
Alunos debatem as diversas formas de discriminação no País
Por Cláudia Sanches

Racismo é crime. A frase, escrita em negrito no mural na entrada da Escola Municipal Rudá Iguatemi Vilanova, localizada na periferia de Belford Roxo, anuncia o objetivo do projeto pedagógico Treze de maio – fim de um crime, desenvolvido com as turmas do Ensino Fundamental. O tema foi escolhido para comemorar o dia 13 de maio de 1888 – data da Libertação dos Escravos no Brasil.
O mito da democracia racial no Brasil
Onde mora o seu racismo? O questionamento, que inaugurou o projeto, causou frisson entre os estudantes. De acordo com a equipe pedagógica, a maioria dos alunos acreditava que o Brasil, por ser um país miscigenado, não era racista. Para o professor de Geografia Lucivaldo Dias, trabalhar com um tema tão amplo e polêmico auxiliou não só na aquisição do conhecimento dos alunos, como também ajudou a despertar a consciência crítica dos educandos acerca das mais variadas formas de preconceitos.
Na primeira parte do trabalho, os alunos debruçaram-se basicamente sobre as pesquisas, buscando informações que pudessem respaldá-los no momento da interpretação e produção textual. Os estudantes dividiram-se em grupos e cada equipe estudou e falou sobre uma parte da história da escravidão, desde a chegada dos negros, passando por Zumbi dos Palmares e pelas campanhas abolicionistas, até chegar aos fatos ocorridos no dias atuais. “A partir das reflexões, começaram a identificar como o preconceito está camuflado, consciente e inconscientemente, até mesmo na própria convivência entre os colegas de sala de aula”, lembrou Lucivaldo.
Mudança de comportamento
Segundo a diretora Elizabeth Machado, a partir do envolvimento direto com o projeto, as crianças já começaram a questionar certas atitudes e a reconhecer os momentos em que, às vezes, as pessoas são preconceituosas, até mesmo de um modo inconsciente. Um exemplo desse tipo de “preconceito inconsciente” foi relatado pelo aluno Mauro Conceição, estudante da 7.a série, encarregado de pesquisar sobre a discriminação em todos os setores da sociedade. 
Usando o exemplo do jogador Grafite, que foi chamado de “negrito” pelo jogador do time adversário, gerando uma polêmica internacional, o pequeno Mauro aproveitou para falar sobre sua experiência pessoal: “A gente aqui na escola costumava fazer essas brincadeiras, mas agora já sabemos (sic.) o que está por trás disso e não vamos mais repeti-las”, confessou o menino.
No decorrer do evento, alguns alunos realizaram diversos seminários sobre o tema fazendo um paralelo entre a época da escravidão e a situação atual do negro na sociedade. Um grupo da 7.ª série leu e interpretou a música Liberdade, do compositor Jorge Aragão, que fala sobre o assunto: num trecho, a canção diz: “Somos da cor da noite, filhos de todo açoite, fato real da nossa história”. Outra composição interpretada pela garotada foi a Lavagem Cerebral, do rapper Gabriel Pensador, uma crítica ferrenha ao racismo, que comoveu pais, alunos e professores presentes.

Dona Luzia, mãe do aluno Leandro, de 17 anos, que interpretou um escravo durante a Abolição da Escravatura, disse estar muito feliz com a iniciativa da escola em falar sobre um assunto tão presente no nosso dia-a-dia, mas pouco mostrado. “Estou muito orgulhosa de ver meu filho falando sobre a história do nosso povo”, disse a mãe, emocionada ao ver a platéia ir ao delírio quando os grilhões confeccionados de papel jornal foram retirados das mãos de Leandro.
O encontro foi encerrado com a encenação de duas peças pelas turmas da 8.a série. A primeira relembrou o momento em que a Princesa Isabel institui a Lei Áurea, em 1888, e a segunda mostrou uma situação de racismo nos dias atuais, em que uma modelo negra, interpretada pela aluna Daiane, é impedida de desfilar na passarela. 

Para a diretora, o projeto foi uma forma mais lúdica de transmitir conteúdos e de estimular a reflexão. “Através desse tipo de atividade, eles têm oportunidade de aprender a refletir, trabalhar com diversas linguagens e desenvolver outras aptidões. Foi, acima de tudo, um dia especial para a comunidade do bairro, que também é muito carente de lazer”, finalizou a diretora.

Escola Municipal Rudá Iguatemi
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Professor Lucivaldo
Tel.: (21) 2762– 4229