Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro


Alunos de 1.ª a 4.ª séries criam empresas fictícias e vivenciam um pouco do mundo dos negócios

Por Simone Garrafiel

“Quer comprar um revolucionário sabonete líquido antiestresse?”, “Olha a vela aromática para perfumar o ambiente!”, “Conheça a canga que vai ser moda no verão!”. Estas e muitas outras abordagens puderam ser ouvidas pelos corredores do Colégio Anglo-Americano, em Botafogo, no final de outubro, durante a Feira do Empreendedor, que reuniu os alunos de 1.ª a 4.ª séries. O evento fez parte da finalização do projeto Oficina do Empreendedor, que, ao longo do ano, transforma as crianças em empresários imaginários.

Idealizada pela diretora da escola, professora Linda Lúcia, em parceria com os demais professores, a Oficina surgiu da vontade de externar uma das principais missões da escola: a de formar empreendedores, tomando como base a metodologia de interdisciplinaridade e de interatividade. A idéia é fazer com que os alunos entendam e desenvolvam as características de um empreendedor.

A dinâmica do projeto começa com o anúncio de que cada turma terá de montar uma empresa e escolher o produto que irá comercializar. A partir daí, dentro de cada disciplina, os professores auxiliam os alunos a desenvolver as etapas do projeto. “Nas aulas de Português, por exemplo, eles escolhem o nome da empresa e trabalham frases de impacto para divulgação do produto. Já a confecção dos produtos é realizada nas aulas de Artes. Enfim, todas as disciplinas estão interligadas, enfocando a empresa”, explica a supervisora Cátia Couto.

O envolvimento dos alunos é total. Após escolher o nome da empresa e montar um organograma, com direito a presidente, diretores e assistentes de Marketing, eles partem para a pesquisa de mercado, que inclui a amostragem dos custos e do lucro que o produto irá gerar. Nesta fase, o professor de Matemática é o responsável pelos números.

Para ajudá-los no desenvolvimento da empresa, alguns pais são chamados para falar sobre a sua profissão. Sob os olhares atentos da garotada, eles conversam sobre o dia-a-dia do trabalho e respondem às dezenas de perguntas elaboradas pelos alunos. “Quando os pais são empresários, pedimos que eles falem sobre o passo-a-passo do desenvolvimento de uma empresa. O importante é que as crianças tenham uma visão do projeto na realidade e entendam o que é ser um empreendedor”, explica Cátia.

Os pais também são convidados a ser financiadores dos produtos que serão confeccionados. Segundo Cátia, a ajuda financeira fica a critério de cada responsável. Não há obrigatoriedade. Quando a turma não consegue arrecadar dinheiro suficiente, a escola fica incumbida de cobrir os custos.

À medida que a Oficina vai tomando corpo, é mais visível o empenho dos alunos. Para confeccionar os produtos, as turmas são divididas em subgrupos, nos quais cada integrante é responsável por uma tarefa. Tudo é pensado com cuidado, desde a quantidade de mercadoria à embalagem, passando pela decoração do estande da Feira. Algumas mães ajudam os alunos, ensinando técnicas de como produzir determinado produto, principalmente quando são do gênero alimentício.

A culminância do projeto é a Feira do Empreendedor, momento em que os produtos são apresentados e vendidos. São dois dias de corredores cheios, dos quais pais e alunos saem com as sacolas repletas de mercadorias. O lucro obtido ao final da Feira é revertido em passeios ou em uma ida ao cinema. Cada turma escolhe o que quer fazer.

O trabalho é levado tão a sério que até a concorrência pode existir. Cátia explica que, quando duas turmas escolhem o mesmo produto, os alunos são orientados a trabalhar a questão do diferencial. “No ano passado, duas turmas comercializaram biscoitos amanteigados. Assim, cada uma pensou em promoções e embalagens diferentes, buscando chamar a atenção dos compradores”.

Depois da missão cumprida, os resultados obtidos são os melhores possíveis. Ao longo do ano, os alunos aprendem e desenvolvem os conceitos de espírito de equipe, negociação, iniciativa, criatividade, autonomia, liderança, determinação, comunicação, adaptabilidade e comprometimento, que são apresentados em uma linguagem de fácil entendimento. Também são explicados termos utilizados no cotidiano de uma empresa, como financiamento, lucro, prejuízo, receita, demanda e capital.

A resposta dos alunos ao projeto vem sendo positiva. “Como trabalhamos de modo que o projeto flua espontaneamente, de forma tranqüila e dentro das atividades que eles conhecem, as características de um empreendedor são assimiladas naturalmente”, afirma Cátia. Outra vantagem da Oficina é o fato de desmistificar a premissa de que todos precisam desenvolver estas características. “Os alunos entendem que não são obrigados a ser criativos, líderes e comunicativos ao mesmo tempo. Alguns se sobressaem mais nesta ou naquela característica. Mas eles vivenciam direta e indiretamente cada uma delas. Eles percebem que a criatividade, por exemplo, não é um ‘bicho-de-sete-cabeças’ e que o sucesso de um produto não está vinculado a uma idéia mirabolante. O mais importante é que eles compram a idéia do projeto e levam o aprendizado para a vida deles”, conclui.

Colégio Anglo-Americano
Prof.ª Margareth Paraguaçu
Tel.: (21) 2295-3099