Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

A qualidade do vínculo entre mãe e filho é um fator de risco para a obesidade. Em outras palavras, quando a criança não recebe a atenção que necessita da mãe ou quando a família vive um período de turbulência, o filho terá muito mais chances de ser gordo na infância e de continuar assim pelo resto dos seus dias, sempre lutando com dietas.

A importância do vínculo mãe-filho aparece em pesquisa feita com 92 mulheres, obesas ou não, com filhos acima do peso e de até dez anos. Todas participavam do Programa de Nutrição que o Hospital Albert Einstein tem em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo.

Mães superprotetoras, que cerceavam a autonomia do filho, ou que não observavam quando e como ele comia, aumentavam o risco de a criança engordar. “Algumas ofereciam comida o tempo todo, como uma forma de compensar possíveis culpas diante da criança”, diz a psicóloga Patrícia Spada, doutoranda da niversidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do estudo.

As participantes foram submetidas ao teste de Avaliação do Vínculo Mãe e Filho, entre outros exames que mediam escolaridade, depressão e problemas de saúde. “O estudo concluiu que o vínculo mãe-filho comprometido, associado a um rebaixamento do nível intelectual materno, provoca um aumento importante no risco de a criança vir a se tornar obesa”, diz Patrícia Spada.

A mãe com pouca escolaridade, mesmo mantendo um vínculo estreito com o filho, pode não interpretar corretamente os apelos do filho. A primeira reação, quando a criança chora, é dar mais comida.

Embora o estereótipo do “bebê Johnson” já tenha diminuído no seio das famílias, a criança gordinha continua sendo a idealizada. Ainda prevalece a idéia de que “criança de barriguinha cheia é criança feliz”.

Essa tendência é mais freqüente nas mães inseguras e entre aquelas que se sentem culpadas por não estar o tempo suficiente com o filho.

“A maioria das mães que ainda adotam esse comportamento tem problemas em casa, seja uma separação, a perda do emprego ou de alguém próximo”, diz a endocrinologista Sandra Vilares, do Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas.

Cerca de 200 crianças estão sendo acompanhadas e outras 300 aguardam na fila.

Nesse serviço, mãe e filho participam do tratamento. “É uma condição muito importante para que mãe e criança percam peso juntas”, diz Sandra Vilares.

Segundo Patrícia Spada, 95% das crianças e adolescentes obesos o são por causas exógenas, ou seja, predisposição genética, hábitos alimentares incorretos, sedentarismo e ambiente familiar.

Entre os vários conselhos que dão os especialistas, um deles é que a mãe procure observar seu comportamento e o de seu filho com relação à alimentação. “Algumas mães não verificam seu próprio peso e não conseguem ver que seu filho está obeso”, diz Patrícia Spada.

A mãe também não deve subestimar a capacidade do filho de desenvolver soluções criativas para seus problemas. Ao impedir que a criança manifeste sua própria autonomia, ela dificulta ou distorce a possibilidade de, aos poucos, a criança vir a ser independente.

Outro cuidado é não responder a qualquer solicitação com mais alimentação. Nem usar a comida como moeda de troca, por exemplo, oferecendo um sorvete se o filho se sair bem na escola ou comer a salada direitinho.

“É fundamental que a mãe auxilie o filho no contato das próprias emoções por meio do diálogo e da proximidade”, diz a pesquisadora. Uma recomendação que ela considera das mais importantes: “Não há solução mágica para emagrecer. É preciso paciência e perseverança, de toda a família.” Lúcia Cristina Zanella, psicóloga do grupo de endocrinologia do HC, está ali para entender o que há por trás do excesso de peso. “O jovem hoje vive numa sociedade que não lhe dá segurança, de um consumismo compulsivo. Por isso tem sempre que comer”, diz.

A ausência do pai ou dos pais faz com que eles se sintam culpados e tentem compensar oferecendo mais comida. O jovem, por sua vez, passa quase todo o tempo fora, comendo o que tem vontade.

Fonte: Folha On-line