Estudar e trabalhar em uma escola cujo conjunto habitacional é um dos monumentos modernistas tombados pelo Patrimônio Histórico da Humanidade é um privilégio de poucos, entre eles, os alunos e professores da Escola Municipal Edmundo Bittencourt, situada no bairro de São Cristóvão. Projetada pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy – o mesmo que projetou o MAM, no Aterro do Flamengo – e construída em 1952, a escola traz em sua fachada principal e no seu projeto paisagístico assinaturas de artistas de renomes internacionais como Cândido Portinari, Anísio de Medeiros e Burle Marx.
Patrimônio Cultural, a escola tem como um dos principais projetos a preservação de suas instalações, que, entre outras preciosidades, inclui um painel do paisagista Burle Marx, um de Portinari, batizado de Jogos Infantis, e um terceiro feito artesanalmente por Anísio de Medeiros, outro grande mestre do movimento modernista.
Entretanto, não é só da fachada que a Edmundo Bittencourt se orgulha. Segundo a diretora Maria Cristina Teixeira, a equipe trabalha bastante não só para manter as suas edificações preservadas, mas, também, para alcançar as metas pedagógicas estabelecidas. As obras-primas inspiram o projeto político-pedagógico Uma Escola Pública de Qualidade, que já faz parte do currículo e é desenvolvido com alunos do 1.º ciclo de formação à quarta série do Ensino Fundamental.
Resgatando a identidade do grupo
Este ano, as turmas trabalharam o subprojeto Identidade Escolar, cujo objetivo principal foi conhecer melhor o aluno, saber onde ele mora, como vê o ambiente em que estuda e quais são seus projetos de vida. O pontapé inicial, segundo a equipe pedagógica, começa com uma caminhada pelo ambiente escolar. A partir daí, inicia-se a apropriação das obras de arte através da observação, interpretação e reprodução dos desenhos.
“Os trabalhos são realizados a partir de uma perspectiva interdisciplinar contemplando todas as áreas do conhecimento. Nas instalações do colégio, os painéis confeccionados pelos alunos se misturam à arquitetura de formas retas e às obras-primas dos artistas”, explica Maria Cristina, acrescentando que, durante o ano letivo, cada turma produz um álbum com suas próprias histórias, utilizando as obras desses consagrados artistas como fonte de inspiração.
Os painéis confeccionados pelos alunos são expostos pelas rampas e pelos largos corredores da escola – típicos da arquitetura modernista. Para reforçar esse trabalho, alunos e professores, usando como referência a comemoração do dia da Abolição da Escravatura, realizaram, na escola, uma enquete sobre o que é ser livre. Segundo os professores, surgiram respostas que emocionaram toda a comunidade escolar.
“Nesse contexto, a gente percebe que as crianças são muito capazes quando se apresentam a elas as diferentes possibilidades de expressão, principalmente a artística, que desperta a sensibilidade e o interesse do educando. Elas têm esse contato com peças sofisticadas e, o tempo todo, observam, interpretam, imitam e reproduzem de diversas formas”, reafirma Cristina. 
Você é o que come

Dando seqüência ao projeto Identidade, as turmas mergulharam no subtema Alimentação Saudável, a partir do qual se falou muito sobre o cuidado com o corpo através da nutrição e do esporte. Um trabalho interessante foi a comparação feita entre uma pessoa que se alimenta de maneira saudável e outra que não tem essa preocupação.
“Eles tiveram a idéia de fazer um mural com duas pessoas em tamanho natural. No primeiro corpo, colaram recortes de alimentos gordurosos e perigosos à saúde, como maionese, lingüiça e outros. No segundo, foram colados alimentos nutritivos como cereais, frutas, verduras, soja e leguminosas. Feito o cartaz, estabelecendo a comparação, os grupos discorreram sobre a importância de se alimentar também de bons valores como a paz e a solidariedade,”conta a diretora.
Já a terceira série, da professora Fátima, fez uma pesquisa de preços de alguns itens em vários supermercados. Os resultados foram comparados em uma tabela, através da qual os alunos puderam assimilar conceitos matemáticos e ter uma visão mais objetiva sobre a importância das tarefas cotidianas do consumidor. Segundo a professora, a idéia é fazer um sopão, com os legumes e as verduras plantadas na horta da escola, na culminância do projeto, que deverá acontecer no final do semestre.
Feliz com os resultados, a diretora Maria Cristina faz questão de ressaltar que todo esse trabalho começou com a preocupação de oferecer à comunidade escolar um ensino público de qualidade, sem perder o contato com a arte e a beleza.
Escola Municipal Edmundo Bittencourt
Rua Lopes Trovão, 287 – São Cristóvão. Rio de Janeiro/RJ. CEP.: 20920-340
Tel.: (21) 3860-5150 / 1106
Diretora: Maria Cristina Teixeira |