Com um dominó em que as peças são provérbios, sua turma vai exercitar formação de plural, tempos verbais e concordância sem engolir regras e mais regras. Afinal, mais vale a prática do que decorar a Gramática

Os ditados populares são um prato cheio para ensinar Português. Curtos, engraçados e recheados de palavras com duplo sentido, atraem qualquer leitor. Além disso, ajudam em exercícios de interpretação de texto e mostram como se usa o sentido figurado.

Para tornar os provérbios ainda mais atraentes, a professora Nílvia Pantaleoni, especialista na criação de jogos educativos, inventou uma atividade que segue o princípio do jogo de dominó e serve para 3.ª, 4.ª e 5.ª séries.

As peças desse dominó de provérbios são feitas com materiais simples. É preciso apenas ter cartolina, tesoura e caneta. O segredo é escrever os ditados dividindo-os em duas partes, cada uma numa cartela diferente. Enquanto, no dominó, a regra é unir as peças que tenham número igual de bolinhas ou de outros sinais, no dominó de provérbios, o desafio é juntar as duas partes dos ditados e refazer o texto original.

A atividade incentiva os alunos a refletir sobre o que os provérbios querem dizer. Serve, também, para uma série de exercícios de Gramática e redação.

Como Jogar

Você pode fazer o dominó com os ditados que quiser. Segue abaixo um modelo feito por Nílvia, com 27 cartelas. Note que elas mostram o final de um provérbio e o início de outro. Duas são diferentes: a primeira tem só o início de um ditado e a última, só o final de outro.

Divida uma cartolina em retângulos de 10cm x 4cm. Escreva os provérbios, começando com o final de um e terminando com o início de outro, como na figura abaixo. As cartelas ficarão como esta à direita. (Box: tem medo de água fria. Quem com ferro fere)

O número de jogadores fica a seu critério. O mínimo é de dois participantes e o máximo equivale ao número de cartelas. Este modelo de dominó, portanto, pode envolver de dois a 27 participantes. Dê um número igual de cartões com ditados para cada aluno. Pergunte quem tem apenas o início de um provérbio. O dono dessa cartela lê o texto em voz alta. Os demais procuram em sua(s) cartela(s) o complemento. Quem estiver com ele lê o texto em voz alta. Se todos concordarem com a resposta, o segundo jogador lê a metade inicial do outro ditado que está em sua cartela. O jogo prossegue assim até que todos os provérbios sejam lidos. No final, discuta com a turma o sentido de cada ditado. Explique que eles são uma forma popular de expressar um princípio moral. Peça que grupos de quatro alunos escrevam um pequeno texto a partir de um provérbio. Um estudante de cada equipe pode ler o trabalho em voz alta para os colegas.

Quem nunca come mel,

quando come, se lambuza.
Em pasto alheio

boi berra como vaca.
Dois galos

não cabem num poleiro.
Pedra que rola

não cria limo.
Quem vier atrás

que feche a porta.
Filho de peixe

peixinho é.
Quem dá aos pobres

empresta a Deus.
Quando o gato dorme,

os ratos fazem a festa.
Quem procura

acha.
Raposa que dorme

não apanha galinha.
Quem espera

sempre alcança.
Papagaio come milho,

periquito leva a fama.
Quem ama o feio

bonito lhe parece.
Cão que ladra

não morde.
Quem casa

quer casa.
De grão em grão

a galinha enche o papo.
Quem não arrisca

não petisca.
Gato escaldado

tem medo de água fria.
Quem com ferro fere


com ferro será ferido
Quem avisa

amigo é.
Quem viver

verá.
O peixe


morre pela boca.
Quem tem boca

vai à Roma.
Quem semeia vento

colhe tempestade.
Uma andorinha só

não faz verão.
Quem ri por último

ri melhor.

Teste de Memória

Para reforçar a leitura dos ditados, lance um desafio à turma: diga que vocês vão descobrir quem tem boa memória. Escreva, no quadro-negro, os provérbios do dominó que você montou. Dê um prazo para que todos leiam. Depois, apague o quadro-negro e proponha questões baseadas nos ditados. Se você sortear as questões, o exercício ficará mais emocionante. Observe um teste de memória baseado no modelo de dominó feito por Nílvia:

  • Desses quatro bichos (galo, boi, vaca e coelho), qual não entrou nos provérbios? Resposta: coelho.

