Por Tony Carvalho

Aprender a conviver com as diferenças. Essa foi uma das grandes lições aprendidas pelos alunos da Escola Paraíso Infantil Popeye – Lagoa, no Rio de Janeiro, durante a culminância das festividades em homenagem ao Dia do Índio. A escola, que usa o revolucionário método de alfabetização através das notas musicais, montou um autêntico minimuseu do índio, onde as crianças puderam ver e manipular artefatos originais de caça e pesca, vestimentas e enfeites decorativos. A professora Denise Vasconcellos trabalhou com cada utensílio ensinando sua finalidade e mostrando a forma como os índios utilizam esses elementos.

No ano passado, durante as comemorações da data, os alunos visitaram um sítio em Vargem Grande e vivenciaram uma simulação do habitat indígena. Eles colheram mandioca, pescaram peixinhos de isopor, entraram em ocas e traba­lharam com argila. Este ano, na escola, a profes­ sora deu continuidade ao projeto abordando as danças e os cantos indígenas, sempre atra­vés do método Dó-Ré-Mi no ABC, criado pela pedagoga Maria da Glória Vanconcellos, a Tia Glorinha, como é conhecida.

“As notas musicais são muito ricas e a gente percebeu que, com música, o aprendizado é mais rápido e fácil, já que a primeira das inteligências múltiplas despertada na criança é a musical. Por isso, todo o trabalho é desenvolvido com música, desde o Maternal à Classe de Alfabetização. As notas têm personalidade e significância, com grafemas e fonemas distintos. As crianças fazem o trabalho gestual – o manossolfa, que ajuda a desenvolver os músculos menores e a caligrafia”, explica.

Para a coordenadora pedagógica Leda Maria Lobo Ferreira, é importante que a escola não deixe passar em branco datas como a do Dia do Índio, que ajudam a preservar as nossas raízes. Durante as atividades de sala de aula, foram enfatizados valores como solidariedade e respeito às diferenças. Os alunos trabalharam com materiais de artes plásticas e construíram histórias que retratavam a vida indígena. “Buscamos, por meio de atividades lúdicas, aproximar as crianças de um universo bem diferente daquele em que elas convivem. Dessa forma, elas puderam explorar concretamente esse mundo tão distante e passaram a entender um pouco mais sobre o índio”, conta. Durante a apresentação, cada turma exibiu números musicais e pequenos esquetes abordando os cantos e as danças dos povos indígenas.

Entretanto, o ponto alto da festa foi, sem dúvida, a presença de um índio de verdade na escola, despertando a curiosidade não apenas das crianças, mas também dos pais presentes. O índio Thini-á, da tribo Fulni-ô de Pernambuco, contou histórias que revelaram como as crianças de sua tribo são educadas e a preocupação que todos eles têm em viver de forma harmoniosa com a natureza.

Thini-á acredita que sua missão é sair pelo Brasil afora visitando escolas e, assim, tentar conscientizar as futuras gerações sobre a importância de preservar a cultura indígena. “A esperança do meu povo está na criança. O adulto já tem opinião formada e quase nada pode ser feito. No entanto, luto para que os filhos dos brancos tenham uma postura diferente e, ao tomar consciência, a gente consiga salvar os poucos índios existentes. Os jornais dizem que o povo indígena está crescendo, mas esse crescimento é em população. A nossa cultura está acabando. Por isso, vou às escolas na tentativa de fazer com que as novas gerações respeitem e convivam com as diferenças, pois integrar os povos é respeitar o direito de o outro ser e pensar”, afirmou emocionado.

 

Letra de música composta por Tia Glorinha para homenagear o povo indígena:

 

Ceci

Ceci, indiazinha gentil,
Uma história vai lhe contar
De quem habitava o Brasil
Antes de Cabral aqui chegar.
Numerosos, agora tão raros,
Os índios são selvagens valentes,
Se alimentam de caças e peixes,
Raízes, frutas e sementes.
Andam nus ou com tangas.
Na cabeça, um belo cocar.
Usam lança, tacape e flecha
Nas guerras e para caçar.
Índios moram em ocas
Que formam aldeia ou taba
O chefe da tribo é chamado
Cacique ou Morubixaba.
Acreditam no Deus Tupã
Com poder sobrenatural.
Adoram Guaraci e Jaci
Anhangá é o espírito mal.
O curandeiro da tribo
É o feiticeiro pajé
Que todo índio respeita
E nele tem muita fé.
Dezenove do mês de abril
Todos dizem ser o seu dia.
Mas, só sendo respeitado,
É que daremos ao índio alegria.


 

 

 

 

 

 

 

 

Escola Paraíso Infantil Popeye
End.: Av. Borges de Medeiros, 2. 364 – Lagoa – Rio de Janeiro/RJ.