Projeto usa o lúdico para inserir disciplinas do
Ensino Fundamental na Educação Infantil

Por Jaciara Moreira

 
O carrinho de mão serviu de transporte para os pequenos visitantes
 

Quem pensa que Física e Química são assuntos para serem discutidos somente a partir do Ensino Fundamental, engana-se. Por meio de atividades lúdicas, é possível incluir as disciplinas no conteúdo da Educação Infantil. Prova disso foi a I Feira de Física e Química do Centro Educacional Margarida (CEM), localizado em Araruama, Região dos Lagos.

Realizada em outubro do ano passado, em comemoração ao centenário da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, a feira foi voltada para alunos na faixa etária entre dois e cinco anos. O objetivo, segundo a coordenadora pedagógica da Educação Infantil, Tânia Bomtempo, não era priorizar o conhecimento formal, mas sim despertar nas crianças a curiosidade e o senso de observação por tudo que as cerca.

As atividades foram elaboradas para permitir também a participação dos pais
 

“Os alunos da Educação Infantil vivenciaram situações envolvendo algumas teorias da física e da química como culinária, montagens de brinquedos, brincadeiras que necessitam de força e movimento, bolhas de sabão de vários tamanhos, ímãs, lupas, mistura de cores, sons e eletricidade. A proposta, no entanto, não era fazê-los aprender a teoria, e sim perceber o funcionamento das coisas”, destaca Tânia.

Semelhante a um workshop, a feira incluiu uma série de oficinas com atividades lúdicas baseadas em princípios da Física e da Química. Na porta da escola, os visitantes eram recebidos por uma “cientista” que indicava o transporte, nada convencional, para se chegar ao evento: um carrinho de mão. Os adultos colocavam as crianças no carrinho e empurravam até a entrada da feira, montada em um dos pátios do colégio. Lá, todos eram convidados a passar por uma cama-de-gato antes de visitar o primeiro estande. Além de integrar os familiares, as brincadeiras mostravam uma das formas de se trabalhar força e movimento.

 
A cama-de-gato, montada logo na entrada da feira, estimulou o uso da força e do movimento...
 

E, a cada estande, uma surpresa. Logo no primeiro, uma frase minúscula, que precisava ser lida com a ajuda de uma lupa, trazia a mensagem dos professores para os visitantes: “Que bom que você veio. Equipe CEM”. Mais adiante, era possível fazer uma bola de sabão gigante ou assistir às crianças preparando um saboroso bolo. Todas as atividades tinham um ponto em comum: a Ciência.

Teve até uma barraquinha de algodão-doce. O que isso tem haver com Ciências? Tudo. A produção da guloseima é química pura. E foi isso que as professoras explicaram aos participantes da feira. Em uma máquina apropriada, elas colocavam açúcar e esperavam alguns minutos. A máquina possuía uma cabeça metálica que servia de depósito para o açúcar e, ao girar, fazia com que o ingrediente, graças ao calor da resistência, passasse do estado sólido para o líquido. Em sua nova forma, o açúcar era, então, jogado para o restante da máquina através de pequenos furos e, ao entrar em contato com o ar, voltava ao estado sólido, desta vez em forma de fios de cristais. À medida que se formavam, os fios eram enrolados em um palito e distribuídos para as crianças, que acompanhavam todo o processo atentamente.

Na sala de aula

...assim como a brincadeira com o vai-e-vem

As atividades desenvolvidas durante a feira foram apresentadas e exploradas anteriormente pelas crianças. Na verdade, a feira foi a culminância do projeto Descoberta da Física e Química que levou para as salas de aula da Educação Infantil experiências que deixaram os pequenos eufóricos. Uma delas foi o trabalho com a manta magnética que, de acordo com as professoras, foi a maior atração entre as turmas do maternal.

“Usar a teoria e termos técnicos, nessa fase, fica muito difícil. Então, optamos pelo lúdico. Para explicar o magnetismo, por exemplo, comparamos o ímã a uma pedra mágica que atraia objetos metálicos como a moeda. Vários objetos (metálicos e não-metálicos) foram colocados sobre a mesa e eles foram descobrindo o que era atraído, ou não, pelo ímã. Foi uma sensação”, conta Valéria de Avellar Pereira, professora do maternal.

“Nessa faixa etária, as crianças são muito curiosas e têm necessidade de tocar e experimentar para assimilar. Por isso, além de usarmos um vocabulário adequado à idade delas, repetimos as atividades várias vezes para que se familiarizassem e entendessem bem cada uma. Embora a manta magnética e o caleidoscópio tenham chamado mais a atenção, todas as novidades foram muito bem-recebidas”, completa Luana Rigoni Gonçalves, professora do maternal e do 1.º período.

Nova nomenclatura

Desde que foi apresentado aos alunos na sala de aula, o caleidoscópio se transformou em uma das maiores atrações

Até o ano passado, o evento recebia o nome de Feira de Ciências e envolvia toda a escola, que atende da Educação Infantil ao Ensino Médio. Em 2005, a idéia foi fazer um trabalho exclusivo com as turmas de maternal, 1.º, 2.º e 3.º períodos e optou-se, então, pela Feira de Física e Química.

“Achamos interessante incorporar a nova nomenclatura na Educação Infantil para que eles já fossem se acostumando com os termos Física e Química. Os princípios dessas disciplinas já estão incluídos na nossa proposta pedagógica, pois fazemos muitas atividades que envolvem força, movimento, magnetismo, culinária etc. Na verdade, faltava introduzir os nomes”, justifica Tânia Bomtempo.

Para se chegar ao formato final do projeto que deu origem à feira, a coordenadora realizou diversas reuniões pedagógicas com a equipe de profes­soras do segmento e com professores de Química e Física da escola. A partir do que era discutido nos encontros, os profissionais faziam pesquisas e buscavam a melhor maneira de adaptar as tarefas ao conteúdo da Educação Infantil e às exigências das crianças.

 
Orientadas pela professora, as crianças preparam um bolo e têm a oportunidade de conhecer as medidas
 

“Foi cerca de quase um mês de um trabalho muito gratificante. A experiência foi muito válida. Acreditamos que, dentro de uma escola, existem dois protagonistas: o ensino e o aprendizado e entre eles o aluno, que contribui para o aprender. Não posso deixar de registrar como a equipe da Educação Infantil aprendeu com o projeto e com os próprios alunos”, destaca Tânia.

A professora Luana Rigoni reforça a afirmação da coordenadora:

“A Física e a Química estão no nosso dia-a-dia e a gente não percebe. Fazemos as coisas quase que automaticamente, sem parar para analisar como elas acontecem. Esse projeto trouxe um grande aprendizado para todos nós”, afirma.

 



Centro Educacional Margarida (CEM)
End: Rua Nossa Senhora das Graças, 261 –
Araruama/RJ. CEP. : 28970-000
Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil: Tânia Bomtempo
Tel: (22) 2665-4137