  • Que cidade é citada? R: Roma.

  • Que palavra se repete catorze vezes nos provérbios? R: quem.

  • Que metal é citado? R: ferro.

  • Num determinado provérbio há o nome de um animal seguido de seu diminutivo. Qual é o animal? R: peixe e peixinho.

  • Alguns provérbios têm palavras repetidas. Em qual deles a palavra repetida tem significados diferentes? R: quem casa quer casa.

  • Num provérbio aparece o nome de um mamífero seguido de seu feminino. Qual é o nome do animal, no masculino e no feminino? R: boi e vaca.

Gramática

Os exercícios propostos aqui mudam os dizeres dos ditados, por isso é importante explicar que os provérbios só mantêm seu sentido quando estão na forma original.

Tempo e Concordância

Escolha alguns ditados para trabalhar. Teste esses provérbios. É simples: passe-os para o plural e depois substitua o tempo verbal e o gênero deles. As operações nem sempre dão certo. Monte os exercícios apenas com os que funcionarem nos três casos. Você precisa encontrar dez ditados que passem no teste.

Escreva os provérbios selecionados em retângulos de cartolina branca com 10cm x 4cm. Faça dez retângulos com os ditados para cada aluno. Se não puder montar tantos cartões, escreva os ditados no quadro-negro.

Eis alguns provérbios já testados:

Quando o gato dorme, os ratos fazem a festa.

O peixe morre pela boca.

Cão que ladra não morde.

Gato escaldado tem medo de água fria.

Em pasto alheio boi berra como vaca.

Filho de peixe peixinho é.

Pedra que rola não cria limo.

Raposa que dorme não apanha galinha.

Papagaio come milho, periquito leva a fama.

De grão em grão a galinha enche o papo.

Formação do Plural

Para exercitar a formação do plural, faça vinte quadrados (de 3 cm de lado) de cartolina amarela para cada aluno. Divida-os em quatro grupos de cinco. No primeiro, escreva OS; no segundo, AS; no terceiro, TODOS OS; e no quarto, TODAS AS. Se quiser, faça apenas um jogo de vinte quadrados. O aluno deve virar ao mesmo tempo um quadrado amarelo e um retângulo com um ditado. Se você não tiver todos os retângulos e quadrados, chame os alunos um a um. Sorteie os quadrados e peça para o aluno responder olhando para os provérbios, que estarão no quadro-negro.

Ele deve ver se a palavra no quadrado concorda em gênero com o sujeito do ditado. Se os gêneros forem diferentes, passa a vez. Se forem iguais, deve ler o provérbio em voz alta, no plural.

Deve-se considerar que algumas palavras permanecem no singular, para não mudar o sentido do texto. Com o ditado “papagaio come milho, periquito leva a fama”, por exemplo, o aluno deverá ler em voz alta: “OS papagaios comem milho, OS periquitos levam a fama”, e não “os milhos” ou “as famas”.

Viagem pelo Tempo

Faça vinte retângulos (6cm x 3cm) de cartolina rosa para cada aluno. Divida-os em quatro grupos de cinco. No primeiro, escreva ONTEM; no segundo, ANTIGAMENTE; no terceiro, AMANHÃ; e no quarto, NO FUTURO ou faça apenas um jogo de vinte retângulos.

O aluno deve virar cada dupla de retângulos (um branco e um rosa) e ler o provérbio, em voz alta, com a transformação exigida pelo retângulo rosa. Se você não tiver todos os retângulos, chame os alunos um a um. Sorteie os retângulos rosa e peça para o aluno responder olhando para os provérbios, que estarão no quadro-negro.

Com “ontem”, os verbos passam para o pretérito perfeito do indicativo. Por exemplo: “ONTEM, raposa que dormiu não apanhou galinha”.

Com “antigamente”, os verbos passam para o pretérito imperfeito do indicativo. Por exemplo: “ANTIGAMENTE, cão que ladrava não mordia”.

Com “amanhã” e “no futuro”, os verbos passam para o futuro. Por exemplo: “AMANHÃ, cão que ladrar não morderá”. Se houver a palavra “quando”, deve-se usar o subjuntivo. Por exemplo: “AMANHÃ, quando o gato dormir, os ratos farão a festa”.

Obs.: Matéria cedida pela revista Nova Escola
Colaboradora: Adriana Vera e Silva
(Edição n.º 125 – Setembro/1999)