Edição 39 - Aula-Passeio Revela o Rio de Janeiro

Por Jaciara Moreira

Rostos pintados, cocar, colares de contas, arco e flecha na mão. Os alunos da Creche Municipal Ernani do Amaral Peixoto, em São João de Meriti, Baixada Fluminense, viveram literalmente, no dia 19 de abril, Um Dia de Índio.Os hábitos, costumes e brincadeiras mais comuns das tribos foram relembrados na escola com atividades que mesclaram noções de cidadania e amor à Pátria. “O objetivo é despertar o patriotismo desde cedo, afirma Eliana Musse, orientadora pedagógica da unidade”.

A creche, inaugurada há cinco anos, sempre trabalhou com projetos e desde o ano passado vem desenvolvendo temas voltados para a formação da cidadania. Em fevereiro, a temática foi Folia e Alegria – uma homenagem ao centenário do compositor Lamartine Babo, autor de marchinhas de carnaval e da maioria dos hinos dos times de futebol. Na ocasião, todas as crianças usaram camisas do time de coração e participaram de recreação ao som das canções de Lamartine.

Em março, a equipe pedagógica pegou carona nas histórias de Monteiro Lobato e usou os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo para falar de cidadania às crianças. “Criamos histórias envolvendo a turma do Sítio”, lembra a orientadora. Já em abril, mês em que também se comemora o Descobrimento do Brasil (dia 22), as professoras decidiram homenagear a Terra. E o Dia do Índio marcou o início das comemorações.

“Vivendo um dia de índio, rendemos nossa homenagem ao planeta Terra porque os índios cuidavam muito da terra e sempre passaram bons exemplos de relação com a natureza”, destaca Eliana.

De acordo com a coordenadora pedagógica, o primeiro passo para se desenvolver a proposta pedagógica Um Dia de Índio foi criar salas temáticas, com atividades específicas para cada faixa etária. A sala da turma de 2 anos, por exemplo, virou uma oficina de instrumentos musicais (todos preparados com material reciclado, como jornais, papelão e PET).

O trabalhou começou cedo: às 9h as crianças já estavam com a mão na massa produzindo, além dos instrumentos musicais, vestes, pinturas, utensílios e artesanato como faziam os pequenos indígenas. Embora fossem divididas por idade, as salas temáticas foram visitadas por todos os 91 alunos, que também tiveram a oportunidade de conhecer alguns alimentos típicos da culinária indígena.

A professora Jocirema de Aquino Medeiros, responsável por uma das turmas de alunos de 4 anos, criou um espaço para plantação e levou várias mudas de mandioca para serem plantadas pelas crianças. E, naquele dia especial, o lanche não poderia fugir à regra. Na hora da merenda: mandioca, batata doce, pipoca e guaraná.

O período da tarde foi reservado para a recreação. À moda indígena, é claro. Jogos e brincadeiras mostrando os hábitos e costumes das tribos foram organizados pelas professoras para a segunda parte do dia. Os alunos de 2 anos participaram da pesca com lança; as turmas de crianças com 3 anos brincaram de pescaria do peixe pacu e de cabo-de-guerra, enquanto os colegas de 4 anos se divertiam com a caçada e a pescaria de anzol.

“Nós trabalhamos o aprendizado pelo lúdico, o que é muito importante nessa faixa de dois a quatro anos. São brincadeiras, sim, mas todas com conteúdo pedagógico”, explica Eliana Musse.

Respeito à Natureza

O Dia de Índio dos alunos da Creche Municipal Ernani do Amaral Peixoto terminou com a plantação de uma árvore no quintal da escola. Um ato que, segundo as professoras, serviu para lembrar a relação dos índios com a natureza e estimular as crianças a cuidar e a preservar o meio ambiente.

“Eles (os alunos) irão cuidar da árvore regularmente. Cada mês, uma turma será responsável pela manutenção e, em todo dia 19 de abril, será comemorado o aniversário da árvore. Isso é cidadania e é essa a lição que queremos passar com o projeto. Todas as brincadeiras e todas as atividades têm o objetivo de promover a cidadania e estimular ações pela Paz”, acrescenta a orientadora.

A bibliografia de Cândido Mariano da Silva Rondon – um dos grandes defensores dos direitos e da cultura dos índios – e textos retratando o dia-a-dia das comunidades indígenas, os rituais, as brincadeiras, as histórias de índio, além da política indigenista fizeram parte das pesquisas que culminou com uma grande festa na “tribo” da Creche Ernani do Amaral Peixoto.

Creche Municipal Ernani do Amaral Peixoto
Tel.: (21) 2755-0033

DIA DO ÍNDIO, 19 DE ABRIL, mas por quê?  

Bom, tudo começou durante a realização do I Congresso Indigenista Interamericano no México, em 1940, quando os representantes de diversos países americanos convidaram os índios, tema central do congresso, para o evento. Entretanto, a comissão encarregada de fazer o convite encontrou resistência por parte dos índios que, habituados a perseguições e traições, se mantinham afastados das reuniões, de nada valendo os esclarecimentos e tentativas dos congressistas.

Dias depois, convencidos da importância do congresso na luta pela garantia de seus direitos, os índios compareceram. Essa data, por sua importância na história do indigenismo das Américas, foi dedicada à comemoração do Dia do Índio. A partir de então, 19 de abril passou a ser consagrado ao índio em todo o continente americano.

No Brasil, o então presidente Getúlio Vargas, atendendo aos apelos do Marechal Rondon, assinou o Decreto n.º 5.540, de 02/06/1943, determinando que, a exemplo dos demais países americanos, o Brasil comemorasse o Dia do Índio em 19 de abril.