos 3 anos de idade, em pré-escolas da rede municipal; ano letivo de 263 dias, o mais extenso do Brasil, apenas quatro dias a menos do que o do Japão; reforço escolar; férias nas escolas; higiene bucal no projeto Sorria, Resende; implantação de projetos direcionados aos menores carentes, entre os quais Agricultor Mirim, Babás Mirins e Casa de Abrigo.
Em relação aos professores, não descuidei: aprovação do Estatuto do Magistério e do Plano de Cargos e Salários; eleição direta para escolha dos dirigentes das escolas municipais; atualização permanente do magistério da rede municipal, através de cursos, simpósios e treinamentos; construção de dois “escolões”, com capacidade para mil alunos cada, em turno integral, providos de quadras poliesportivas e oferecendo atendimento médico e dentário; e ainda consegui do Estado a construção de onze Cieps no município de Resende. Com essas e outras medidas do gênero, conseguimos uma redução de 7% da evasão escolar no município – o menor índice do Estado – enquanto o aproveitamento subia para 95%. Ao lado disso, introduzimos, já àquela época, cursos profissionalizantes de informática e mecânica.
Em 1992, fui convocado pelo governador Leonel Brizola para cuidar da educação no Estado. Devo dizer que foi um dos maiores desafios que enfrentei: o Estado do Rio de Janeiro havia tirado nota zero, ficando em último lugar no ranking do Ministério da Educação e Cultura. Com o decisivo apoio do governador e com o entusiasmo insuperável de Darcy Ribeiro, conseguimos reverter aquele quadro. Um ano depois, figurávamos em primeiro lugar em todo o país, com nota 10 do Ministério da Educação.
O espaço aqui é pouco para dizer o tanto que fizemos. Tenho certeza, entretanto, de que os mestres que lêem este jornal têm boa memória e se lembram muito bem daqueles Anos da Educação. Quanta gente elitista e preconceituosa não torceu o nariz para os Cieps, achando que o governo gastava demais com os menos favorecidos? Gente mesquinha!
Tenho orgulho do que fiz em prol da educação e a certeza de que as professoras Zulmira e Mariucha, se vivas fossem, me dariam uma boa nota.



(*) Noel de Carvalho é líder do governo na Alerj e presidente da Comissão de Cultura.
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