Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

Jorge Werthein*

A mais abrangente pesquisa sobre juventude e sexualidade já realizada no País, lançada pela UNESCO no dia 8 de março no Brasil, apresenta um diagnóstico surpreendente e, ao mesmo tempo, preocupante da realidade dos jovens brasileiros. Por um lado, demonstra aspectos positivos do comportamento sexual dos jovens, como a busca por mais conhecimento sobre sexualidade e o fato de não se caracterizarem por atitudes promíscuas, ainda que questionem os tabus sexuais das gerações passadas e as diferenças entre gêneros. Eles tendem a iniciar a vida sexual cedo, a não dar importância à virgindade e a considerar o sexo tão importante para homens quanto para mulheres. Por outro lado, muitos não se protegem contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids, enfrentam a gravidez precoce e tendem a discriminar os homossexuais.

O estudo revela um retrato atual do brasileiro de 10 a 24 anos e aponta caminhos para que pais, escola, governo e sociedade civil adotem medidas mais adequadas de promoção da juventude, ajudando no desenvolvimento dos jovens e na redução dos riscos aos quais estão sujeitos. A pesquisa “Juventudes e Sexualidade”, que ouviu alunos, pais e professores, abre uma importante reflexão sobre a necessidade de se repensar as políticas públicas de apoio aos jovens nos campos da educação, da saúde, da assistência social, dos direitos humanos e da cidadania.

Um dos graves problemas identificados na pesquisa – é bom ressaltar que aqui falamos de jovens que vão à escola e, portanto, não são os mais excluídos socialmente – é o da gravidez precoce: 14,7% das entrevistadas declararam ter engravidado, pela primeira vez, entre 10 e 14 anos. Os indicadores sugerem que é preciso investir em educação, prevenção e acesso a um planejamento familiar para a população jovem, sensível ao gênero e à forma de ser desta geração. Sabe-se que a gravidez precoce pode gerar graves problemas de saúde para a mãe, abortos, abandono da escola etc. Esse tipo de problema contribui também para a reprodução da pobreza, trazendo prejuízos para o desenvolvimento humano e social do País.

O estudo traz à tona as contradições de um Brasil com imensas diferenças regionais e de uma sociedade que, embora esteja mais aberta a tratar de sexualidade, não vem conseguindo responder aos anseios dos jovens. O tema, que desperta curiosidade, sentimentos de prazer e amorosidade, também provoca medos e dúvidas não só entre os jovens, mas entre pais e professores. Por trás dos números impactantes relacionados aos jovens, existe significativa falta de informação por parte dos pais e professores e despreparo das escolas: um terço dos pais ouvidos não dialoga com os filhos sobre o tema; 40% não têm conhecimento sobre DST; e 27% dos professores não têm informações suficientes sobre o assunto. As conversas sobre sexo costumam estar restritas às aulas de Ciências e Biologia.

Para adequar-se as políticas de juventude ao perfil de novo jovem do século 21, importantes ações devem ser desenvolvidas nos espaços escolares, com alunos, professores e pais. É preciso intensificar, em casa e em sala de aula, o diálogo e a divulgação de conhecimentos sobre ética pela vida e responsabilidade sexual, mas não no sentido do ajuizamento de valores, e sim da troca de idéias e experiências afetivo-sexuais. Um dos caminhos para isso é a escola constituir-se em espaço de participação, no qual os jovens sintam-se bem e protegidos, e passar a lidar não só com a aprendizagem em temas clássicos do conhecimento, mas também com aqueles relevantes à cultura juvenil.

A escola precisa aliar ensino de qualidade a afetividade e respeito nas relações entre os diversos atores. Também deve promover a capacitação de professores de todas as áreas, desde Artes até Matemática ou Física, para que discutam sexualidade em sala de aula. Por serem agentes de grande confiabilidade junto aos alunos, os professores podem ainda informar sobre serviços de atendimento em casos de violência sexual, assédio e estupros, dos quais muitos jovens são vítimas hoje. Faz-se necessário também que os próprios jovens sejam multiplicadores nos grupos e, para isso, a escola pode articular parcerias com ONGs e órgãos do governo.

A ampliação do Programa de Disponibilização de Preservativos do Governo Federal também é uma importante medida de prevenção, uma vez que os jovens menosprezam os riscos de contaminação por HIV/Aids e muitos não usam camisinha. Por parte da UNESCO, uma das medidas previstas é a inserção do tema sexualidade na agenda do Programa Abrindo Espaços, que consiste na abertura de escolas nos finais de semana para atividades artísticas, culturais e desportivas.

Se o futuro que queremos, e não há dúvidas quanto a isso, é um País justo socialmente, equilibrado economicamente e desenvolvido, precisamos todos – família, escola, governos e sociedade civil – apoiar os jovens de hoje. Investir em educação, saúde e assistência às crianças e aos adolescentes de agora certamente resultará em lucros sociais e econômicos para os que vivem hoje e para as gerações futuras.

(*) Jorge Werthein é doutor em Educação pela Universidade de Stanford (EUA) e Representante da UNESCO no Brasil (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).