Mesmo fazendo parte do nosso dia-a-dia, por estar presente em tudo que observamos, aprender Matemática nunca foi uma das tarefas mais fáceis para boa parte dos estudantes. Apesar de carregar este estigma, há quem garanta que, quando trabalhada de maneira prática, esta ciência exata pode se tornar algo divertido e prazeroso. Foi o que afirmaram os alunos das quatro turmas de 5.ª série do Colégio Rainha da Paz, localizado em São Paulo, depois de projetarem a planta baixa do canteiro da escola, usando como base os conhecimentos de unidade de medidas e geometria.
A fim de fazer com que os alunos trabalhassem o raciocínio lógico, a observação, o conhecimento intuitivo e a autonomia, através de situações práticas, a professora de Matemática Rosa Maria Lopes Rosada desenvolveu, no ano passado, o Projeto Horta. “Quando elaboramos esse tipo de trabalho, estamos oferecendo ao aluno a oportunidade de atribuir um significado àquele conteúdo que queremos ensinar”, explica.
Antes de iniciar a parte prática do projeto, relata a professora, as turmas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I já estavam desenvolvendo um trabalho sobre alimentação e, como complemento, eles pensaram em construir uma horta numa parte do terreno da escola. Diante dessa informação, Rosa reuniu as suas turmas de 5.ª série e propôs que fizessem a medição do terreno usando noções de medida e geometria.
“Como eles (os alunos) já tinham o conhecimento prévio dos conteúdos de geometria, unidade de medidas de comprimento, área e perímetro, decidimos, então, fazer a medição da área do terreno, projetar a planta baixa e, por último, apresentar os projetos para a comunidade escolar avaliar”, comenta a professora.
Medição do terreno
Em sala, cada turma dividiu-se em grupos de cinco alunos. Segundo Rosa, a medição foi feita em duas etapas. Na primeira, os grupos fizeram o reconhecimento do terreno e a verificação da sua forma geométrica. Na segunda visita, munidos de fita métrica, trena e régua, os alunos começaram a colocar em prática todo o conhecimento adquirido nas aulas de Matemática, a fim de estabelecer relações entre área e perímetro.
Para descobrir que tipo de figura geométrica o terreno apresentava, as equipes trabalharam em cima das figuras planas, como: quadrado, retângulo, triângulo, trapézio e losango. “Depois que os grupos registraram o desenho da figura geométrica do terreno – nesse caso, um retângulo – e anotaram suas medidas, passamos para o trabalho com escala”, afirma Rosa.
Com a ajuda de uma folha quadriculada, os grupos começaram a arrolar as medidas do local e a sua forma geométrica. Durante a atividade, os estudantes deparam-se com o seguinte problema: como eles iriam projetar o terreno em uma folha de papel usando as medidas reais? Nesse momento, os alunos perceberam que seria necessário um modo de relacionar as dimensões reais do local utilizando medidas menores.

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Lembra a professora que a questão foi resolvida da seguinte maneira: cada quadradinho da folha de trabalho passou a valer um metro. “Nesse momento, foi sugerido o arredondamento das medidas, o que facilitou o trabalho com escala”, justifica. Depois de apresentarem as medições do terreno e passarem a planta baixa a limpo, ou seja, para o papel vegetal, os alunos receberam outra tarefa.
A partir da utilização de figuras geométricas planas, eles deveriam criar canteiros e pesquisar tipos de sementes que poderiam ser plantadas. Cientes de que o projeto desenvolvido deveria ser de construção viável, uma vez que o trabalho escolhido seria executado, os alunos empenharam-se ao máximo, procurando acertar os mínimos detalhes para que tudo desse certo, garante a aluna Victória Abduch Catelani, atualmente cursando a 6.ª série C. “Na época, sabendo que o melhor projeto iria ser executado, todos se empenharam e se dedicaram muito mais. Foi superinteressante, pois além de aprender área e perímetro, ganhamos experiência de como se faz uma planta baixa. Foi um trabalho gostoso de ser feito”.
Para a aluna Clara Canário, aprender na prática foi decisivo para a boa assimilação dos conteúdos da disciplina. “Acho que foi bem melhor e mais produtivo aprender a fazer área, perímetro e escala, na prática, do que só através de exercícios”, diz.
Critérios de Avaliação dos Projetos
De acordo com a professora de Matemática, os projetos escolhidos deveriam atender a algumas exigências preestabelecidas, como viabilidade de construção e manutenção, utilização correta das figuras geométricas e especificidades da planta baixa mostrando a disponibilidade exata do espaço para o plantio.
Reunidos, os grupos expuseram seus trabalhos em sala de aula para que fossem avaliados pelos colegas. A princípio, seria escolhido apenas um por classe, mas, segundo a professora, o bom nível dos trabalhos apresentados pelos grupos levou-a a mudar as regras, escolhendo, assim, dois trabalhos por classe e totalizando dez projetos aprovados para a fase final. |
Os dez projetos escolhidos foram entregues à orientação do Ensino Infantil e Ensino Fundamental I, representado pela orientadora pedagógica Regina Lúcia Pereira, que, juntamente com o Sr. Jurandir, responsável pela construção da horta, escolheu o melhor projeto para ser executado. Depois de alguns dias de apreensão, por parte dos alunos, finalmente a comunidade escolar pôde conhecer o projeto vencedor. O trabalho escolhido foi o do grupo formado pelos estudantes Teresa, Juliana W., Carolina Araújo, Eduardo e Luís Felipe, da 5.ª série C”.
Benefícios da Horta na Escola
Questionada sobre os benefícios que a horta trouxe para a escola e, conseqüentemente, para os alunos, a orientadora do Ensino Infantil e do Ensino Fundamental I esclareceu que o trabalho realizado pelas turmas da 5.ª série envolveu, aos poucos, toda a escola, uma vez que, a partir da horta, novos trabalhos foram desencadeados. Na 1.ª série, as professoras trabalharam conteúdos de Ciências e Biologia. As classes do Jardim construíram, no canteiro, um minhocário, através do qual as crianças puderam observar e compreender a função da minhoca na formação do adubo. Já as crianças da pré-escola realizaram um estudo sobre alimentação saudável a partir da colheita de hortaliças.
Para a professora Rosa, o trabalho com área e perímetro está freqüentemente relacionado à idéia do uso de fórmulas, através das quais os alunos muitas vezes chegam ao resultado, mas sem ter nenhuma noção do significado do processo – o que não aconteceu nesse trabalho, já que nele o aluno pôde descobrir, em loco, que área e perímetro, apesar de serem figuras planas, são grandezas diferentes. “O projeto foi um sucesso. E o mais importante é constatar que experiências como essa propiciam ao aluno condições para que ele construa seu próprio conhecimento”, finaliza a professora.
Colégio Rainha da Paz
End.: Rua Dona Elisa de Morais Mendes, 39 – Alto de Pinheiros – São Paulo
Tel.: (11) 3021-5711
Professora: Rosa Maria Lopes S. Rosada |